.

.

.

.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

A guerra dos egos

Eu que sou do tempo da guerra fria, começo concluindo que o ser humano não quer e não sabe viver em paz. É muito pouca coisa pra muitos vermes. 
Agora, tenho que me envolver na terceira  guerra mundial: a guerra dos egos. Vivo num mundo absolutamente gordo; almas infladas em corpos obesos.
Não queria me dar ao trabalho de encher a minha alma de ar só para poder entrar na guerra, mas a guerra está declarada. A continuarmos assim, também a alma vai fermentar e soltar flatulências. Não bastavam os flatos orgânicos, faltavam-nos os peidos anímicos. Como é deprimente viver numa sociedade que fede por todas as perspectivas e ainda destrói a camada de ozônio.
Hoje, falam em cibridismo, o preâmbulo da mais nova insanidade. Querem que eu viva na corda bamba entre o online e o offline. Eu não sou equilibrista e já não gosto mais de circos depois que tiraram os leões infelizes, angustiados e aos prantos.
O orgulho exacerbado e a vaidade extrema vão acabar com a espécie. Eu só quero cinco minutos antes do fim, para comemorar com Moët & Chandon, Épernay - France.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Entre dois mundos

O mundo esquizóide
No virtual, todos me amam e todos são felizes. Todos mostram o que lhes convem expôr. Todos me curtem e todos me marcam. No virtual, só palavras gentis - a gentileza é obrigatória. No virtual, se brigar com um, brigo com o grupo todo, brigo com o mundo inteiro. Tudo é público e escancarado e não há mais portas; há filtros. Todos empunham as mesmas bandeiras surradas e previsíveis. Todos perderam a timidez e se desnudam numa orgia existencial sem precedentes; o pudor já faleceu há décadas.
No real, nem um bom dia, nem um aceno de cabeça, nada. O real está ficando quieto e assustador. Quase todos debandaram para o virtual. O mundo fugiu para o Facebook e o meu mundo está deserto. 
Choro a morte do mundo e estou só nas ruínas do fim do mundo. Viver de mentirinha também é viver; esta é a nova ordem mundial. Falo com estranhos com  intimidade e  cerimônia. Os desconhecidos agora fazem parte do meu cotidiano. Amo e detesto gente que nunca vou ver na vida. Converti carência em arrogância e faço poses para a plateía. Vibro e  me regozijo quando a poderosa e sagrada internet nota a minha pobre presença.
Até há os que não sabem mais o que é carne e osso,  e têm uma ideia vaga da fisiologia. Projeto  imagens e pretendo ter relações humanas profundas com espectros. 
Comovo-me  e me enterneço com os rastros dos fantasmas cibernéticos. Resigno-me e me acovardo porque não tenho nenhum poder sobre as circunstâncias e  as tendências. Sinto que me tornei um produto e me dou ao sacrifício do consumo. Estou só num grande alvoroço e me empenho para me adaptar à esquizofrenia. Procuro gente e me contento com qualquer vestígio de humanidade.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Zoos humanos

A expressão zoo humano descreve uma prática cultural que prevaleceu nos impérios coloniais até a II Guerra Mundial. A expressão foi popularizada na França pela publicação em 2002 da obra Zoos humains, escrita por vários historiadores franceses especialistas nesse fenômeno cultural.
As exposições coloniais eram ocasiões onde o público da metrópole tinha contato com uma amostra de tribos expostas em situações forçadas num ambiente reconstituído.
No final do século XIX, não havia um único cidadão francês que não tivesse descoberto uma reconstituição "autêntica" desses ambientes selvagens, povoados de homens e de animais exóticos, entre uma exposição, a missa dominical e o passeio no lago.
Os zoológicos humanos, exposições etnológicas ou aldeias negras, continuam sendo assuntos complexos a serem abordados por países que exaltam a igualdade de todos os seres humanos.
De fato, esses "zoos", nos quais indivíduos "exóticos" misturados a animais selvagens eram mostrados atrás das grades ou em recintos delimitados a um público ávido de distração, constituem a prova mais evidente da defasagem que existe entre o discurso e a prática no tempo da construção dos impérios coloniais.
Hoje, em pleno século XXI, pode-nos parecer incrível e aberrante, mas ainda não há muito tempo, eram uma realidade nas principais cidades da Europa Ocidental. Em 1958, em Bruxelas, os Zoos Humanos eram uma atração para muitos visitantes que se consideravam oriundos de uma "raça superior".
Estas exposições geralmente enfatizavam as diferenças entre os europeus ocidentais e os povos não europeus ou com um estilo de vida considerado primitivo.
Aconselho o documentário Zoologicos Humanos.
https://youtu.be/IRYtkxMYogo

