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sábado, 30 de abril de 2016

Denunciar é muito feio

O outro lado do denuncismo
Quando a denúncia é institucionalizada é mau sinal. Quando todos denunciam todo mundo, há algo de  muito podre e patológico na sociedade em que vegetamos. 
O denuncismo sempre caracterizou regimes de exceção. A denúncia era oficial como é hoje, no Terceiro Reich Nazista, nos Expurgos de Stalin e na pseudo-revolução cultural de Mao Tse Tung. 
A sociedade globalizada fede a ditadura. O pós-modernismo líquido e neoliberal tem trejeitos e ademanes de despotismo. Resta saber quem é o ditador. Que vivemos uma ditadura não há menor sombra de dúvidas. Na pós-democracia, visto que não vivemos mais democracia nenhuma, os ditadores somos todos nós. Inaugura-se mais uma forma de tirania, a tirania institucional da maioria.
Quem já viveu um pouco, sabe que denunciar em outras épocas era uma atitude própria de quem não tinha caráter. O meu pai, por exemplo, punia o denunciante e o denunciado. 
Que a polícia cumpra o seu papel de investigar. Que sejam descobertos e punidos os infratores sem que para tanto tenhamos que recorrer a sordidez da denúncia. Se a polícia é incompetente, a denúncia não vai melhorar a polícia, a denúncia apenas vai tornar mais insuportável a vida em sociedade.
O denuncismo desenfreado como o que vivemos atualmente, promove e patrocina muitos erros, muitos enganos e muitíssimas injustiças. O caminho das aparentes facilidades, nem sempre é o melhor caminho.
Não podemos mais nos movimentar livremente nesta sociedade doente. A vigilância é feita em massa, sem nenhum critério, sob as alegações questionáveis do terrorismo onipresente.
Lamento, ter que contariar as certezas desta civilização completamente decadente. Sinto-me na obrigação de denunciar a denúncia. Denunciar é muito feio. Eu não denuncio ninguém.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Muitas estrelas para pouco firmamento

E de repente, o mundo se encheu de estrelas. Todos se dizem estrelas nisto que agora se transformou em uma narcisolândia.
Paradoxalmente, continuamos no escuro. A grande maioria das estrelas tem brilho falso. Narcisos não lapidados não brilham, apenas ocupam espaço e enfeiam a imensidão.
Estrelas em demasia não iluminam nada; poluem o horizonte e aniquilam os nossos mais preciosos valores de humanidade.
Narcisos incandescentes rasgam os céus do Facebook, assustam o Google+, povoam o Instagram e se desintegram no Twitter. Definitivamente, não há lugar para tantos espelhos. Resta-nos a ótica narcísica que tudo deturpa e nada vê. Na narcisocracia quem vê o outro, é considerado louco alucinado.
O futuro do futuro nos dirá quem nasceu para brilhar e quem é puro simulacro.

