.

.

.

.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

ESTRAGANDO O PERSONAGEM

No tempo em que fumar era gostoso e estava na moda. Na época do sol sem filtro solar. Na era do açucar e gente magra, exatamente nessa período,  eu namorei uma criatura vaginada que eu cognominei de Katiá de France.
O café da manhã de Katiá era vodka pura. Eu era muito jovem e primava pela babaquice extrema de macho debutante. Acho que foi com Katiá que fiz a primeira incursão no mundo dos Chifres. Os chifres enfeitam a hipocrisia desta respeitabilíssima Sociedade.
Katiá não era uma fêmea muito seletiva. Longe de mim afirmar que se tratava de uma vagaba piranha. Afinal eu nunca me esqueço dos intocáveis preceitos do Politicamente Correto. 
Nesse momento da minha epopéia terrestre, acampava-se muito. Acampei demais. O que é a programação química e cultural para um garoto ingênuo! Aliás, eu sou do tempo da ingenuidade. Que saudades de pessoas ingênuas. Que saudades de mim. Que saudades dos diamantes brutos.

Foi num desses acampamentos que senti os meus chifres espicharem. Tive uma dramática altercação com Katiá e embora sofrendo muito acabei por deixá-la. E ela não me parecia nem um pouco desconsolada.
Nunca mais vi Katiá de France. Longos e vagarosos anos se passaram e nem sinal de Katiá. Até que um dia através de Filipão tive acesso ao e-mail de Katiá. Enviei-lhe um e-mail e trocamos telefones. Falei por telefone com ela e sua mãe e descobri atónito que Katiá agora era Evangélica e era quase minha vizinha. Pelo hímen sagrado da virgem Maria, pelo prepúcio não menos sagrado do salvador! Eu tinha namorado uma Pré- Evangélica.
Nunca tivemos muito a ver excetuando a genitália, agora então absolutamente nada a ver. Os telefonemas rarearam e deixamos de nos falar.
O tempo continuou arrogante e altivo o seu percurso.  Não conheço ninguém mais metido à besta que o tempo. Não dá bola pra ninguém e vai passando.
Certo dia andando pelas cercanias do meu domicílio, quem eu vejo acompanhada de uma  mulher pitoresca, Katiá. Estava na mesma. A vodka conserva.
Abri os braços e exclamei muito entusiasmado:
- É ela! É ela!
A mulher que estava do lado dela muito coberta para o calor que fazia, olhou-me com ar inquiridor e surpreso. Katiá de France apressou-se em dizer:
- O moço das compras tá lá nos esperando. E continuou a caminhar.
Estava claro que Katiá não queria falar comigo por causa da filhote de Aiatolá que a acompanhava. Fiquei decepcionado. (Mas a decepção é uma decrépita e engelhada conhecida. Trato a decepção com a mais descarada intimidade.) 
Estava tudo muito claro para mim. Afinal, eu era um emissário dos anos oitenta e trazia na bagagem muitas histórias de bebedeiras e farras para contar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário


Não diga besteira