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Palavras não se guardam

Com a praga do P.C.( Politicamente Correto), como diz o Luis Filipe Pondé, há uma economia forçada da palavra adequada e certa. Palavras existem para serem ditas ou escritas. Para o bem e para o mal, escreva e diga. Fale de amor, de ódio e do que quiser. Não fale para não dizer nada, nem escreva para cansar e embromar.
Não gosto de quem escolhe palavras como se catasse feijão. Diga. Escreva. Eu decido se é bom ou mau, se dói ou não. Não seja um editor de textos nem um empilhador de palavras não ditas, seja gente. E se você pensa que selecionar palavras, é uma grande estratégia de convivência social, você só vai me dar razão quando as palavras te sufocarem e decretarem a tua morte por pura fraude.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Schadenfreude: quando a minha desgraça é a sua felicidade

Schadenfreude é uma palavra alemã, Schaden (dano) e Freude (alegria), utilizada para designar o prazer obtido com os problemas dos outros. É a palavra que dá significado ao sentimento descrito no dito popular "pimenta nos olhos dos outros é refresco".
Schadenfreude pode ser observado desde as risadas causadas pelo palhaço de circo que escorrega na casca de banana, ao prazer de algumas pessoas com os problemas de Britney Spears dois anos atrás (cujas fotos decadentes estiveram esparramadas por todos os tablóides em um grande exempo da palavra), ao prazer com o divórcio da amiga que parecia ter o casamento perfeito. Todos são exemplos deste sentimento nunca comentado mas generalizado na população.

Desde os tempos bíblicos há menções de uma emoção semelhante na descrição ao schadenfreude: "Quando cair o teu inimigo, não te alegres, nem se regozije o teu coração quando ele tropeçar; Para que, vendo-o o Senhor, seja isso mau aos seus olhos, e desvie dele a sua ira" (Provérbios 24:17-18). Na Grécia clássica, Aristóteles usou o termo epikhairekakia na obra Ética a Nicômaco, que quer dizer "alguém que sente prazer com o infortúnio de outro"

Quando o conceito passou a ser incorporado no linguajar europeu, apenas sua menção causava horrores. Mesmo o lúgubre filósofo alemão do século 19 Arthur Schopenhauer considerava este prazer terrível demais para ser contemplado e embora ateu, Shopenhauer dizia que schadenfreude era obra do diabo. Teólogos protestantes e católicos posteriormente denunciaram schadenfreude como um grave pecado, embora poucos estejam livre dele.

