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sábado, 28 de abril de 2018

Em plena caquistocracia

O GOVERNO DOS PIORES
Para entender melhor a motivação que fez esta palavra nascer (seja lá quem tenha sido o seu criador), é necessário voltar, na Grécia antiga, à obra de Políbio que morreu no ano de 125 a.C. Assim como todas as coisas estão sujeitas à degeneração, dizia ele, também degeneram as formas de governo que podemos adotar. Assim como a ferrugem para o ferro ou o caruncho para a madeira, são enfermidades internas que podem destruir esses materiais, cada um dos regimes políticos conhecidos traz consigo o risco de uma enfermidade que pode desvirtuá-lo: a monarquia, com o rei bom, pode degenerar em tirania (ou despotismo). A aristocracia, em que mandam os mais sábios (de aristós, "o melhor" + cracia, "poder"), pode degenerar em oligarquia (de olígos, "pouco" + arquia, "autoridade"), o governo de poucos, ávidos predadores da sociedade. Finalmente, a democracia (de demos, "povo") pode descambar para a oclocracia (de óclos, "multidão"), o governo da ralé que, controlada por demagogos, usa a força bruta para se sobrepor à lei e às instituições.
Políbio preconizava, como preferível, um sistema político que misturasse as virtudes das três formas benignas (monarquia, aristocracia e democracia) para estabelecer um regime misto em que os melhores mandassem em nome do povo, mas nunca chegou a pensar, como fez Michelangelo Bovero, na possibilidade oposta - um regime em que viessem a se combinar as características das três formas degeneradas (tirania, oligarquia e oclocracia). 
Bovero que é nosso contemporâneo, acompanhou a dissolução política que caracterizou a Itália de Berlusconi e viu nascer esse sistema - hoje tão próximo do Brasil e de seus vizinhos - que mistura a cega violência da massa, a oligarquia dos ricos e o autoritarismo quase ditatorial dos líderes demagógicos. Pois foi justamente para nomear esta sinistra combinação dos vícios e defeitos de todos os sistemas que lhe ocorreu (como já tinha ocorrido a outros, antes dele) juntar a cracia o elemento kakistos, "pior" (superlativo de kakos, "mau, ruim" - o mesmo que usamos em cacófato e em cacofonia). É claro que nem ele, nem Venturini, nem ninguém antes deles pode ser considerado o "pai" desta palavra. Caquistocracia nada mais é que um vocábulo que já existia virtualmente no nosso estoque de palavras possíveis, à espera apenas, de que a vida real produzisse as condições necessárias para que alguém o empregasse. E o momento é agora.
Texto adaptado do site GAUCHAZH

sábado, 14 de abril de 2018

Os encantadores de demônios

Sempre tivemos encantadores de serpentes. Hoje, nesta época encantada, temos muito mais. Há encantadores de cães, de gatos, de idiotas, de narcisos e de demônios, entre outros.
A fusão do desespero com a ignorância é terra mais do que fértil para os encantadores de demônios. Desesperado, o indivíduo faz qualquer coisa. O desespero é a razão cremada. Desesperado e ignorante, o indivíduo faz muitíssimo mais que qualquer coisa.
Os encantadores de demônios, também conhecidos como pastores neo-pentecostais, institucionalizam o encantamento do diabo. Cadê o Ministério Público?

segunda-feira, 9 de abril de 2018

A maioria segundo Goethe

E este blog criado em 2013 é dedicado a todos os reféns da maioria. É provável que você também seja um refém anônimo e desamparado dessa massa amorfa e monstruosa.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Comunhão e solidão

Conviver não é de graça, embora pareça quase gratuito e muito divertido. Já a solidão, essa é um tabu ou uma doença para animais de bando. O que resta saber é qual é o preço que você pode pagar. A gorda maioria, acha uma extorsão o custo da solidão. A convivência engana mais a consciência e os sentidos. A vida em comum até pode se apresentar como ausência total de solidão.
Digamos que os mais emocionalmente pobres podem pagar o preço da comunhão. A solidão é considerada muito mais onerosa. São raros os que optam pela solidão. Solidão é para poucos. Com certeza que só  escolhe e consegue pagar o alto tributo da solidão quem pertence à casta de almas ricas.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Humanizar a pós-civilização

