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sexta-feira, 13 de junho de 2014

FUTEBOL - UMA RELIGIÃO HETERODOXA

O culto à bola não faz parte das teo-dependências clássicas. Nós, animais de bando programados quimicamente para isso, sentimos uma vontade e necessidade incoercíveis de procurar tudo fora de nós. Somos instados a fazer parte de alguma coisa. Temos que ter pátria, família, religião, comunidades, amigos, associações, partido político e time de futebol. Se você não fizer parte de alguns destes núcleos de adesão, ninguém vai te reconhecer. E ao não ser reconhecido pelos outros, você corre o risco de não ser nada para eles. Como é possível alguém ousar existir sem time de futebol? Desgraçadamente, nunca na história do mundo, houve um movimento planetário que incentivasse as pessoas à introspecção. A frivolidade sempre foi a grande avenida por onde quase todos transitam. 
Desde muito cedo, somos levados a pensar erroneamente que tudo que pode nos proporcionar prazer, satisfação e bem-estar está fora de nós.  A vida se resume numa procura desenfreada e irracional por coisas exteriores. E a grande maioria, nesse empreendimento imitatório  só dá com os burros n'água.
O futebol se insere nessa busca insana e infrutífera. No futebol como nas religiões há adoração e idolatria. O ser humano precisa de ídolos porque não sabe que ele mesmo é o seu maior ídolo. Há uma tendência à mitomania e à mitificação. O deus do futebol é o time. Para completá-lo e dar significação a essa entidade ambígua, temos os jogadores de futebol, uma espécie de Santos ou Orixás que fazem milagres com os pés. Como todas as buscas imprudentes que fazemos fora de nós mesmos, a busca pela vitória do time campeão, também pode nos levar à alienação.
Os "Bolicistas" deliram nos campeonatos e atingem o máximo do delírio na vitória do campeão. Sem ter dado um único toque na bola, o evangélico da religião-futebol, também se considera campeão e ensurdece o mundo com o seu grito histérico. 
A prova irrefutável de que os "Bolicistas" constituem uma seita numerosa ou mesmo uma religião é que quem não tiver se convertido ao Bolicismo não entende nada do que eles dizem. Como nas religiões, têm expressões que só os iniciados podem compreender. São capazes de passar horas intermináveis a recitar mantras que incluem palavras místicas como Pênalti, Impedido, Escanteio, Zagueiro, Pequena Área, Falta e é claro, a mais sonora e orgástica de todas: GOL. Aliás, a língua do futebol é a mais falada no Brasil. Os homens elegeram o futebol como tema favorito para qualquer ocasião. Haja paciência para aturá-los. É preferível ouvir mulheres falarem das técnicas mirabolantes  para se livrarem das olheiras.
Quando ficam viciados em futebol, ocorre o mesmo que acontece nas religiões, o indivíduo fica irredutível, brutalizado e ainda mais estúpido; é o que responde comumente pelo nome de fanatismo. Até o povo na sua proverbial e famosíssima ignorância detecta anomalias no futebol ao dizer por exemplo: -Ele é Flamengo doente.
Como tudo o que vicia, o futebol também é deletério, vide as guerras religiosas da bola que eles chamam de violência das torcidas organizadas. Tirando as drogas, as religiões e a tradição, poucas coisas embrutecem mais que o futebol. O cidadão torna-se monocórdio e só fala de futebol exatamente como os religiosos e  os tóxico-dependentes. O primitivismo do discurso único é o que há de mais insuportável na face da terra.
Várias substâncias endógenas contribuem para a imbecilização. Primeiro nos êxtases do futebol, há uma grande descarga de Dopamina e de Adrenalina, para não falar da testosterona. Podemos combater a heroína e a cocaína com muito mais eficácia do que os vícios fisiológicos pessoais. Há gente absolutamente viciada em Dopamina, em endorfinas, em vasopressina, em testosterona, etc. Não há tratamento para tais dependências.
Deveríamos prestar mais atenção às  substâncias que nós mesmos produzimos e que podem nos levar à "fissura". Não precisamos de drogas externas; já existe um prévio tráfico interno e orgânico de drogas.
Em suma, não creio que a loucura quase mística do futebol possa levar alguém à felicidade. O futebol é mais uma invenção humana para escapar transitoriamente do tédio e da angústia. Existem formas mais eficientes de lidar com esses corolários da condição humana. Ao invés de tentar sempre fugir da sua angústia, adote-a cordialmente.

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