 
Homer imagina a desgraça de Flanders com um   sorriso nos lábios no episódio "When Flanders Fails" (Quando Flanders Falha) da terceira temporada do desenho americano Os Simpsons
Schadenfreude atrai porque é uma vingança desempenhada sem qualquer esforço por parte do observador. A sensação é parecida com a conquista de um inimigo. E é justamente por esta razão que Friedrich Nietzsche argumentava que o sentimento é de fato perigoso. O prazer sentido é ilegítimo e desta forma culposo; o indivívuo nada fez para o receber. Uma vitória recebida sem qualquer competição não pode ser nada mais do que "vendeta imaginária", apenas uma satisfação virtual. Nietzsche chegou até mesmo a hipotetizar que sentimentos de inferioridade intensificam o schadenfreude.
O famoso filósofo alemão estava no caminho certo. R.H. Smith, um psicólogo da Universidade de Kentucky nos EUA, estudioso da inveja em psicologia social, escreveu diversos artigos que trazem evidências do que Nietzsche teorizou. Smith realizou um experimento no qual estudava reações a histórias aparentemente verdadeiras de dois estudantes de medicina que arruinaram suas carreiras ao roubar drogas do laboratório da universidade. Um deles era rico, bonito e bom aluno. O outro era o oposto. Os voluntários no experimento de Smith sentiram mais alegria ao ver o infortúnio do aluno que apresentava maior sucesso. Os achados de Leach et al., publicados em 2003 no Journal of Personality and Social Psychology reforçam estes achados. Os pesquisadores deste estudo, analisaram o sentimento de prazer com a perda alemã no futebol.
Os psicólogos que investigam a área baseiam seu trabalho no que é conhecido como Social Comparison Theory (Teoria da Comparação Social). O campo foi concebido na década de 1950 por Leon Festinger e é baseado na premissa de que os humanos avaliam-se não tanto por objetivos estandardizados mas por comparação aos outros em seu redor. Uma piadinha americana exemplifica isso:
Dois homens estão caminhando pela floresta quando encontram um urso. O primeiro abre sua mochila e pega seus tênis. "Porque você vai colocar tênis?'', pergunta o segundo. "É impossível correr mais que um urso". "Eu não tenho que correr mais que o urso", responde o homem, "só tenho que correr mais que você".
 