Nunca se empregou tanto o verbo humanizar. Quase tudo tem que ser humanizado. É bastante suspeito. Dizem que temos que humanizar a saúde, o ensino, as prisões, o atendimento, a política, os transportes e até mesmo o baixo meretrício.
É insofismável. Viramos as costas ao humanismo. Nesta pós-civilização, para não usar a palavra barbárie porque hoje tudo é pós, as relações humanas vivem um grande embaraço.
Criaram-se modismos comportamentais que nos desumanizaram. Somos cada vez mais menos humanos. A novas tecnologias tão apreciadas e decantadas são as maiores responsáveis por este ser sub-humano e exótico que nos assusta e ameaça.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

O devorismo

Devorar é um ação muito associada a Cronos na mitologia grega. Cronos devora.
Hoje, precisamos de muitíssimo pouco tempo para sermos devorados ou para devorarmos nossos congêneres. Consumir é um verbo ultrapassado e obsoleto. Já passamos do consumismo ao devorismo. Vivemos tempos de extrema voracidade e sofreguidão.
Devoramos coisas e pessoas no instante breve, curto e abrupto de alguns momentos ou de meia dúzia de posts. Depois, não há mais nada nem ninguém. Resta-nos apenas a sensação pungente de uma incompletude descomunal.
Texto© : JoaquimESTEVES

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Demônios nostálgicos

Só tenho relações cordiais com demônios nostálgicos. Demônios em estado puro, não se dão comigo. Ainda que o maniqueísmo seja eivado de preconceitos, eu creio na divisão entre o bem e o mal. É inarredável. Existe o bem e o mal. Toda a argumentação em contrário, é embuste e burla.
Os demônios 24 quilates, também são conhecidos como psicopatas. Psicopata, é a terminologia científica para demônios cem por cento demônios. A psicopatia é a moléstia invisível do terceiro milênio.
Os demônios em estado puríssimo sentem-se muito atraídos pela política. A política é o paraíso dos demônios absolutos. Há demônios no paraíso.
Creio na existência de demônios totais, só isso explica o estado geral da civilização. E não adianta ficarem com raivinha de mim porque eu denuncio as calamidades do espírito. Posso provar que não sou um demônio integral e posso fundamentar tudo o que estou dizendo.
Eu também sou um Anjo Decaído, mas ainda me lembro um pouco do Jardim do Éden.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

E onde está a tua felicidade?













Onde está a tua felicidade?
Ensinaram-te a procurá-la exatamente onde ela não pode estar. No engodo do processo educacional, fizeram-te acreditar que ela estava ao alcance de todos, era fácil e visível. Bastaria para tanto, seguir os caminhos da maioria. A felicidade parece estar à espera de todo mundo, na curva do casamento, na promoção do trabalho, no acúmulo financeiro, na falsa surpresa da procriação, nos amigos, na viagem a Paris, no time de futebol, na família e na religião. A felicidade não é um sentimento acessível e revelado; a felicidade é um segredo pessoal e intransferível.
É preciso estar atento e viver alguns anos para se descobrir que a felicidade só está nas frestas da civilização, nas fissuras do grande horizonte social. Já se disse que a felicidade está nas pequenas coisas. Nada mais exato. Acrescento, entretanto, que as pequeninas coisas só cabem nas brechas e nas pequenas aberturas da atividade humana.
Espreita as fendas do que aparentemente não tem importância nenhuma. É aí que vais achar.
No teu hobby, nas tuas plantas, no teu cachorro mimado, no teu carro velho, na música da tua solidão, no café da tua manhã, no teu passeio sem pressa, no insight de uma reflexão, em um detalhe da tua casa, no afeto de uma recordação longínqua, no cochilo da tarde morna, no prazer de usar sapatos novos, no barulho da chuva chamando o sono, na visão ímpar do mar sem sol, em uma leitura breve antes de dormir, enfim, tu é que vais descobrir. Só não te esqueças de vigiar as frinchas que ninguém repara.

sábado, 16 de dezembro de 2017

O novo filósofo da sociedade moderna

Byung-Chul Han
Um dos mais reverenciados e inovadores filósofos da atualidade, Byung-Chul Han nasceu em 1959, na Coreia do Sul, mas mudou-se de armas e bagagens para a Alemanha, na década de 1980, familiarizando-se por lá com as dissertações de pensadores como Martin Heidegger. É autor de mais de uma dezena de ensaios que examinam algumas das principais ameaças do indivíduo na sociedade moderna, entre as quais a escassez de tempo para a reflexão e o vazio dos relacionamentos na era digital.
* "A sociedade do cansaço" - Sugestão de leitura de Byung-Chul Han