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domingo, 29 de março de 2015

INDIGNADO E CALADO

OS BRANDOS COSTUMES
Herdamos muita coisa boa dos portugueses. Os brasileiros quase nunca conseguem ver isso. No Brasil pratica-se um preconceito criminoso contra os portugueses. Faz parte da crise nacional. Os brasileiros gostariam de ter sido colonizados por qualquer outro pais menos por Portugal. O menosprezo e o asco por Portugal e pelos portugueses no Brasil, deveria ser punido na forma da lei. Quem é português no Brasil sabe perfeitamente do que eu estou falando. Cadê o Ministério Público?
Entretanto, somos herdeiros infelizes dos "brandos costumes" que têm a sua origem na terrinha.( Os espanhóis e seus derivados não têm esta herança maldita e maligna.) Trata-se do seguinte: você pode ser sodomizado em público (e eu não ousei usar aqui a linguagem adequada para este caso sob pena de ferir a hipocrisia reinante) mas você não poderá jamais elevar o seu tom de voz para manifestar a sua indignação e revolta, sob pena de passar de vítima a algoz. Isto é inominável!
Pouco importa se as entranhas da sua alma, da sua razão e da sua dignidade estão sendo dilaceradas. Você tem que permanecer quieto, calado, bem educado, sorridente e sempre cordial. Esta é a forma mais sutil de controle social já elaborada.
Depois dizem que o câncer é uma doença idiopática. (de causa desconhecida.)

sábado, 28 de março de 2015

O KAMIKAZE PÓS-MODERNO

Tenho verdadeiro respeito pelos suicidas. Querer viver é tão respeitável quanto não querer viver. Nem sempre o suicídio é um ato tresloucado e absurdo. Por vezes, a vida que já não tem sentido, fica insustentável para algumas pessoas. Acho que o indivíduo tem o direito de encerrar a própria vida.
O suicídio vem sendo muito usado para defender os interesses do pessoal do Maomé; um horror com requintes de psicopatia religiosa. Já conhecemos estupefatos os novos kamikazes do onze de setembro; o suicídio a serviço de deus. Aliás, esse pessoal do Maomé, pisa na bola legal. E de tanto convivermos com a loucura do fanatismo religioso, já estamos anestesiados e exalamos um gigantesco bocejo de indiferença.
Agora, esse alemão que assassinou 149 pessoas, inaugura uma nova forma de homicídio inédito e inusitado. Trata-se do suicida mais canalha de que se tem notícia, o chamado deprimido filho da puta. A propósito, nada apaga a filhadaputice do caráter de determinados seres humanos, nem a morte. Estou convencido de que quando o cara não tem valores, pode estar doente, debilitado, canceroso que a filhadaputice não o abandona jamais. Há uma espécie de filhadaputice que tem um gene específico no DNA. Creio piamente no mau caratismo genético.
Pela idade do energúmeno, ele faz parte da geração Y, uma geração cuja educação se baseou numa completa frouxidão de valores éticos e morais. Evidentemente que nem todos os que pertencem à geração Y são deste modo. Parido num mundo em que impera o show do eu e assaltado pelos paroxismos do narcisismo globalizado, o babaca alemão, fez do seu suicídio um espetáculo horripilante, degradante e sem precedentes. Estamos diante de um kamikaze heterodoxo cuja única causa que defendia era o seu patológico ego de merda. É o egocentrismo exponencial que chega às raias da hiper-monstruosidade e redunda num ato gratuito e odioso causador de grande sofrimento.
O deprimidinho do cacete que brigou com a namoradinha, resolveu matar 149 inocentes. E tudo isto sob os auspício da negligente Lufthansa. Para oferecer passagens mais baratas, diminuiu o nível de exigências em relação a pilotos e copilotos e mais uma vez por causa do maldito dinheiro, o único grande valor que nos restou, a Lufthansa patrocinou uma chacina. 
A carência afetiva é um dos maiores problemas da espécie. Neste blog sempre falei da construção de um poder pessoal que possa minimamente nos preservar da influência nefasta do grupo. Ando pregando no deserto, mas o deserto é o meu habitat natural por opção.
Todos esses babacas que vemos por aí se movimentando com agressividade, violência, cagando regra, criando encrenca e se exibindo o tempo todo, são grandes carentes afetivos. Os carentes afetivos necessitam imperiosamente impressionar o grupo ou alguns elementos do grupo, com sofreguidão e loucura. Mas o que eles precisam mesmo é de muitos beijinhos e  muitos abraços apertados, coisa que ninguém nunca lhes deu.
Tenho muita pena dessa gente que é capaz de tudo, até de morrer e matar, só para chamar a nossa atenção.

