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sábado, 22 de fevereiro de 2014

ALERGIAS SINÁPTICAS

O CULTO DA ALIENAÇÃO 
Nunca compreendi muito bem essa felicidade que é fruto da fuga de si mesmo. Sempre entendi felicidade como encontro. O people se diz feliz porque foi p'ra Paris, porque o time ganhou, porque a filha casou, porque o neto nasceu, porque o aumento chegou, porque a novela começou.... É tudo fora do indivíduo. Tudo acontece no exterior. No interior da criatura não acontece nada. Essa felicidade me soa a perdição, aventura e dependência. Esse sentimento para mim está mais próximo da paixão, da exaltação, da alegria e do entusiasmo. A felicidade é um sentimento muito mais determinado, autônomo e calmo.
É mais fácil dizer o que a felicidade não é. Felicidade não é alienação, felicidade não é delírio. Já surpreendi certa feita, um ser em pleno delírio gritando:- Mengo! Mengo! Mengo! Isso é felicidade? Delirar é ser feliz? Não me parece.
Quem foge da realidade ou a fantasia compulsivamente não pode ser feliz. Não acredito que se possa ser feliz através do esquecimento e da negação do que é real. E não vamos nos masturbar muito dizendo que a percepção do real depende de cada um. Sim, depende. Mas há coisas que são insofismáveis. Por exemplo, os políticos brasileiros são corruptos. É óbvio que numa afirmação como esta, falamos da maioria. Se fôssemos falar nominalmente precisaríamos de algumas horas para citar todos. Portanto, há facetas do Real que não dependem de interpretação, avaliação ou filtros pessoais. É o que é. Desmentir o calor que faz agora no Rio de Janeiro, seria uma prova irrefutável de demência grave.
Acho que não se pode chamar de felicidade coisas transitórias que ocorrem fora do indivíduo. O meu conceito de felicidade, passa obrigatoriamente por uma construção pessoal mais consistente. Aliás, nunca vivemos tempos tão avessos à introspecção e às sinapses ou seja, nunca vivemos tempos tão infelizes.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

DO OUTRO LADO DO SERENGUETI

EXERCÍCIO COMPARATIVO

SERENGUETI
O ecossistema Serengueti é uma região na África Oriental, no norte da Tanzânia e sudoeste do Quénia, entre as latitudes 1 S e 3 S e longitudes 34 E e 36 E, cobrindo cerca de 30000 km².

No Serengueti, todos sabem que vigora a lei do mais forte ou do mais apto. Vocês já devem ter visto no Animal Planet ou no Discovery Channel. No Serengueti, a vida é dura. Bobeou, dançou. Do alto da nossa civilização maravilhosa, ficamos chocados ao vermos animais devorando animais sem dó nem piedade. Como é selvagem o Serengueti!
Do outro lado, estamos nós, civilizados, superiores, milagres da criação e cheios de marra. Aqui, não é como no Serengueti, ninguém devora ninguém. Temos um Estado fabuloso que olha por nós, com uma polícia não menos fabulosa que nos dá toda a Segurança. Pagamos vultosos e obscenos impostos para vivermos num oásis de felicidade. Ninguém nos come, só sexualmente, é claro. Que doce deleite!
Reina a fraternidade e a solidariedade. Não existem predadores e muito menos presas. Somos todos irmãos. Tomamos um banho de civilização a cada despertar para sorrirmos de dentes clareados para os lindos dias de sol que nos esperam no horizonte. Não nos comemos, saudamo-nos com bons-dias entusiásticos e cheios de amor.  Do outro lado do Serengueti, não estamos sós. Vivemos sob os auspícios da super-proteção. É inefável, viver deste lado. Primeiro deus nos protege, que lindo! Depois, a família também nos protege, que sublime! E não fica por aí, contamos com a proteção da coesa e bela sociedade humana.
Do outro lado do Serengueti, não há carnificina, apenas umas guerras bobinhas que dizimam milhões de almas. Por aqui, não há grunhidos, temos apenas e tão somente cantores de funk. É indizível, a beleza que nos  farfalha e acaricia os tímpanos.
Não temos inimigos na noite, porque tudo é  às claras com centenas de amigos no  feérico e esplêndido Facebook. Por aqui, não há hienas para nos perturbar o silêncio, somente sambas-enredo para nos levar a um mirífico êxtase. Não estamos ao relento, sujeitos à chuva e ao sol, só temos umas insignificantes enchentes que nos dão direito ao aluguel social. É estupendo!
Por aqui, os filhotes não morrem como no Serengueti porque contamos com o SUS para salvar-lhes a vida. Por aqui, não precisamos caçar, apenas trabalhar dia e noite, suportar todos os assédios morais do chefe, para depois enfrentarmos alegres a fila do Mundial ou do Extra sem ar condicionado.
Enfim, queridos irmãos e irmãs, coitados dos habitantes do Serengueti. Que deus  se apiede dessas Bestas Selvagens, dessa Selva Cruel onde cada um é por si.

