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quinta-feira, 7 de abril de 2016

A diversidade monolítica

Temos toda a liberdade do mundo para sermos todos muito parecidos.
Joaquim Esteves

Não vou me alongar. 
Fala-se tanto em diversidade e no direito à diferença que eu, no essencial, no fundamental, não vejo  lá tanta diferença assim. 
Continuamos a ter que pedir permissão para pensar e como dizia Bertold Brecht, "o fascismo é uma cadela que sempre está no cio". As produções e as criações humanas tendem à padronização. Senão, prestem atenção nos carros: modelos quase todos iguais e quase da mesma cor. A cor predominante nas coisas e nos objetos é o preto - estamos de luto. A tão propalada diversidade sexual apenas revela e enfatiza uma obsessão generalizada e  quase Romana pelo sexo e pelo corpo. Haveria diversidade se também se dedicassem aos misteres da alma com a mesma tenacidade. Diversidade? A falsa diversidade leva-nos diretamente para o domínio da patologia e da decadência. Com a obsessão quase Romana pela comida (Masterchef) desaguamos no pântano da diversidade dos assim chamados, transtornos alimentares.
Não consigo ver essa diversidade toda. No máximo, o mundo continua maniqueísta e em dicotomia permanente. 

sábado, 26 de março de 2016

Nas tuas mãos


Não estou aconselhando ou sugerindo nada. Escrevo porque transbordo. Não busco convencer. Procuro as palavras como companheiras e nelas encontro o conforto que preciso e que mereço. O meu pensamento não é pedagógico. Nunca fundarei uma associação para difundir o que ilumina o meu cérebro.
Eu fui afastado de mim pela cultura que me deu origem. Essa cultura mudou muito, embora continue estimulando as pessoas a se distanciarem de si próprias. Eu sustento o contrário e sob pena de me tornar chato e repetitivo, acho que vale a pena pagar o preço exorbitante de ter consciência de si próprio e afirmar quem somos.
Sei que sofremos quando não temos vínculos com os demais, mas insisto na necessidade imperiosa e primordial de trazer as nossas vidas para as nossas mãos. 
Durante muitos anos por imaturidade e ingenuidade, valorizei demais os outros, exagerando nas expectativas, colocando grande parte da minha vida nas mãos deles. O resultado foi uma profunda infelicidade duradoura
Ao fazer a transferência das mãos deles para as minhas com todos os riscos e temores, tornei-me uma pessoa feliz. A minha concepção de felicidade é Aristotélica. Eu não estou feliz; eu sou feliz.
Não preconizo o isolamento. Defendo a solidão com interlocução. O que é inadmissível é permitir que o grupo determine o ritmo da minha vida. Grande parte das experiências de intimidade são sujas pela trapaça, competição e rivalidade que reina nesse intercâmbio muitas vezes falso.
Sei que o meu corpo tem prazo de validade e com a idade todos nós nos tornamos menos interessantes sob o ponto de vista do desejo. Acho isso bom. Mais uma razão para eu mudar de estratégia e cultivar a minha alma. Sei que sou muito menos importante para a humanidade que um urso panda. Também acho isso bom. Uma razão a mais para achar êxtases na minha grande insignificância.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Negociantes do desejo