O jogador Ronaldo, vítima de Schadenfreude ao ter seu nome associado a uma orgia com travestis
Segundo esta teoria, nossos sucessos e insucessos na verdade são assim concebidos com base no que as pessoas ao nosso redor têm ou fazem - fazemos comparações sociais. Quando as pessoas à nossa volta sofrem perdas, isso faz com que nosso desempenho melhore.
Aaron Ben-Ze'ev, professor de filosofia na Universidade de Haifa, em Israel, teoriza que as pessoas que invejamos mais são as mais próximas em nosso círculo social. Em entrevista ao New York Times, ele disse: "Você inveja mais um colega que ganha mil dólares a mais por ano do que um presidente de empresa, que ganha milhões de dólares a mais". Ele continua: "Também invejamos mais pessoas famosas, elas são símbolos para nós".
No campo dos estudos de imagem, Takahashi et al, estudaram a neurologia deste sentimento proibido. Os autores utilizaram fMRI (Ressonância Magnética Funcional) para avaliar a ativação cerebral aos sentimentos de inveja e schadenfreude em 19 voluntários. Os resultados foram publicados na revista Science em 2009:
No experimento de inveja, os voluntários deveriam visualizar cenários nos quais eram protagonistas. No primeiro cenário, um estudante A foi bem nas provas da faculdade, mas o protagonista não foi. A é um atleta talentoso (ao contrário do protagonista), é popular com as garotas e tem uma bela e inteligente namorada (ao contrário do protagonista). A foi bem numa entrevista de emprego e está se dando muito bem no trabalho. Seu salário é bom e ele vive com estilo (ao contrário do protagonista).
No experimento de schadenfreude, o protagonista sai-se bem melhor do que A. As análises envolveram comparação da ativação em diferentes regiões cerebrais aos cenários de inveja, schadenfreude e neutro e os voluntários também graduaram seus próprios sentimentos de inveja e regozijo em cada cenário. Os resultados mostraram que o cenário de inveja levou a maior ativação do córtex cingulado anterior (CCA) e este achado foi correlacionado a maiores sentimentos relatados de inveja. O CCA é relacionado a detecção de erros ou conflitos - quando a resposta esperada não é a que acontece. O CCA também é ativado na dor, dor empática ou dor associada a exclusão social. A ativação do CCA só aconteceu quando o voluntário conseguia se relacionar com o objeto de sua inveja. Se o voluntário imaginasse que a pessoa alvo é irrelevante para comparação, os resultados mostravam indiferença (o que corrobora a hipótese de Ben-Ze'ev).
Cquote2.svg 
Em Portugal o apresentador de TV Carlos Cruz teve seu nome arrastado na lama ao ser associado a um escândalo de pedofilia no Processo Casa Pia. Vítima de schadenfreude, a última reportagem que li dele foi dizendo que agora saía de férias em um trailer para parques de campismo ao invés de ficar em hotéis 5 estrelas.
Os cenários de schadenfreude causaram ativação no estriado ventral e esta ativação foi correlacionada a sentimentos auto-referidos de schadenfreude. Da mesma forma que no cenário de inveja, a correlação só foi positiva quando o exemplo alvo era relevante para comparação pessoal. A ativação do estriado ventral é tipicamente associada a estímulo de recompensa e os autores interpretaram sua ativação com sentimentos de prazer.
Os autores concluem com a proposta de um mecanismo neurológico para inveja e schadenfreude, que podem ser mediados de diversas formas. Uma delas é que a pessoa em questão, alvo dos sentimentos deve ser importante para um indivíduo. O quanto você empatiza com este indivíduo alvo determina a intensidade dos sentimentos de inveja e schadenfreude.
Fulford (2003) em sua coluna no National Post acredita que ocasionalmente o schadenfreude pode ser justificado e prazeroso. O autor descreve a história de Peter Gay, que relata em seu livro My German Question seu episódio de prazer com a desgraça alheia: Gay era um adolescente judeu perseguido na alemanha nazista. Ele se lembra do prazer que sentiu ao ver os atletas alemães perdendo medalhas para aqueles que tinham certeza que eram seus inferiores (especialmente para um negro americano no atletismo). Enquanto os fãs alemães agoniavam, Gay deliciava-se. Schadenfreude, segundo Gay, "pode ser um dos grandes prazeres da vida."
P.S. - Schadenfreude [/ˈʃɑː.dənˌfrɔɪ.də/], literalmente, alegria ao dano) é um empréstimo linguístico da língua alemã também usado em outras línguas do Ocidente para designar o sentimento de alegria ou satisfação perante o dano ou infortúnio de um terceiro. Em português o termo mais adequado para se traduzir schadenfreude é “escárnio” (não podendo, no entanto, ser tido como um sinónimo absoluto).
A palavra deriva do alemão Schaden “dano, prejuízo” e Freude “alegria, prazer”.
Existe uma distinção entre schadenfreude discreta, o sentimento íntimo pessoal e schadenfreude pública, que se expressa abertamente mostrando escárnio, ironia ou sarcasmo perante a desventura sofrida por um terceiro.
Na língua portuguesa o sentimento de satisfação pelo infortúnio de outro expressa-se na exclamação "bem feito a ele ou ela" (schadenfreude pública).
"Que coisa mais medonha de se imaginar que uma língua possa possuir uma palavra que expresse o prazer que o homem sente para com calamidades alheias; a própria existência da palavra presta testemunho da existência da coisa. E mesmo assim, em mais de um idiotal palavra existe ...
No grego epikhairekakia, no alemão Schadenfreude." 
Richard C. Trench


