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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A ANOREXIA DOS SONHOS

Hoje, os sonhos morrem à míngua, morrem de fome. Poucos têm a comida dos sonhos. Nos nossos dias, os sonhos comem ração de cachorro. Os sonhos grandiosos, estão reduzidos ao sonho de consumo. Sonhar em consumir é o único sonho possível no momento. Malditos sejam os matadores de sonhos.
Sonhar com o carro preto do ano ano é o que ocupa as mentes dos meus contemporâneos. (E eu disse preto, acho que deveria ter dito carro afro-descendente.) Ninguém mais quer mudar o mundo. O mundo está maravilhoso do jeito que está. Não é mesmo?
Mas mudar o mundo é impossível. Talvez. Mas para isso é que existe o sonho, para sonhar com coisas aparentemente impossíveis. Se você detesta  as coisas que têm a cara do impossível, mude o seu condomínio, mude o seu local de trabalho, mude a arrogância do seu banco, mude Brasília, mude o abuso obsceno de todas as empresas de serviços que existem no Brasil, mude a sua rua ou a sua avenida. Aproveite o embalo e o ensejo e mude-se; mude-se a si mesmo.
Estão todos derrotados. Acabou o sonho ideológico e o que resta é a desgraça de louvar o capitalismo como primoroso e inquestionável sistema.
No cemitério dos sonhos, cheira mal. Cheira a conformismo e resignação. Cheira a covardia, fastio, acomodação, preguiça e indignidade. 
Os sonhos morreram e morrerão com todos os que ainda tinham capacidade de sonhar. Tenho a impressão de que na genética das novas gerações já vem colada uma faixa em que se lê que é proibido sonhar.
Chamar esses devaneios do cotidiano de sonhos é desdenhar e cuspir no poder transformador do sonho. As pessoas chamam de sonho àquilo que mantem o Status Quo e preserva toda a injustiça e estupidez que nos cerca.
Para quem não sonha mais, resta o desencanto. E o desencanto se revela na ausência de valores, na falta de limites e no desrespeito. 
Os sonhos morreram embrulhados no respeito. Poucos conhecem o sentimento do respeito. Por isso proliferam as câmeras de vigilância porque é a única coisa  que ainda é respeitada.
Estou de luto, mas visto vermelho. Tive que comparecer ao longo funeral dos sonhos e do respeito. Mas foram os sonhos e o respeito dos outros que desapareceram  em covas profundas, os meus sonhos e o meu respeito continuam vivos e saudáveis para o que der e vier. 

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