TROCANDO DE PROBLEMAS

" Ninguém é digno de inveja e tantos são dignos de lástima."
 Arthur Schopenhauer

Ainda existem pessoas visivelmente perturbadas emocionalmente que acham que os outros não têm problemas. Só elas são vítimas da crueldade do Sistema. Quanta ingenuidade e ilusão! O teatro social, sempre nos induz a erro. De longe e no Facebook, ficamos impressionados com a massacrante felicidade dos outros. Todos sorrindo para as dificuldades e festejando tudo e mais alguma coisa. Diante de tamanho êxtase, poderíamos até cogitar em trocar de problemas. Nós enterrados em problemas até o pescoço e os Feicebuquistas inveterados numa naice.
Ao invés de acalentar os problemas que têm, as pessoas os negam, os mascaram, os escondem e por isso trapaceiam no ato de existir e viver. Convivi anos a fio com gente muito trapaceira. Acabou. Sou um homem cheio de ex-amigos. Os sinceros ficaram para sempre.
Eu não gostaria de ter os problemas do Eduardo Paes. Cada situação tem os seus inevitáveis problemas. Existem os problemas da solidão e os problemas do casamento. Existem os problemas do anonimato e os problemas da celebridade. Quem não tem os problemas da pobreza, tem os problemas da riqueza que não são poucos.
O ser humano em contato com  esta atmosfera gera problemas. Parece que há uma incompatibilidade entre o planeta e a espécie humana. Acho que estamos no lugar errado. Este planeta não deveria ser para nós. Houve algum erro cósmico-metafísico. O planeta é mais apropriado para animais selvagens do Serengeti.
Como estratégia existencial, acho muito mais adequado fazer as pazes com a própria angústia do que elocubrar e achar que há seres humanos sem angústia. A inveja é o sentimento dos idiotas. Só quem é muito idiota pode nutrir o sentimento da inveja. O idiota não consegue perceber que outro mente e finge o tempo quase todo. Fomos todos treinados para isso através do que chamam de educação. Não somos inteiramente sinceros com ninguém, por vezes nem conosco.
Então é isso. Eu devo a minha felicidade e alegria atuais a todos os problemas que tive que enfrentar e superar. Vamos parar de querer achar chifre na cabeça de cavalo ou cabelo em casca de ovo. Estou ficando sem paciência para o delírio coletivo.
Será que esta frase é dele?

A ESCALA DAS CONCESSÕES II

O EPÍLOGO
Muitas concessões não significam nunca, mais afeto e mais amor. Muitas concessões significam menos ódio, menos raiva, menos indiferença e quiça muita ingratidão. Os cientistas falam em resquícios de um cérebro reptiliano para explicar as incongruências estúpidas e malsãs do comportamento humano.
Quanto mais você concede mais o outro desenvolve e aprimora a tendência cruel e imbecil de achar que você um Babaca. Pobre gente ordinária!
Para impor algum respeito aos excluídos do Serengeti, você é obrigado a doar menos. Você tem que quantificar e contabilizar as suas concessões ao outro. Temos que dosar o que podemos oferecer. É lamentável que as pessoas não consigam mais entender o abismo que existe entre doação e babaquice. 
Concluo que para sermos muito respeitados(e na realidade não se trata de respeito, mas de temor) temos que nos amesquinhar cada vez mais e dar aos outros os restos de nós mesmos, os despojos dos nossos seres, as secreções das nossas personalidades, as migalhas dormidas e escuras dos nossos espíritos exuberantes. E é com isto que todos se satisfazem e ainda têm o descalabro de chamar isto de afeto e de amor.
O amor é muito decantado porque quase ninguém o dá. Quem tem coragem de se desarmar primeiro? Se eu me desarmar primeiro é quase certo que serei emocionalmente assassinado pelos cérebros reptilianos dos outros.
Só os que pairam acima da podridão humana podem eventualmente se desarmar.
"Sede como os pássaros que, ao pousarem um instante sobre ramos muito leves, sentem-nos ceder, mas cantam! Eles sabem que possuem asas."
Victor Hugo

