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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

OS FALSOS ENCONTROS

Os desencontros começaram com a Androginia doida e mitológica de Aristófanes. Estaríamos então fadados a procurar a nossa metade em outro ser. Esse Aristófanes era muito babaca. Como posso encontrar parte de mim noutra pessoa? Se sinto incompletude, tenho que procurar o que me falta em mim mesmo. Só eu posso conter a outra parte de mim. Claro que existem incompletudes de caráter hormonal e sexual. Isso é tesão. Não estou falando disso, estou tentando falar de encontro consigo próprio, autoconhecimento, construção do poder pessoal e de felicidade. Estou tentando falar de coisas mais permanentes e concretas que um orgasminho fugidio.
A história do ser humano independente da cultura, é uma busca incessante por alguma coisa. As pessoas nem sabem o que buscam, mas eu tenho certeza absoluta que procuram a si próprias. Procuram-se no amor romântico, nas religiões, nos amigos, no futebol, no poder, no trabalho, na procriação e em todos os demais atos exercidos no exterior de si mesmas.
O que é que adianta você dizer que encontrou Jesus? (Acho que Jesus já deve estar de saco cheio de ser encontrado por tanta gente, quando de fato ele ainda não encontrou ninguém.) Como você pode achar que achou alguma coisa ao  se deparar de forma abstrata e onírica com um ser estranho e mítico que viveu há mais de dois mil anos em lugar igualmente esquisito? Será que Jesus é a parte que faltava em você? Impossível. O que é que Jesus tem a ver verdadeiramente com o seu ser, com a sua história, com a sua intimidade, com a sua alma? Nunca entendi isso como encontro pessoal. Sempre vi esses encontros pseudo-espirituais como muletas confortáveis para se conseguir viver um pouco melhor. E quem fala de Jesus, também pode falar dos seus concorrentes, Buda, Maomé, Jeová, etc.
O trajeto para dentro de si mesmo é um trajeto muito alardeado. Todo mundo fala disso. As pessoas se empinam e alteram o tom de voz para falar no quão precioso é o que está dentro de nós, mas quase ninguém se dispõe de fato a fazer esse percurso. Pelo contrário, todos os movimentos humanos são para fora. Parece que tudo está fora. Realmente, tudo está fora menos você. Você está dentro. Não subestime a sua vida interior. Não jogue fora todas as coisas maravilhosas que você também pode se oferecer. Fora de você, só existe decepção, infortúnio e muitos problemas para resolver. Problemas que na sua grande maioria, foram criados pela sociedade em que você nasceu para estragar os seus belos dias no planeta lindo e azul.
Se você acha que não é bem assim, continue  se procurando nos outros e no mundo exterior. Tenho certeza que você não vai se encontrar. Em contrapartida, vai encontrar muito divertimento, muita futilidade, muito teatralidade, muito espetáculo inútil, muito conflito, muito maluco insano, muitos mercadores de ilusões, muitos mal-entendidos, muita cerveja e uma maneira formidável e única de matar o seu valioso tempo. E olha que eu não sou Guru.

Um comentário:


Não diga besteira