quinta-feira, 26 de março de 2015

O EVANGELHO SEGUNDO O CAPITALISMO

 A INDÚSTRIA DO DESESPERO
"O homem feliz não reza." 
Por onde anda o Ministério Público? Deve estar muito ocupado com a gatunagem que assola o país. Talvez por isso os vendedores de milagres ainda não estejam na cadeia. O charlatanismo é praticado a céu aberto e ninguém é indiciado.
No Brasil o charlatanismo é um tipo criminal, assim consagrado pelo artigo 283 do Código Penal Brasileiro, tratando a matéria no capítulo dos Crimes contra a incolumidade pública e não naquele referente às fraudes.
Pela legislação brasileira o charlatanismo é conduta de "Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível". Na exegese do artigo, tem-se a prática como o objetivo doloso - onde há a intenção clara de praticar-se o delito. Inculcar tem o sentido de fazer-se de bom, insinuante; anunciar pode ser feito tanto nos meios de divulgação escritos e verbais, mesmo um simples pregão; secreto quer dizer que os princípios contidos no mecanismo de cura não são explicitados, tal como preconizam os organismos regulamentadores mundiais.
Nota-se que o efeito "cura" não importa: quer a vítima tenha ou não se curado, o charlatão continua incurso no tipo criminal.
O que as igrejas evangélicas praticam no Brasil, não é charlatanismo? Curar câncer, aids, pneumonia dupla, prisão de ventre e qualquer outra doença, com água mineral Minalba, não é charlatanismo? Como se chama isso, então?
É uma ignomínia valer- se do desespero de milhões de pessoas sofridas para ganhar dinheiro. Todos sabem que no desespero não há racionalidade nem bom senso. O desesperado à beira da morte agarra-se instintivamente a qualquer coisa, até ao bispo Macedo para não perecer. O bispo Macedo é a prova inconteste que este planeta é mesmo uma merda. É ele que faz muito sucesso e tem muito dinheiro. A sociedade premia os fora da lei.
Esta prática é uma das maiores excrescências do capitalismo; locupletar-se às custas do desespero alheio. E o pior é que esta conduta hedionda tem o apoio das instituições. Com certeza a bancada evangélica em Brasília impede qualquer ação contra esses criminosos espirituais.
Fico por aqui fechado na minha indignação solitária e morrendo de raiva por não poder mudar o mundo. 

OS BOTÕES FALANTES

 OS ESCRAVOS DO WINDOWS
Lembro-me das roupas da minha infância e das fileiras de botões. Revejo o mundo de então e não reconheço mais este planeta em que fui obrigado a viver. Multiplicaram-se as inovações inúteis. Trocaram seis por meia dúzia e no essencial não saímos do lugar e pioramos.
Na época dos botões, os botões falavam e ouviam; era possível manter longos diálogos consigo próprio. Havia tempo para isso. O abotoar e o desabotoar, era tempo de reflexão. A expressão "cá com os meus botões" é desse tempo.
Neste mundo fast de fecho éclair, não há tempo pra mais nada; só para o delírio da velocidade inútil.
Os escravos do Windows e os filhos bastardos da Microsoft usam o idioma da liberdade e da pretensão para se iludir e para tentar enganar  quem conhece muito bem a linguagem sofisticada dos botões.

