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sábado, 5 de junho de 2021

Dádiva

A vida é uma dádiva. E eu nem pedi este mimo sutil. Fui contemplado com um brinde bizarro e mal-ajambrado. Não sei como se brinca com este presente insólito e não consigo usufruir deste infortúnio embalado em papel de oferenda.
Mente quem diz que a dádiva é maravilhosa.
Uma dádiva para quê? Para que serve esta dádiva? Não me divirto com favores malditos. 
E ainda dizem que eu tenho que agradecer a fraude desta oferta dolorosa.

sábado, 22 de maio de 2021

Errata

Vivemos enredados nas loucuras uns dos outros. Somos insanos por natureza. Somos um acidente da matéria. Somos um descuido cósmico. Somos um tropeço metafísico perturbador e enigmático.
Vivemos o abandono e a sofrida orfandade de quem não conhece os seus pais.
Somos uma máquina de sofrer. Somos um absurdo teimoso que insiste em achar sentidos.
Somos os patrões da inutilidade. Tantas estradas, atalhos e encruzilhadas para acabarmos podres e fétidos. Somos a erva daninha gigante e racional que devasta os lírios do mundo inteiro.

domingo, 2 de maio de 2021

Os titeriteiros

O esplêndido profeta George Orwell acertou em muita coisa, mas errou num detalhe: não é o Big Brother, são os Big Brothers.
Gostaria muito de conhecer pessoalmente os funcionários do Google, da Microsoft, do Facebook, etc.
Os gigantes das novas tecnologias se apropriaram de um poder jamais visto. Nunca ninguém teve tanto poder nas mãos. Pessoas de todas as nacionalidades, de todos os matizes, de todas as faixas etárias, imploram para ser manipuladas.
A comunicação com esses gigantes é complicada e muitas vezes, impossível. Sentimo-nos impotentes diante das façanhas dos nossos bonequeiros. Submetemo-nos de bom grado e agradecemos a dominação e o controle   com um grande sorriso nos lábios.

A guerra não é mais furtiva

Com raras exceções, os "soi-disant" sentimentos, propalados em verso e prosa, entre homens e mulheres, não passam de resíduos químicos da testosterona.
De uma forma geral, salvaguardados os casos atípicos, a relação entre homens e mulheres é uma situação de dependência química e psíquica devidamente dissimulada e orquestrada pelo folclore cultural.
Hoje, essa guerra ortodoxa e tácita não é mais furtiva. A guerra foi declarada pela terceira onda do feminismo.
Neste exato momento, os homens estão acuados, sangrando e muito assustados. As mulheres vencem e têm certeza da vitória. Todavia, a  verdadeira guerra explícita começou há pouco tempo. Que vença o mais forte.

sábado, 24 de abril de 2021

As crianças-prodígio

Vivemos a época dos imponderáveis. Hoje, uma criança sem um centavo no bolso, no capitalismo muito selvagem, é capaz de controlar e tiranizar os pais, os avós, todos os correlatos familiares, os professores e muita gente mais.
Que poder é este?
Os pais oriundos de uma geração mais sentimental e ingênua, precisam e dependem do "amor" dos filhos. Compram esse sentimento falso dando-lhes tudo e mais alguma coisa. Em contrapartida, os filhos moderninhos estão defecando e caminhando para o amor dos pais.
Atualmente, as crianças já nascem velhas, austeras e cruéis. (Aliás, sempre foram cruéis.) Não têm lugar nos seus coracõezinhos para um pouco de pieguismo e afeto pueril. É deprimente.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

O festival dos clichés

 

A família é a base da sociedade. 

Sem família está tudo perdido. 

Filho único é problemático.

Judeu é sovina. 

Português é burro.

Francês é chique. 

O brasileiro é um povo cordial.

Deus é onipotente, onisciente e onipresente.

As mulheres são muito sensíveis.

Os homens só pensam em sexo.

A tatuagem é uma forma de expressão.

Cerveja dá barriga.

Deus é fiel.

A virgem Maria era virgem. 

Só o amor constrói.

A democracia é um sistema maravilhoso.

O papa é infalível.

Há sempre um lado bom das coisas.

Crescei e multiplicai-vos. 

O nosso amor é para sempre.

Mulher é o sexo frágil.

Está escrito na bíblia.

A bíblia diz. 

Somos todos iguais.

Deus castiga.

Temos liberdade de expressão.

Quem espera sempre alcança.

As crianças são umas gracinhas.

Somos livres.

Bandido bom é bandido morto.

Só transo por amor. 

Sem você não sou ninguém. 

Esse cara sou eu. 

Deixa que eu resolvo.

Não tenho inimigos. 