AS PROEZAS DO AMOR QUÍMICO

O AMOR SECRETADO

O amor é um sentimento possível, bastante improvável e o mais nobre de que a nossa espécie é capaz. Tendo em vista a nobreza desse sentimento sublime, temos que ser mais exigentes e ter mais respeito por esse sentimento. O amor é a palavra mais repetida pelos carentes de vocabulário. Tudo ou quase tudo responde por esse nome. O amor é o sentimento mais vilipendiado e confundido de que se tem notícia. Fica bem falar de amor. É socialmente correto falar de amor. E o amor, no final das contas é o maior desconhecido. Vide a realidade que nos cerca, nos sufoca e empobrece.
Homens e mulheres enchem-me a santa paciência forçando  a barra e  etiquetando qualquer intumescimento de amor. Será que não se dão conta da armadilha hormonal? O tesão faz maravilhas e engana os de baixa sensibilidade. Será que podemos chamar de amor as carícias que os elefantes trocam antes de acasalar? O tesão tem uma longa estrada. O percurso é sinuoso, nuanceado e cheio de sensações boas e enganadoras. O tesão não culmina imediatamente no ato sexual. Há todo um enredo patrocinado pela química dos hormônios(neste sentido as mulheres têm a química perfeita para nutrir e enfeitar esse enredo) que leva as pessoas a um perigoso estado de confusão mental. Será que existe expressão mais idiota do que "fazer amor"?
Para aperfeiçoar o engano sentimental, ainda temos a insidiosa indústria do amor romântico.(Por aceitarem facilmente o engodo, também acho que  todos românticos tem mais é que se foder.) São os que cantam o "amor" em verso e prosa e perturbam a minha serenidade com palavras viciadas, vazias, repetidas e que não me convencem nem um pouco. Até parece que estou de má vontade com os que dizem e julgam que se amam. Mas não é nada disso.
Façamos uma experiência "jugularizante". Emasculem-se os homens e histerectomizem-se as mulheres para ver se rola esse amor fantástico que anda por aí. Sem testículos e sem ovários não rola nada. Absolutamente nada parecido com esse arremedo de amor que fere os nossos tímpanos, substima a nossa inteligência e humilha os nossos corações.
Só acredito em amor não químico. Creio no poder dessa sensação suave e inexplicável que nos invade quando evocamos o nome ou a memória de quem amamos realmente. Neste caso, não é produzido nenhum hormônio para nos confundir o discernimento. É um bem querer sem limites que se multiplica como o universo, que te enche o peito de enigmas bons e que não quer receber nada, apenas ser dádiva e doação.
Qualquer coisa que eu sinta abaixo do que eu sinto pelo meu pai, é sub-sentimento e não merece o nome de amor. E tenho dito.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

SABEDORIA A POSTERIORI

CONSELHOS À LA CARTE 
"Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo e isso é tudo"
Hermann Hesse
Passei a minha adolescência lendo Hermann Hesse  e é com prazer que o relembro no pensamento acima. Às vezes o que parece óbvio ululante escapa à nossa compreensão em função da força e do poder da maioria estúpida. A maioria massacra o nosso intelecto e nos paralisa emocionalmente ao ponto de não conseguirmos incorporar o mais simples e o mais evidente.
É claro que os conselhos são os discursos mais inúteis que conheço. Ninguém absolutamente ninguém aprende com as experiências dos outros simplesmente porque as experiências nunca são iguais e os espíritos são únicos. As experiências podem ser similares, mas não são iguais e os espíritos nunca se equivalem.
Os conselhos dos pais são ridículos pela disparidade de valores de geração para geração. Os filhos não entendem os pais e vice versa porque as décadas são distintas. Os valores sempre se alteram porque como o ser humano não consegue ser feliz nem a pau e por isso, vive mudando de valores e perspectivas. E só muda o que não é nem um pouco essencial. No máximo trocam a epiderme da cultura. É preciso cavar muito mais fundo para sermos felizes. Já perceberam que sou aristotélico desde criancinha, felicidade acima de qualquer outra coisa.
A sabedoria depende da capacidade de aprender com as experiências. Existem pessoas que não aprendem nada, são os eternos bebês. E não é uma questão de idade cronológica. Conheço muitos velhos completamente babacas. Entretanto, conheço pessoas de 40 ou 50 anos que já aprenderam alguma coisa, mas não o bastante.
Mas o pior, é o conselheiro a posteriori. Tenho ganas de mandá-los todos para o Paredon. Depois de consumado o ato, eles acertam na Mega-Sena. Depois de ocorrido o fato, todo mundo sabe o o que deveria ter sido feito. O difícil é raciocinar tão bem assim no calor das circunstâncias. Os sábios do futuro do pretérito, deveriam ser banidos da face da terra. Não suporto mais, você deveria, você poderia, você teria......Chega de sabedoria fácil, oportuna, pretensiosa e inócua.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