segunda-feira, 23 de março de 2015

VOCÊ NÃO É IMPORTANTE

-"Você não é importante!"
Esta frase pronunciada com rispidez e fúria pela filha do protagonista do filme Birdman - A Inesperada Virtude da Ignorância, chamou muito a minha atenção. O ator decadente, personagem de Michael Keaton, sofria e aprofundava a sua insuportável infelicidade ao delirar com a sua importância.
Esta postagem não pretende de modo nenhum deprimir ninguém ou rebaixar a autoestima de quem quer que seja, muito ao contrário. O meu objetivo será sempre o de promover a felicidade. Sei, no entanto, que uso métodos muito pouco ortodoxos para alcançá-la. Mas eu sou a prova irrefutável e inconteste da eficácia dos meus métodos.
No dia maravilhoso e inspirador em que você conseguir descobrir e incorporar a ideia de que você não é importante, terá dado o primeiríssimo passo na longa e íngreme subida da montanha. Há pessoas que nem sabem da existência da montanha. Acham que o mundo é apenas isto que vemos e vivemos aqui em baixo.
Você não é importante mesmo. Se você não é capaz de perceber que quase ninguém nota, percebe, valoriza e reconhece a sua presença, tenho muita pena de você. Você é digno da minha misericórdia. Se você ainda não assimilou que os seus coleguinhas de espécie estão muito ocupados com as suas vidinhas medíocres e que por isso não têm nem tempo, nem condições de enxergar a sua vaga e nebulosa presença, você ainda tem um longo e inóspito percurso de desilusão, desencanto e infelicidade a percorrer.
Você não é importante.
Você foi adestrado para pensar que tem que ser importante para alguém e para os outros e nunca ninguém te disse que a única pessoa que de fato pode reconhecer a importância do teu ser, é você. E é o quanto basta. Quantos fracos idiotas acabam morrendo muito precocemente em busca de reconhecimento e afeto? Quantos são os que fazem qualquer coisa só para ter a sensação de que são amados e estimados? Quantos? Quase todos. Quantos imploram pelo amor dos outros porque não se amam nem um pouquinho? Quantos sacrifícios são feitos, quanto tempo é perdido e quantas energias preciosas são gastas só para ter um sinal de aprovação na cara dos outros? Chega a ser deprimente esta busca da solução existencial através dos outros.
Não estou escrevendo um tratado de egoísmo e mesquinhez, estou te oferecendo óculos de graça. Se você não aceitar a minha oferta, eu entendo. A miopía deve ter alguma grande vantagem oculta. Viver na névoa, além de ser uma preferência mundial, além de estar na moda, deve ser mesmo o maior barato.
E você não é importante.

