A CIRROSE CASEIRA
Fiquei intrigado durante alguns bons meses. Para o apartamento do meu querido vizinho, entravam dúzias e dúzias e mais dúzias de cervejas acondicionadas em embalagens plásticas. E ele sempre com aquele ar respeitável de sagrado pai de família. Muitos bons dias, muitas boas noites e ele cada vez mais empertigado, espigado e seríssimo. A musculatura do rosto quase não se contraía. O homem parecia um quadro na parede.
A esposa, uma verdadeira dama inconfundível. Refinada e sempre de saltos altos. Que mulher fina, educada e elegante! E as cervejas? Para onde ia tanta cerveja? Será que ele era revendedor de cervejas. Estranho! Era sempre a mesma marca. É ele só revendia aquela marca. Tinha exclusividade- vendedor de primeira.
Já estava ficando bêbado com tanta cerveja entrando. Nunca vi uma única cerveja saír. Que revendedor esquisito. Deveria estar fazendo um belíssimo estoque.
E o cara cada vez mais sóbrio, mais formal, mais ceremonial. Resignei-me. Ele era mágico e trabalhava com cervejas fazendo-as desaparecer. Legal!
Certo dia, estava com a porta do meu apartamento aberta e escutei um clique. Hum, aquilo era o Abstêmio abrindo uma cerveja. Só poderia ser. Alguns minutos depois mais um estalo. Mantive a porta aberta. E só ouvia estalos de latinha de cerveja. Estalos e mais estalos.
Estava explicado o enigma do depósito de cerveja. Pelo ritmo dos estalidos, não era apenas ele que abria. Era muito estalo. Não sou fofoqueiro. Ou sou? Acho que sou. Apurei o ouvido e ouvi o seguinte diálogo com vozes bem arrastadas em frases vagarosas.
- Ó Cristina! Vai fazer um negócio pra eu comer. Tô sem comer!
- Vai se fudê! Vai fazer você, porra!
- Puta que pariu! Tô cum fome!
Levei um susto estrondoso. Então, aquele era o casal com quem eu cruzava na portaria amiúde cheio dos salamaleques e das nove horas?! É.....O porre era secreto. E pelos vistos ou "pelo ouvido", se amavam demais.
Certo dia, estava com a porta do meu apartamento aberta e escutei um clique. Hum, aquilo era o Abstêmio abrindo uma cerveja. Só poderia ser. Alguns minutos depois mais um estalo. Mantive a porta aberta. E só ouvia estalos de latinha de cerveja. Estalos e mais estalos.
Estava explicado o enigma do depósito de cerveja. Pelo ritmo dos estalidos, não era apenas ele que abria. Era muito estalo. Não sou fofoqueiro. Ou sou? Acho que sou. Apurei o ouvido e ouvi o seguinte diálogo com vozes bem arrastadas em frases vagarosas.
- Ó Cristina! Vai fazer um negócio pra eu comer. Tô sem comer!
- Vai se fudê! Vai fazer você, porra!
- Puta que pariu! Tô cum fome!
Levei um susto estrondoso. Então, aquele era o casal com quem eu cruzava na portaria amiúde cheio dos salamaleques e das nove horas?! É.....O porre era secreto. E pelos vistos ou "pelo ouvido", se amavam demais.