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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Os ladrões do nosso tempo

Precisas usar muitas vezes amarelo para teres a certeza de que o amarelo te fica muito mal.
Joaquim ESTEVES
Fico impressionadíssimo com a petulância dos jovens do neoliberalismo pós-moderno. Pontificam como se soubessem alguma coisa. E pior ainda, certos e determinados impúberes ainda pretendem te ensinar a viver. Inconvenientes da longevidade! Viver para ter que passar por isto!
Feito este sucinto preâmbulo, vamos ao assunto. Vou falar de roubalheira, gatunagem, subtração, como queiram.
Hoje, com a importância que o trabalho e a super atividade passaram a ter em detrimento do lazer e com a exaltação feita ao mito do crescimento, nunca na "história deste país" se surrupiou tanto o tempo. Trata-se de uma quadrilha gigantesca que assalta o nosso precioso tempo.
O ladrão número um é o Estado com as suas sórdidas, estúpidas e rigorosas burocracias. Depois, vem a família que nem sempre recompensa a contento o infindável tempo que lhe dedicamos. Ia colocar a famíla em terceiro lugar, mas ela venceu o campeonato da ladroagemn do tempo. Em seguida vem o patrão capitalista austero que representa o trabalho como um mister sagrado do qual ele é o supremo sacerdote intocável no  seu poder institucional e legalista de roubar tempo e dar umas gorjetinhas para disfarçar o furto. Não faltam ladrões, por isso é que nos falta tempo. Tempo para nós.
Existem outros ladrõezinhos baratos como os falsos amigos, os conhecidos, os colegas e as pessoas de uma forma geral a quem parece que sempre estamos a dever algo.
Nasci com a forte sensação de que devo alguma coisa pelo simples fato de ter sido  depositado neste inferno sem a minha autorização. E se você não consegue ver um inferno, passe nas óticas do povo, morou?!
Então é isso. Queria ter uma vida só para mim e para os que eu amo verdadeiramente. Não gosto que me roubem o tempo o tempo todo. Sou feliz mas não concordo e não estou satisfeito com esta roubalheira consentida e estimulada.
Gostaria muito que vocês um dia experimentassem a prazer ímpar de ter um domingo só para vós. É inefável, indizível e para não vos deixar sem um adjetivo, é maravilhoso. O domingo é um  dos dias mais roubados. E nem vou falar da segunda-feira.
No meio desta farândola, desta cáfila e desta chusma, sugiro que se o talento é para roubar, que  roubem a nossa dor. Faltam ladrões da  dor. Sempre sonhei com um mundo mais analgésico. E estou farto de aspirinas... 
P.S.-  Não acho que a vida seja curta em si. "A vida é curta" é uma expressão herdada de épocas em que a expectativa de vida era de 30 a 40 anos. A frase sobreviveu, prevaleceu e aindo hoje é repetida sem a mínima reflexão.
Setenta e três anos de expectativa média de vida é pouca coisa? É pouca coisa porque descontado o tempo que passamos dormindo, para nós mesmos, só temos 1/3 dessa  longa vida. Concluo pois que a vida só é curta por causa dos ladrões.

Um comentário:

  1. A sua maestria em escrever crônicas acabou roubando um pouco do meu tempo ( o que está se tornando habitual ). Isto não torna-o um ladrão de tempo propriamente dito... mas um exímio escritor. Maravilhoso como sempre ( valeu a espera ). Um forte abraço meu amigo !

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