sexta-feira, 20 de março de 2015

PROFESSOR EXPULSO DE SALA DE AULA

IMERSO NA LOUCURA
REVERSO DA CULTURA


 UMA HISTÓRIA VERÍDICA
O caso que eu vou narrar era perfeitamente previsível. Num mundo em que a educação foi rebaixada à categoria ordinária de mercadoria, num país em que Saúde, Educação e Transportes Públicos se tornaram uma fonte inesgotável de enriquecimento e numa época em que tudo virou produto a ser consumido, inclusive as pessoas, tudo pode acontecer. 
Conheço Luiz Antônio há mais de vinte anos. Trata-se de um professor competentíssimo, honesto e totalmente dedicado àquilo que faz. Tem mais de trinta anos de carreira. Conhece como poucos o seu ofício. Luiz é polêmico e gosta de polêmica. Tem uma vasta cultura geral por isso pode e deve ser polêmico. E não foi ele que inventou a polêmica. A polêmica brota espontaneamente no solo fértil de quem tem espírito crítico. A crítica não frutifica na aura de espíritos miseráveis. Vivemos num deserto de consciências. Hoje, a reflexão está catalogada como chata e pornográfica por alguns mecanismos de pesquisa e pela mentalidade vigente. Estimular a reflexão, questionar e tentar desenvolver a visão crítica é uma ofensa gravíssima para gente completamente alienada e estúpida. A ignorância e a imbecilidade são patrocinadas pelo Sistema com propaganda diária, massiva e exaustiva. Os governos não investem em educação, humilham os professores com salários aviltantes e isso não é nem um pouco por acaso; é absolutamente intencional.
Luiz Antônio é um abridor de olhos. Sempre foi assim. Sabe que da polêmica nasce a luz. E também sabe que são muito poucos os que gostam de luz neste planeta de trevas. Luiz Antônio abomina a Idade Média porque sabe que ela nunca deixou de existir. Afirma categoricamente que vivemos uma nova etapa do obscurantismo: a escuridão do politicamente correto, do estado islâmico, das câmeras de vigilância, do workaholicismo, do facebook e do smartfone. Só mudaram e se sofisticaram as formas de controle e de tortura. Por vezes, acho-o exagerado. 
Sempre me disse com muita convicção que o terceiro milênio era o período mais obscuro de que se tem notícia para quem pensa e faz sinapses com regularidade. Detesta gente sentada sobre a própria vida, cochilando, fingindo que vive e soltando flatulências. Não suporta mais esbarrar com os personagens do "Ensaio sobre a cegueira."
Tenho muita coisa a dizer sobre Luiz. Mas vamos aos fatos. Certo dia, Luiz chega para trabalhar como sempre fez. Na secretaria foi informado que o diretor-geral queria falar com ele. Ficou muito surpreso pois a sua aula começava dali a quinze minutos. Perplexo dirigiu-se à sala do diretor onde foi informado que não daria mais aula naquela turma porque tinha havido uma queixa contra ele. Ficou sabendo que se tratava de uma aluna de 18 anos chamada Ângela. A aluna estava muito enraivecida pois Luiz  ousara discordar da sua opinião sobre certas posturas islâmicas e ameaçava cancelar a sua inscrição. Segundo o diretor, Luiz também foi acusado de não ser neutro e o diretor pediu-lhe neutralidade se quisesse continuar no emprego. Todos sabemos menos o referido diretor que neutralidade não existe.
O diretor não estava muito interessado na versão de Luiz. Queria apenas livrar Ângela e a sua turma maravilhosa e muito poderosa da presença nefasta de um professor polêmico. Luiz nem teve tempo de apresentar a sua versão. O diretor mostrou-se muito preocupado e nervoso com a perda de alunos e foi enfático ao dizer que a instituição não podia perder nem mais uma aluna. Aluna? Aluna é apenas uma palavra do português arcaico que nos faz lembrar um passado relativamente recente. Não existem mais alunos; existem clientes. E não existem mais professores, mas vendedores de conhecimento obrigatório e às vezes inútil. Nem sei por que ainda chamam Luiz de professor. Essa condição já lhe foi roubada há muito tempo. O dinheiro é um genocida de valores fundamentais à dignidade humana.
Luiz tornou-se sem querer, um pastiche anacrônico de Sócrates acusado injustamente de perverter a jovem e ilibada clientela carioca. Não sei se vai chegar ao suicídio. A cicuta, ele acha fácil. Mas para que matar, quem já foi fuzilado pela truculência do status quo? 