Adoro a natureza. 

Salvem as baleias.

Seja vegano.

Venci na vida. 

Como todas. 

Toma este remedinho que passa.

As coisas vão melhorar. 

A vida é bela.

O inglês é uma língua muito fácil.

O importante é a beleza interior.

O Brasil é campeão.

Ele era fantástico, pena que já morreu. 

Cuidado com o juízo final.

Isso é olho gordo.

Eu te ligo.

Posta no face. 

É um festival de milagres. 

Formamos uma bela equipe. 

O chefe é um filho da puta. 

O síndico é ladrão.

Um beijo no coração. 

Jesus está voltando. 

Os sindicalistas são todos comunistas. 

Não vamos transar hoje. Vamos nos conhecer melhor.

Amai-vos uns aos outros.

Eu amo todos vocês. 

Você é o segundo homem a quem eu me entrego completamente. 

Existem os políticos bons.

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sábado, 13 de março de 2021

Pessoas e fantoches

Caro leitor. Você tem que se esvaziar. Vomitar é uma boa maneira de se desvencilhar dessa gororoba falsa que apodrece na glia de seu cérebro. Durante décadas, lotaram o seu sistema nervoso central com ideias, conceitos e visões de mundo completamente idiotas.
Cuspa, escarre, urine, defeque ou ejacule essa quantidade infame de dejetos que a sociedade e os outros te obrigaram a engolir. Não tenha medo de pensar que a maioria está errada. Eu sei que eles intimidam, mas são estúpidos. A maior prova de que eles estão errados é o estado geral do planeta.
Permita-se ter o seu cérebro vazio por algum tempo. Isto é puro budismo informal. Gradualmente, preencha o seu ser com o que vida te disse ao pé do ouvido. Entulhe o seu âmago com as suas percepções, as suas conclusões, as suas experiências, as suas observações e o seu sofrimento docente. Reflita. O que dizem não corresponde ao que você viu e viveu. É tudo muito louco e espúrio.
Esqueça os outros. Eles já atrapalharam demais a sua vida. Deixe de ser um fantoche. Fantoches, não faltam. São quase todos fantoches. Tenha coragem de ser uma pessoa de verdade.

terça-feira, 2 de março de 2021

Corações sem alma

É assustador. Parece que todos foram mordidos pela cobra peçonhenta da modernidade líquida. Estamos todos envenenados. Se vocês não veem o que eu vejo, com certeza não têm elementos de comparação e acham que o mundo começou por volta do início terceiro milênio.
Na época atual, o bonito é ter o peito vazio, ocupado apenas por um músculo que não vai além da fisiologia.
Para mim é óbvia a arrogância que tomou conta de todo mundo. Até pessoas com mais de 50 anos entraram nesta onde maligna.
A miséria afetiva é tanta que não há nem um bom dia para oferecer a um vizinho. Aliás, acho que nem há mais vizinhos, mas oponentes próximos e gigantescos viveiros de psicopatas.
Se vocês consideram que o comportamento do pós-modernismo é natural e prosaico, vocês estão muito loucos.
Detesto ser repetitivo, mas asseguro-vos que por conseguir ver isto que vocês não vislumbram, sei da alegria descomunal que todos sentirão quando esta época der lugar a um momento histórico mais são.
Esta época também passará.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

As vítimas de preconceito querem vingança

As vítimas de preconceito com as quais me solidarizo, já quiseram apenas igualdade. Infelizmente, agora, eles querem igualdade com vingança.
Lamento muito. Esta é a verdade para quem consegue ver e sobretudo sentir.
Vingança consiste na retaliação contra uma pessoa ou grupo em resposta a algo que foi percebido ou sentido como prejudicial. Embora muitos aspectos da vingança possam lembrar o conceito de igualar as coisas, na verdade a vingança em geral tem um objetivo mais destrutivo do que construtivo.

sábado, 2 de janeiro de 2021

As fronteiras minadas do amor-próprio

Nesta onda compulsiva de estímulo obsessivo ao amor-próprio, incorremos em uma das  maiores desgraças contemporâneas.
Como toda atividade humana, o encorajamento desenfreado à autoestima, nos levou ao que há de mais negativo na promoção do amor a si mesmo.
Em uma época em que todo mundo bate no peito para dizer que se ama demais, caímos na tragédia coletiva da arrogância geral. O que denominam de amor-próprio, hoje é arrogância, soberba, pedantismo, petulância, atrevimento, desrespeito, descaramento, desfaçatez, insolência e masturbação.
Mais uma vez, a espécie humana fracassa no seu intento de incentivar uma prática útil e auspiciosa.
Até eu, estou mais arrogante. Que lástima!