sábado, 30 de abril de 2016

Denunciar é muito feio

O outro lado do denuncismo
Quando a denúncia é institucionalizada é mau sinal. Quando todos denunciam todo mundo, há algo de  muito podre e patológico na sociedade em que vegetamos. 
O denuncismo sempre caracterizou regimes de exceção. A denúncia era oficial como é hoje, no Terceiro Reich Nazista, nos Expurgos de Stalin e na pseudo-revolução cultural de Mao Tse Tung. 
A sociedade globalizada fede a ditadura. O pós-modernismo líquido e neoliberal tem trejeitos e ademanes de despotismo. Resta saber quem é o ditador. Que vivemos uma ditadura não há menor sombra de dúvidas. Na pós-democracia, visto que não vivemos mais democracia nenhuma, os ditadores somos todos nós. Inaugura-se mais uma forma de tirania, a tirania institucional da maioria.
Quem já viveu um pouco, sabe que denunciar em outras épocas era uma atitude própria de quem não tinha caráter. O meu pai, por exemplo, punia o denunciante e o denunciado. 
Que a polícia cumpra o seu papel de investigar. Que sejam descobertos e punidos os infratores sem que para tanto tenhamos que recorrer a sordidez da denúncia. Se a polícia é incompetente, a denúncia não vai melhorar a polícia, a denúncia apenas vai tornar mais insuportável a vida em sociedade.
O denuncismo desenfreado como o que vivemos atualmente, promove e patrocina muitos erros, muitos enganos e muitíssimas injustiças. O caminho das aparentes facilidades, nem sempre é o melhor caminho.
Não podemos mais nos movimentar livremente nesta sociedade doente. A vigilância é feita em massa, sem nenhum critério, sob as alegações questionáveis do terrorismo onipresente.
Lamento, ter que contariar as certezas desta civilização completamente decadente. Sinto-me na obrigação de denunciar a denúncia. Denunciar é muito feio. Eu não denuncio ninguém.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Muitas estrelas para pouco firmamento

E de repente, o mundo se encheu de estrelas. Todos se dizem estrelas nisto que agora se transformou em uma narcisolândia.
Paradoxalmente, continuamos no escuro. A grande maioria das estrelas tem brilho falso. Narcisos não lapidados não brilham, apenas ocupam espaço e enfeiam a imensidão.
Estrelas em demasia não iluminam nada; poluem o horizonte e aniquilam os nossos mais preciosos valores de humanidade.
Narcisos incandescentes rasgam os céus do Facebook, assustam o Google+, povoam o Instagram e se desintegram no Twitter. Definitivamente, não há lugar para tantos espelhos. Resta-nos a ótica narcísica que tudo deturpa e nada vê. Na narcisocracia quem vê o outro, é considerado louco alucinado.
O futuro do futuro nos dirá quem nasceu para brilhar e quem é puro simulacro.

sábado, 16 de abril de 2016

Educação para covardes

      A FAVOR DO ESTRESSE
Eu fui educado para ser um covarde e você também. A nossa educação sempre gira em torno da autopreservação física e psicológica. Somos educados para gerir apenas nossos sensíveis e sacralizados umbigos. E não falta quem diga que fora dessa fórmula não há salvação social, econômica, espiritual ou humana.
Ao contrário do Mcdonalds, eu odeio tudo isso.
Conhecemos muito bem a cartilha da covardia:
1- Deixa p'ra lá!
2- Não esquenta a cabeça!
3- Isso não adianta!
4- Isso não dá em nada.
5- Cuidado! Você vai infartar.
6- Mais vale um covarde vivo que um herói morto.
7- Muita calma nessa hora!
8- Se você se estressar, você vai ficar doente. Você vai somatizar.
9- É inútil.
10- Você não vai mudar o mundo
11- Olha a pressão! Olha a pressão.
12- É......Não vou me chatear. 
13- Relaxa! Fica frio!
13- Etc, etc, etc.
Eu não vou mudar o mundo. Já pensei em poder mudá-lo quando era mais jovem, mas o mundo é um caso perdido. Agora mudo e sempre vou mudar o meu micro-mundo. Tenho mudado o meu condomínio, as minhas condições de trabalho, a minha rua, o supermercado que frequento, a minha agência bancária, a minha linha de ônibus, o meu bairro e na medida do possível a minha entourage. 
A maior arrogância, pretensão e insanidade humanas  é querer alterar alguma coisa sem se estressar. Eu não tenho nada contra o estresse. O estresse não é tão deletério como dizem. A medicina que para mim é sempre muito suspeita pelos seus conchavos com o status quo, estigmatizou o estresse como a origem de todos os males e patologias.
Temos que alterar a programação cultural e científica que é insidiosa e espúria. Se a medicina começar a propalar que o estresse é bom, ninguém nunca mais terá tanto medo de reivindicar. O poder da medicina tem que ser questionado. As certezas da medicina e dos laboratórios variam conforme os interesses econômicos e políticos do Sistema. Somos levados a pensar que o estresse é mortal para não nos rebelarmos e vivermos uma vida indigna, para vegetarmos e nos contentarmos com a fotossíntese como o máximo da realização humana na terra.
Querem melhorar o mundo, então permitam que um pouco de adrenalina, indignação, inconformismo e revolta corram nas vossas veias.
Quem foi que vos disse que aqui neste planetinha era só para sentir prazer, conforto e ter comodidade. Quem foi?
Façam as pazes com o vosso estresse porque o melhor vem depois do estresse. Sem estresse, tudo permanecerá como sempre foi.
É muito mais estressante viver neste mundo injusto, arbitrário, impiedoso, abusivo, bárbaro e atroz  do que  propriamente se estressar para tentar melhorá-lo.