domingo, 15 de março de 2015

O VAREJO DAS ALMAS

"O DESTINO DE QUEM NÃO SE ENCONTROU É ANDAR ATRÁS DOS OUTROS."
Joaquim ESTEVES
A palavra "alma" nesta postagem não tem a mínima conotação religiosa ou espiritual; utilizo-a apenas para fazer o contraponto do corpo. Num mundo que só parece ter corpo, vejo-me obrigado a denunciar a alma.
O que vejo e o que vi a minha vida toda, é a lástima das lástimas. Bilhões de pessoas negociando e vendendo as suas almas em troca da aprovação dos outros. Eu mesmo já fiz isso, confesso. Mas hoje, ao subir a montanha, descubro o quanto isso é inútil, alienante e ridículo. Aprovação que em alguns casos assumiu o nome pomposo de amor. Na maioria das vezes, o decantado amor não passa de uma invenção dos hormônios temperada com toneladas de lixo cultural.
Você com certeza vai ser amado se fizer o que os outros esperam  e se não atrapalhar muito os interesses e ambições dos seus colegas de espécie.
Para evitar esse comércio nocivo, você que só foi educado para se relacionar com o que está fora de você, tente pelo menos uma vez, olhar para dentro de você e descobrir quem mora em você. Se você conseguir essa façanha, comece uma relação com essa coisa aparentemente vaga que habita o seu corpo porco e traidor. O corpo que você tanto cultua é a  sua maior fonte de sofrimento e infelicidade. Abandone a sua promissora carreira de babaca e pare de imitar os outros. Não fique fazendo propaganda  da sua alma para ser aceito. Se os outros não te aceitarem é um ótimo sinal; sinal que você está no caminho certo, no encalço da sua alma.
Este blog faz parte da relação que tenho com a minha alma. Sei que você odeia filosofia, psicologia, metafísica e coisas afins. Sei que você prefere o espetáculo romano-americano de sexo, sangue, violência e morte. Mas eu insisto.
Eu sou dono da minha alma e não a negocio. Este blog não é o shopping da minha alma; sou contra todo capitalismo anímico. Apenas ofereço gratuitamente a este mundo insano, algumas gotas do perfume da minha alma.

sábado, 7 de março de 2015

A CRIAÇÃO DE MONSTROS

TEENAGER POWER
"Enfant Gâté" - Criança mimada. Tradução ao pé da letra: Criança estragada.
Vivo tempos bicudos. A geração X da qual eu faço parte, cansada das repressões, das proibições e da escala de valores tradicionais, desgraçadamente tornou-se uma criadora de monstros em larga escala.
A transmissão dos princípios e valores quase sagrados da minha geração foi feita de maneira irresponsável e frouxa. Valores se transmitem com veemência, convicção e firmeza como se fora uma profissão de fé.
As consequências dessa negligência educacional grave, estão por aí escancaradas para quem tiver condições de ver, ouvir e sentir. Passamos de um extremo ao outro; muito rigor para rigor nenhum. Os adolescentes do mundo tomaram o planeta de assalto. O fenômeno não é brasileiro; é global.
Já fui vítima de adolescentes completamente loucos que quiseram me dar lições  de moral e me ensinar a viver. Ora, eu sou um senhor radicado compulsoriamente neste planetinha há mais de meio século. Como se tornou possível a um fedelho recém saído da amamentação e cheirando a talco, tentar doutrinar um senhor absolutamente respeitável como eu? É simples, o respeito morreu com os avós dessas estranhas criaturas. E dos valores que eu tanto venero, não sobrou quase nada.
Primeiro cria-se o narciso. Para tanto cumula-se o candidato a monstro de elogios sucessivos e extenuantes. Você é lindo! Você é muito inteligente! Você é maravilhoso, meu filho! Você é um gênio, etc, etc. O pirralho, o rapazote, o muchacho, passa a acreditar nisso piamente pois tais exclamações emanam das grandes referências que ele tem no mundo: papai e mamãe. Neste ponto, acho por razões óbvias que as mamães são as grandes responsáveis por mais esta calamidade.
Criado o narciso que é uma espécie de pré-monstro, fica fácil. Basta que se execre e se elimine peremptoriamente do meio familiar a palavra NÃO. Um narciso perfeito que quase nunca escuta não, começa a reinar. Com o passar célere dos anos, os narcisos que só têm ouvidos para os aplausos e para o sim, edificam nos seus ambientes familiares feudos de poder e tirania. Os petizes não temem perder o amor dos pais. Eles estão acima disso e conhecem exatamente as fraquezas de todos os babacas que resolveram procriar para dar sentido às próprias vidas. Para os procriadores contumazes, os filhos são a maior e talvez a única razão de suas vidas. A criançola já assimilou totalmente essa característica e faz uma coleção de chantagens em torno dessa desesperada escolha existencial.
É um regalo ouvir um rapazola falar. Ele sabe de tudo porque viu no Google. Está sempre conectado porque já nasceu doente e velho. Queimou a etapa mais interessante e enriquecedora da sua vida que é fase poética das descobertas. Quando nasceu, já estava tudo descoberto. E para quem descobre logo tudo, sobra velhice, violência e tédio; falta um pouquinho de inocência. E tudo isto embalado e empacotado com o hipócrita papel de presente do politicamente correto. Sem falar do Estatuto da Criança e do Adolescente, o famosíssimo E.C.A que reprime com a letra e a forma da lei qualquer tentativa educacional não padronizada.
O guri conhece como ninguém o valor do dinheiro. Afinal, todos eles nasceram no shopping. E aí, realizam a maior proeza de todos os tempos: no regime capitalista, sem dinheiro nenhum conseguem ter todo o poder familiar nas mãos. Isso é prodigioso. Sem dinheiro, eles decidem que carro papai vai comprar. Sem dinheiro, eles é que traçam o itinerário da viagem do papai e da mamãe para os States. 
O mundo se encaminha a passos muito largos para que o dinheiro seja o único valor da sociedade humana. E quando este dia chegar e parece que está bem próximo, está na hora de ir embora deste planeta nefasto e diabólico. E numa boa!
P.S.- Ressalvo todas as exceções a esta deplorável regra geral. 