Negócios dos instintos
Se você discordar de mim, não me odeie. Isto é apenas mais uma opinião.
É impressionante o fascínio que o sentimento do amor exerce sobre todos nós. E paradoxalmente, é a coisa mais rara neste planeta. Apressamo-nos em chamar de amor qualquer sentimento por mais reles que seja. Temos ânsia de ser amados ou de amar. Deleitamos-nos com a ideia do amor. A história do homem na terra é a testemunha irrefutável da nossa diminuta capacidade de amar.
Quantos já deliraram com o amor? Poetas e companhia. O amor é o maior delírio da espécie humana, dentre outros. Se nada embaça a sua lucidez, será fácil constatar que quase não há amor. 
Tenho pelo amor uma grande reverência e por isso sou um pouco exigente. Tenho vocabulário vasto e por este simples fato, não denomino amor qualquer sentimentozinho de merda. Qualquer sentimento contaminado pela química dos hormônios, não é digno de se chamar amor. Que se retire a palavra amor de relacionamentos movidos a hormônios.
Amor é um bem querer sem medidas que nada exige em troca. Esta é a minha definição. Quem passa no crivo da minha definição?
O que observamos e o que sempre me indignou são os mecanismos que levam ao engodo do falso amor. No caso específico de homens e mulheres, de forma geral e salvaguardadas algumas raras exceções, trata-se de um mega negócio do desejo. Ora, ao contrário de Platão, para mim, desejo e amor não têm nada a ver. Hoje, sou um homem de sonhos moderados. Não consigo mais chegar ao delírio.
O que me é dado a constatar são homens e mulheres negociando acintosamente o seu desejo sexual e chamando isso de amor. Que falta de respeito e de léxico. É a avacalhação do amor.
As mulheres são exímias negociadoras, ao ponto de deixaram os homens loucos e coléricos com tanta negociação. Isso deve ser possível, suponho, porque produzem no máximo 63 nanogramas de testosterona por decilitro de sangue. Imagino que seja um desejo com direito a regulador. Ou então é estratégia pura. Ou são mais seletivas, selecionando na negociação os melhores genes. Não sei ao certo.
Os homens negociam menos ou simplesmente nem negociam o seu desejo e também o confundem bem menos com amor. Aliás, desejo se coaduna com paixão e nunca com amor. 
Estou dizendo o óbvio, ainda que isso possa melindrar certas e determinadas mulheres. Nestes tempos obscuros, gostaria de esclarecer que não quero ofender ninguém.
Então é isso, sugiro que não se construam castelos suntuosos sobre a geografia do desejo.