AS IMPROVÁVEIS ALMAS GÊMEAS

NOVAS PERSPECTIVAS

Quantos já sofreram, quantos já enlouqueceram e quantos já se mataram por causa deste Super Mito grego que sobreviveu ao mofo e à poeira dos milênios. Tudo é possível, mas a improbabilidade deste mito beira as raias do delírio incoercível.
Como podem ser gêmeas, almas que sofrem programações químicas e culturais totalmente díspares. É um disparate irresponsável. Aliás, a grande queixa de homens e mulheres é que eles não se reconhecem. Os homens são treinados através da educação para fazer coisas que não são facultadas às mulheres e vice-versa. As autorizações culturais ainda hoje são muito diferenciadas.
Concordo que é uma alucinação que contem a sua dose indisputável de beleza. Mas não passa disso; uma linda viagem na maionese Hellmann's com limão, a verdadeira. Só a propensão para uma fé irracional e inabalável em gnomos, pode nos fazer crer em mais  este ridículo conto de fadas.
A sociedade em que vivemos é a maior fabricante, incentivadora e propagandista de contos de fadas. Diante da realidade inclemente, a sociedade pretende refugiar todos e todas nos devaneios perigosíssimos dos contos de fadas.
Almas gêmeas em se tratando de homens e mulheres, é como compatibilizar água com óleo de peróba. O estranhamento de homens e mulheres se revela no casamento. Não no início, quando ainda há muita tesão para gastar, mas depois. Todos descobrem com o decorrer do casamento que tirando o sexo(testosterona e dopamina), não existem seres mais incompatíveis. Nada a ver. Os mitos estão aí mesmo para forçar num ato de heroísmo emocional, homens e mulheres a ficarem juntos durante muitos anos. É o poder hercúleo do Mito. Mais poderoso que um mito, só a verdade nua e crua.
Acredito no entanto, que existam almas gêmeas entre pessoas do mesmo sexo. Um homem, alma gêmea de outro homem e uma mulher alma gêmea de outra mulher. Isto sim é muito possível e extremamente provável. E por favor, tenhamos a dignidade de abstrair a sexualidade desta identidade lógica, fácil e de bom alvitre. São as intercorrências de caráter sexual que permeiam quase tudo o que vivemos no planeta, que impedem o encontro auspicioso de duas almas gêmeas do mesmo sexo. Por favor, esqueçam por alguns milésimos de segundo essa obsessão civilizatória chamada Sexo. Os estereótipos sexuais bloqueiam a fluidez dos encontros humanos superiores, eivados de candura, júbilo e regozijo.
Muitos homens e mulheres pressentem  a descoberta de uma alma gêmea do mesmo sexo e a descartam imediatamente para que não falem em homossexualidade. É triste e deplorável que tanta gente se prive dessa experiência sublime e maravilhosa por causa do esguicho selvagem e furioso  dos hormônios.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