quinta-feira, 5 de março de 2015

MULHERES QUE DELIRAM DEMAIS

O SHORTINHO BRANCO DA AVENIDA RIO BRANCO
 UMA HISTÓRIA REAL
Hoje, vocês vão conhecer a quase mais linda mulher do mundo. A natureza foi pródiga em dons para Roberta Fonseca. No  rosto, o primor dos traços harmônicos. Tudo simétrico. O nariz formava um ângulo perfeito com o lábio superior. Os cabelos castanhos e volumosos davam-lhe novas nuances fisionômicas cada vez que mexia neles. Bom, para ser uma obra-prima só lhe faltava um pouquinho mais de curvas e uma bunda menos precária. No meu ponto de vista, é claro. Para os menos exigentes, era a própria miss Catumbi.
Conhecia Roberta há pouco tempo. Além do invólucro, meia dúzia de ois e muitas palavras ôcas, pouco sabia de Roberta. Sabia apenas que era advogada.
Certo dia, tão rotineiro como tudo que é bom, fui surpreendido pela indignação de Roberta. Vociferava:- Esses homens! Tudo tarado! Que machismo!
- O que houve?- perguntei
- Todo mundo me olhando. Que saco! Cada olhar! Me senti estuprada.
- Coitadinha! Que homens maus!- disse
- Ainda bem que existe a lei Maria da Penha e agora tem o feminicídio.
- Graças a Deus. A mulher tem que ser protegida. É uma vítima da sociedade. Coitadas das mulheres!- disse em tom irônico que ela não percebeu.
- Você precisava ver. Todos aqueles homens me comendo com os olhos!
- Roberta. Você já se deu conta da maneira como você está vestida?
- Eu sou livre. Me visto como quiser. Se bobear ando de biquini na Rio Branco.
-  Ah, agora, você tocou no problema. Você reparou que hoje é quarta-feira e o pessoal que anda na Rio Branco está vestido de maneira formal para trabalhar e  você destoa da vestimenta da maioria?
- Não tem nada a ver. Eu não sou objeto sexual.
Roberta tem 26 aninhos de pura formosura e refinada estupidez. O short de Robertinha era tão sumário que se não estivesse convenientemente depilada, poderiam eventualmente, muito eventualmente, ser expostos alguns dos seus lindos pentelhinhos. Sentiram a gravidade da situação?
- Por que é que homem é assim? Só pensa em sexo!- exclamou.
- E o que você gostaria de despertar nos homens com esse shortinho? Amor, afeto, admiração intelectual, solidariedade, carinho, espírito ecumênico, fraternidade?
- Claro que não. Mas não precisa me olhar daquele jeito.
- Roberta. Isso não depende tanto assim deles. Não é um negócio muito racional. Acredito que se a maioria dos homens pudesse refletir e racionalizar, nem se relacionaria com as mulheres.
- Você é gay?
- Gay? Não. Não. Sou lúcido. Acho que lucidez também é uma orientação sexual.
-  Não tou entendendo.
- Olha só. Os caras sem querer, produzem um montão de testosterona e sem querer também têm a sua sexualidade estimulada, testada e exigida o tempo todo. Ao contrário de você que tem as emoções estimuladas, mas a sexualidade ainda hoje é reprimida. Entendeu? Não estou justificando nada. Estou apenas tentando entender e explicar. Só. Apenas isso. Não me interprete mal.
Diante de fatos como este, peço humildemente em tom de oração, a todos os enigmas não desvendados do Multiverso que a minha produção de testosterona seja cada vez menor. Quem sabe um dia, eu serei finalmente agraciado com a verdadeira liberdade sexual.