sábado, 9 de abril de 2016

Como se chama o ditador?

Hoje, o respeito tem que ser na marra. Negros, crianças, mulheres, homosexuais, transexuais, nordestinos, pobres, deficientes físicos e mentais, etc, têm que ser compulsóriamente respeitados e poucas vezes se viu tanto desrespeito e indiferença.
O respeito é um dever, com certeza absoluta, mas definitivamente não começa pela linguagem. A linguagem existe básicamente para mentir ou representar o percurso da "persona". O buraco é muito mais embaixo; o buraco fica no subsolo recôndito da consciência humana.
Nesta ditadura difusa e anônima em vigor, respeita mais quem consegue ser mais hipócrita. Respeita mais, quem conhece o jargão falacioso desta época da qual nos envergonharemos um dia. 
A banalização do respeito segue o caminho do modernismo radical e tardio, onde quase tudo é frívolo, barato,  pueril, básico e superficial.
Para respeitar verdadeiramente um deficiente físico, não basta chamá-lo de portador de necessidades especiais. A mudança de nomenclatura é um remédio fácil e inócuo. É preciso muito mais que isso. É preciso que sejamos capazes de nos colocar no lugar dele e avaliar as suas dificuldades para viver num mundo feito para não deficientes. É preciso olhá-lo e vê-lo como protagonista de um drama. E em último grau, é preciso ter o dom de sentir compaixão ( cum patire- sofrer com) e de se comover.
Como pude comprovar, blá blá blá não é respeito; blá blá blá é blá blá blá.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A diversidade monolítica

Temos toda a liberdade do mundo para sermos todos muito parecidos.
Joaquim Esteves

Não vou me alongar. 
Fala-se tanto em diversidade e no direito à diferença que eu, no essencial, no fundamental, não vejo  lá tanta diferença assim. 
Continuamos a ter que pedir permissão para pensar e como dizia Bertold Brecht, "o fascismo é uma cadela que sempre está no cio". As produções e as criações humanas tendem à padronização. Senão, prestem atenção nos carros: modelos quase todos iguais e quase da mesma cor. A cor predominante nas coisas e nos objetos é o preto - estamos de luto. A tão propalada diversidade sexual apenas revela e enfatiza uma obsessão generalizada e  quase Romana pelo sexo e pelo corpo. Haveria diversidade se também se dedicassem aos misteres da alma com a mesma tenacidade. Diversidade? A falsa diversidade leva-nos diretamente para o domínio da patologia e da decadência. Com a obsessão quase Romana pela comida (Masterchef) desaguamos no pântano da diversidade dos assim chamados, transtornos alimentares.
Não consigo ver essa diversidade toda. No máximo, o mundo continua maniqueísta e em dicotomia permanente.