THE DAY AFTER

O POLITICAMENTE CORRETO E O FUTURO

Somos uma programação química e cultural. No seio da programação cultural existe uma programação linguística. Embora conte com a minha criatividade e capacidade de evasão cultural, eu fui programado para dizer determinadas frases e palavras.
Agora, nesta altura do campeonato, depois de cinco décadas de permanência ininterrupta no manicômio da galáxia vêm me dizer que eu tenho que me reprogramar linguisticamente. Simplesmente não dá. O politicamente correto é uma reprogramação linguística arbitrária e estúpida na medida em que as pessoas da minha geração não conseguem alterar do dia pra noite o léxico original.
Existem milhões de processos abertos por causa do politicamente correto. Tudo pode ser ofensivo. De repente, todo mundo ficou muito sensível e susceptível e chato.
Querem acabar com a espontaneidade, com a autenticidade e transformar o bando num grupo de hipócritas com respaldo institucional.
Já escrevi sobre este assunto.Volto à carga porque o nível de imbecilidade, fantasia e representação está chegando a um extremo impensável.
Quando você diz o que você não sente, é bonito. Quando você diz o que sente e pensa é feio. Que negócio é esse? Querem que apenas palavras e expressões forjem o nossa personalidade? O manicômio da galáxia nunca teve tantos birutas.
A sorte é que tudo isto vai passar. Dentro de uma década vamos morrer de rir dessa gente manchada de tatuagens, cheia de celulares, com óculos esquisitos, com músculos a mais, com orelhas esburacadas, com ferros no rosto, com muita banha ou com muitos ossos, sempre conectada, dizendo o que não sente, falando o que não pensa. 
Tudo é assim. A história da humanidade é completamente cíclica. Esta fase será contestada por outra menos fingida. O futuro do politicamente correto é o palavrão aberto e verdadeiro. O futuro do politicamente correto são os nomes feios e sinceros.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

HOMO BLINDATUS

 AS ALMAS VIRGENS

"Sonho com um mundo aberto até rasgar."
Jean-Paul SARTRE
Existem pessoas muito pudicas em relação às suas almas e completamente despudoradas no que diz respeito à vida sexual. Transam com todos. Têm incontáveis experiências sexuais, conhecem todas as posições, vivem para fornicar, mas no que se refere ao espírito são praticamente virgens. Deram para o mundo inteiro e nunca se deram a ninguém. E eu não estou moralizando, por favor. Estou lamentando apenas.
Nas almas dessas pessoas ninguém penetra. São almas que vivem em segredo, reféns da blindagem que consciente ou inconscientemente criaram para elas próprias. São almas impenetráveis e impenetrantes, o que configura uma uma pobreza irrefutável de espírito. Realizam há décadas o mesmo percurso cerebral, são viciados nas sinapses de sempre. Jamais se envolveram profundamente com ninguém. Jamais tiveram coragem de entregar seus medos, seus fantasmas, suas inseguranças, suas tristezas, o seu afeto, seus fracassos, suas histórias inglórias, suas esperanças vãs, seus projetos imateriais e suas angústias. Têm uma alma obesa e em pânico. Estão presas a grades que elas mesmas edificaram. E assim vivem precariamente.
As almas aprisionadas em cavernas não são dignas de elogios, isso não é pureza d'alma. Pureza d'alma é abrir-se, expor-se, mostrar-se num nível de profundidade que escapa às aparências.
Sempre fui partidário de uma certa promiscuidade anímica. Entrar em contato com várias almas, beneficiar-se dessa experiência pedagógica e redentora e usufruir da beleza imensa que esses contatos proporcionam.
A completude a dois só é possível com intercursos anímicos bilaterais. Quem só penetra orifícios, não  penetra o essencial. Mas assim caminha a humanidade, avança no que vê, mas não dá meio passo em direção ao que sente e pressente. Quase ninguém se aventura na carícia do corpo interior.
Proponho mais obscenidades espirituais. Quanto ao resto, façam o que bem lhes aprouver.  
Homo Blindatus Foditus Est. - O latim é meu.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A ESCALA DAS CONCESSÕES

Pela minha experiência, o número de concessões à sociedade, às instituições e aos indivíduos vai diminuindo com a idade.
Quanto mais você espera dos outros, mais concessões você faz. Quem espera acha ou intui que a redenção está fora de si, que a redenção são os outros e toda a tralha que os cerca. Neste sentido, a esperança é uma merda.  
Quanto mais perdido você está, mais você sobrevaloriza o outro. A recíproca também é verdadeira. Quanto mais você está encontrado, quanto mais em sintonia com você próprio, menos bola você dá aos outros. (Sintonia consigo mesmo não é forçosamente egocentrismo.)
Conceder é tão perigoso que por vezes pode significar a indignidade, a estupidez e a vergonha de passarmos sobre nós próprios. Passar sobre nós é morrer em vida.
"Quando eu me perder, você vai me encontrar. Quando eu me encontrar, você vai me perder."