A DECEPÇÃO REDENTORA

UM HINO À DECEPÇÃO
Uma das coisas mais formidáveis que existe na face da terra é a decepção. Para quem tiver o mínimo de lucidez, não existe sentimento mais poderoso e eficaz. É evidente que sempre existirão os que se recusam a ver. Doses massivas de realidade deveriam fazer parte de qualquer programa de saúde pública.
Por vezes, a decepção não é o suficiente para que as pessoas abram os seus olhos que foram cerrados para sempre. Há um prazer mórbido no deleite das ilusões. O monumento da felicidade não se constrói com os tijolos da ilusão. Quem acha que a felicidade está na alienação e no engodo, está rendondamente ou quadrilateramente enganado.
A felicidade só se constrói com os elementos palpáveis da realidade e com o que é provável ou possível. Neste sentido, a decepção é uma peça preciosa para corrigirmos a nossa visão do mundo. Se você ainda consegue se decepcionar é porque a sua visão de mundo está muito desajustada. Use cada decepção para ajustar sempre a sua visão de mundo. Se você se decepcionou, certamente ainda estava muito iludido. Não era nada do que te levaram a crer ou imaginar; era muito pior.
No que me diz respeito, quase todo o caminho da minha felicidade é pavimentado porque imensas placas de decepção. A equação é simples. Quanto mais você estiver iludido, mais decepções você terá.
Tente livrar-se desse sentimento doloroso da decepção injetando em você, todos os dias, altas doses de realidade e esqueça o botox e o hidrogel.

terça-feira, 3 de março de 2015

VOO SOLO

Quando será que você vai deixar de ser um substantivo coletivo para ser um nome próprio? Quando? Você ainda não se cansou de sempre fazer parte de alguma coisa ou de alguém? Vê-se que não conhece as delícias da liberdade. Viciado em prisões, você nasceu para viver e morrer no cárcere. Lamentável.
Alcatéia, cáfila, manada, corja, quadrilha, cambada, récua, matilha e bando. Você sabia que bando é o coletivo de aves e também é o coletivo de malfeitores? Os gorjeios, os pios e o chilrear dos bípedes não te entediam? Mas é sempre a mesma coisa. O mesmo voo para o mesmo lugar, com os mesmos barulhos, na mesma atmosfera poluída.
Nunca entendi muito bem o prazer que existe em seguir o percurso do bando alucinado. Se você gosta tanto assim de alucinações, crie as suas. Viva às custas de uma loucura peculiar. Não pague aluguel na loucura dos outros.
Usufrua da beleza e da autonomia do seu voo singular. O seu voo nunca o impedirá de dar um pio ou um gorjeio para o pessoal do substantivo coletivo. Nenhum grupo consegue ser bonito e saudável. Toda aglomeração é horrível. Esqueça as asas dos outros e comece já a bater as suas. Não sabe voar sozinho? Treine, empenhe-se e aprenda. Tudo leva a crer que ninguém está tão interessado assim no seu voo. Não se engane demais.
Eu garanto a felicidade do seu voo solitário. Há muito mais felicidade fora do que dentro do bando. Tenha coragem de mudar os seus condicionamentos.
Saia do armário e assuma. Assuma que voar só é o seu estado mais relaxado e natural.