sábado, 16 de abril de 2016

Educação para covardes

      A FAVOR DO ESTRESSE
Eu fui educado para ser um covarde e você também. A nossa educação sempre gira em torno da autopreservação física e psicológica. Somos educados para gerir apenas nossos sensíveis e sacralizados umbigos. E não falta quem diga que fora dessa fórmula não há salvação social, econômica, espiritual ou humana.
Ao contrário do Mcdonalds, eu odeio tudo isso.
Conhecemos muito bem a cartilha da covardia:
1- Deixa p'ra lá!
2- Não esquenta a cabeça!
3- Isso não adianta!
4- Isso não dá em nada.
5- Cuidado! Você vai infartar.
6- Mais vale um covarde vivo que um herói morto.
7- Muita calma nessa hora!
8- Se você se estressar, você vai ficar doente. Você vai somatizar.
9- É inútil.
10- Você não vai mudar o mundo
11- Olha a pressão! Olha a pressão.
12- É......Não vou me chatear. 
13- Relaxa! Fica frio!
13- Etc, etc, etc.
Eu não vou mudar o mundo. Já pensei em poder mudá-lo quando era mais jovem, mas o mundo é um caso perdido. Agora mudo e sempre vou mudar o meu micro-mundo. Tenho mudado o meu condomínio, as minhas condições de trabalho, a minha rua, o supermercado que frequento, a minha agência bancária, a minha linha de ônibus, o meu bairro e na medida do possível a minha entourage. 
A maior arrogância, pretensão e insanidade humanas  é querer alterar alguma coisa sem se estressar. Eu não tenho nada contra o estresse. O estresse não é tão deletério como dizem. A medicina que para mim é sempre muito suspeita pelos seus conchavos com o status quo, estigmatizou o estresse como a origem de todos os males e patologias.
Temos que alterar a programação cultural e científica que é insidiosa e espúria. Se a medicina começar a propalar que o estresse é bom, ninguém nunca mais terá tanto medo de reivindicar. O poder da medicina tem que ser questionado. As certezas da medicina e dos laboratórios variam conforme os interesses econômicos e políticos do Sistema. Somos levados a pensar que o estresse é mortal para não nos rebelarmos e vivermos uma vida indigna, para vegetarmos e nos contentarmos com a fotossíntese como o máximo da realização humana na terra.
Querem melhorar o mundo, então permitam que um pouco de adrenalina, indignação, inconformismo e revolta corram nas vossas veias.
Quem foi que vos disse que aqui neste planetinha era só para sentir prazer, conforto e ter comodidade. Quem foi?
Façam as pazes com o vosso estresse porque o melhor vem depois do estresse. Sem estresse, tudo permanecerá como sempre foi.
É muito mais estressante viver neste mundo injusto, arbitrário, impiedoso, abusivo, bárbaro e atroz  do que  propriamente se estressar para tentar melhorá-lo.

sábado, 9 de abril de 2016

Como se chama o ditador?

Hoje, o respeito tem que ser na marra. Negros, crianças, mulheres, homosexuais, transexuais, nordestinos, pobres, deficientes físicos e mentais, etc, têm que ser compulsóriamente respeitados e poucas vezes se viu tanto desrespeito e indiferença.
O respeito é um dever, com certeza absoluta, mas definitivamente não começa pela linguagem. A linguagem existe básicamente para mentir ou representar o percurso da "persona". O buraco é muito mais embaixo; o buraco fica no subsolo recôndito da consciência humana.
Nesta ditadura difusa e anônima em vigor, respeita mais quem consegue ser mais hipócrita. Respeita mais, quem conhece o jargão falacioso desta época da qual nos envergonharemos um dia. 
A banalização do respeito segue o caminho do modernismo radical e tardio, onde quase tudo é frívolo, barato,  pueril, básico e superficial.
Para respeitar verdadeiramente um deficiente físico, não basta chamá-lo de portador de necessidades especiais. A mudança de nomenclatura é um remédio fácil e inócuo. É preciso muito mais que isso. É preciso que sejamos capazes de nos colocar no lugar dele e avaliar as suas dificuldades para viver num mundo feito para não deficientes. É preciso olhá-lo e vê-lo como protagonista de um drama. E em último grau, é preciso ter o dom de sentir compaixão ( cum patire- sofrer com) e de se comover.
Como pude comprovar, blá blá blá não é respeito; blá blá blá é blá blá blá.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A diversidade monolítica

Temos toda a liberdade do mundo para sermos todos muito parecidos.
Joaquim Esteves

Não vou me alongar. 
Fala-se tanto em diversidade e no direito à diferença que eu, no essencial, no fundamental, não vejo  lá tanta diferença assim. 
Continuamos a ter que pedir permissão para pensar e como dizia Bertold Brecht, "o fascismo é uma cadela que sempre está no cio". As produções e as criações humanas tendem à padronização. Senão, prestem atenção nos carros: modelos quase todos iguais e quase da mesma cor. A cor predominante nas coisas e nos objetos é o preto - estamos de luto. A tão propalada diversidade sexual apenas revela e enfatiza uma obsessão generalizada e  quase Romana pelo sexo e pelo corpo. Haveria diversidade se também se dedicassem aos misteres da alma com a mesma tenacidade. Diversidade? A falsa diversidade leva-nos diretamente para o domínio da patologia e da decadência. Com a obsessão quase Romana pela comida (Masterchef) desaguamos no pântano da diversidade dos assim chamados, transtornos alimentares.
Não consigo ver essa diversidade toda. No máximo, o mundo continua maniqueísta e em dicotomia permanente.