Em outros termos: Quando você descobrir que dos outros não vem quase nada, você vai se apressar em ser o artífice da sua felicidade. Nestas circunstâncias, você vai conseguir ser feliz de verdade finalmente. E quanto mais feliz você for, mais pessoas não vão gostar de você, mais inimigos você vai fazer. É óbvio. Por não contar mais com os outros e ser feliz às próprias custas, você fará menos concessões aos outros. Fazendo menos concessões, menos querido você será. É assim, feliz e detestado. Que maravilha!
Quanto mais cedo você conseguir descobrir e incorporar esta tese, mais cedo você será feliz. 
P.S.- Os amigos serão os de sempre, os verdadeiros. 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O MITO DA FELICIDADE CONJUGAL

Acho no mínimo curioso que se tente ensinar felicidade. Mea Culpa. Eu por vezes também me surpreendo tentando explicar os mecanismos e os meandros inacessíveis da minha própria felicidade. No meu caso, trata-se de um surto didático pois passo a minha vida tentando fazer com que as pessoas aprendam. E aprender depende muito mais delas do que de mim que sou professor.
Cada história de vida, uma felicidade. Cada impressão digital, uma felicidade ou não. A felicidade, se acontecer se plasma à aura do indivíduo.
Diante do exposto, como podemos admitir e seguir o receituário coletivo e massificado para ser feliz. Segundo o famoso receituário, um dos pré-requisitos básicos é ter uma vida conjugal. Sem vida conjugal, a felicidade não desabrocha. Quanta bobagem!
Felicidade conjugal não é automática. Não é para quem quer, é para quem consegue. Felicidade conjugal exige uma predisposição para partilhar de verdade com espírito de fraternidade. Felicidade conjugal é uma questão de vocação para estar e viver com o outro. Eu, por exemplo, nunca tive a menor vocação matrimonial ou o que quer que o valha. Nunca. Por isso nunca me aventurei nessa empreitada.
Não casou, não teve filhos, é um coitado ou um viado. Não é nada disso, gente preconceituosa e idiota.
Descubra se tem complexo de Superbonder ou síndrome de Durepox. Se tiver, tudo bem. Meta as caras e não só, na vida conjugal. Se por outro lado, você não suportar cola, perseguição, ciúmes, delírio persecutório, instabilidade de humor, cobranças absurdas, diminuição da libido, perda e renovação de sentimentos, a sensação de estar em Bangu 2, a opressão da presença do outro, a disputa pelo poder, os incontáveis mal entendidos, as concessões de mão única, a trepada miraculosa que faz esquecer quase tudo, as chantagens na ordem do dia, a possibilidade nem sempre remota de ter alteradas as conformações planas ou arredondadas da sua testa, a sensação de estar vivendo uma vida que não é a sua, o contato indireto com secreções, excreções e enfermidades, fique quieto, não faça nada. Reflita muito. A vida conjugal pode ser muito promíscua para você que é mais asséptico e não gosta de mau hálito.
Se você acha que vida conjugal é uma coisa previsível e estanque, vá par um mosteiro. O horror  são as grandes expectativas falaciosas que se criam nos espíritos em relação à promessa de felicidade na vida conjugal. Casou, juntou, é feliz. Vida conjugal significa institucionalização do afeto, adequação do sexo à cultura e estratificação de papéis sociais ou seja é muito complicado. 
O pior é que a felicidade conjugal tem cronômetro. Tem uma hora  que acaba. Pode ser mais cedo, pode ser mais tarde, mas acaba. (O sentimento de que a felicidade  nunca vai acabar faz parte da dinâmica e do engodo do mito.) E aí você se separa e sofre de alguma forma, ou se acomoda numa vida conjugal com cara de caveira.
Então é isso. Descubra primeiro qual é a sua. Não pense que ereção e lubrificação vaginal são os melhores ingredientes para a felicidade conjugal. O buraco é muito mais  acima. E não receie o que os outros vão dizer e pensar, em 99% dos casos, trata-se de lixo mental orgânico.
P.S- Por que será que novela faz tanto sucesso? A novela é um gênero pitoresco, viciante e  de muito mau gosto, onde se mostra como as pessoas se ferram na busca da felicidade conjugal. O pessoal adora ver os outros se ferrarem e jura que não está sujeito a essas coisas da Globo. É o pretensioso que se coloca acima da novela e desafia o grande Manoel Carlos. Risos