domingo, 13 de março de 2016

As redes sociais e o ciúme

UMA  LEGIÃO DE DESCONFIADOS 
Érica Assis, 27 anos, turismóloga, de Belo Horizonte, estava com o namorado havia seis anos quando começou a achá-lo distante. Indagado se algo estava acontecendo, ele negava. “Resolvi baixar um programa espião para descobrir sua senha do Facebook. Li conversas antigas e nada. Então entrei na página com ele online. Dito e feito: no trabalho, ele comentou com uma colega que ela estava bonita, a moça seguiu descrevendo os carinhos que faria nele e ele disse que estava excitado.” A história de Roberta Lordelo, 36 anos, auxiliar administrativa de Cruz das Almas (BA), também não teve final feliz. Na cama, logo após fazer sexo com o agora ex, deu uma olhada no que ele tanto digitava no WhatsApp. A mensagem: “Oi, tô com saudade”. “Ele confessou que conhecera uma mulher no site Badoo e que acabaram transando.”
Infidelidade sempre existiu, mas as redes e os aplicativos facilitaram a comunicação e os encontros – oficiais ou extraconjugais. Mensagens de WhatsApp chegam a ser usadas como prova de traição – o que aconteceu em 40% dos divórcios de 2014, na Itália, segundo a Associação de Advogados Matrimoniais do país. Felipe Lacerda, detetive particular em São Paulo, já perdeu a conta de quantos homens e mulheres o procuram desconfiados do que o parceiro faz na web: “Muitos me pedem para grampear o WhatsApp, o que é impossível”.
Os antigos flertes no escritório ou em qualquer ambiente que fugisse ao alcance de um dos parceiros hoje acontecem à vista de todos. Basta um follow (seguir), posts curtidos com insistência, comentários de interpretação dúbia. Quanto mais tempo o parceiro passa na rede social, mais inseguro o outro se sente. Compreensível. Diante da tela, as pessoas tendem a ficar mais desinibidas. Cara a cara é mais difícil, por exemplo, elogiar o usuário do aparelho de musculação ao lado. Já comentar a foto do corpão no Instagram... “Alguns pesquisadores afirmam que a internet cria um cenário sem equivalente no mundo offline (desconectado)”, diz o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Grupo de Dependência de Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. “Fala-se em psicologia cibernética. Nossa personalidade digital tende a ser mais intensa e sexualizada, e as relações ganham intimidade bem mais rápido do que fora daquele ambiente.”
Além disso, pessoas do círculo social atual e antigo estão sempre presentes. “Antes, se o namoro acabava, você não tinha mais notícias do ex”, exemplifica o psicanalista Christian Dunker. “Agora, até seu primeiro amor está no seu Face, ao alcance de um clique.” O mesmo ocorre com o colega de trabalho, a vizinha simpática, a antiga cliente...
“O boom das redes mudou a dinâmica das relações”, afirma Cintia Cristina Sanches, psicóloga e colaboradora do Programa de Amor e Ciúme Patológicos do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Mensagens postadas e o comportamento do parceiro em relação ao celular são os primeiros motivos apresentados por pacientes com queixa de ciúme.” Muitos buscam a terapia porque não aguentam a própria angústia. “Tive uma paciente que ia ao banheiro com o marido para se certificar de que elenão iria escrever para alguém e apagar depois”, conta Cintia. Segundo um estudo da Universidade de Guelph, no Canadá, as mulheres são as mais ciumentas nesse tipo de situação.
Flertes modernos
Nesse conturbado cenário online, nem todas as respostas para a pergunta “Estou sendo traída?” se resumem a “sim” ou “não”. As novas configurações trouxeram outros jeitos de se comunicar – inadmissíveis, na visão de alguns; e perdoáveis, para outros. São situações que pedem um exercício de interpretação. “Trocar uma intimidade erótica por meio de mensagens privadas e não ir além disso é ou não infidelidade?”, pergunta Dunker.
Nem todos que flertam digitando levam o romance para a vida desplugada. Há quem se satisfaça com o sexting – a conversa picante, ou sexo virtual. De acordo com um estudo feito em 2015 pela Universidade Drexel, nos Estados Unidos, com 870 participantes entre 18 e 82 anos, 88% afirmaram ter praticado sexting pelo menos uma vez – e, entre os comprometidos, 12% admitiram ter trocado esse tipo de mensagem fora do relacionamento.
Luana M., 29 anos, publicitária, de São Paulo, pegou uma conversa do então namorado no Skype com uma mulher. “Ela mandava fotos insinuantes e ele dizia coisas como ‘Queria encher esse pescocinho de beijos’ ”, conta. Como ele falou que aquelas conversas eram apenas diversão e que nunca passaram daquilo, ela relevou. “Só anos depois, quando uma traição se concretizou, terminei.” Ao ser surpreendida pelas conversas eróticas, Luana não achava que traições reais e virtuais tinham o mesmo peso. “Para mim, se excitar dessa forma era como ver um filme pornô. Mas não penso mais assim, porque, se me deixava triste, era tão desrespeitoso quanto se fosse físico.” Só nos Estados Unidos, quase 80% dos divórcios entre 2013 e 2014 foram motivados por cyber affair, relacionamentos comprometedores na internet que foram para a realidade ou não.
Cabe ao casal estabelecer as regras para o que considera infidelidade virtual. “Cada um vai definir seus limites e seu código moral”, diz Nabuco. Renata Maransaldi, psicóloga e coach, de São Paulo, costuma perguntar aos pacientes que tipo de relacionamento e de companheiro querem. “Tudo bem se ele paquera na internet ou deve ser alguém que não cultive esse hábito?” Saber as senhas um do outro ou mantê-las secretas também é algo a ser combinado.
Novos detetives
Stalkear é a palavra em inglês para investigar o que alguém anda fazendo na web. Para Renata, acreditar que é possível controlar os passos do outro é uma ilusão: “Mensagens são apagadas, históricos são deletados. O celular rastreado pode ter sido deixado na gaveta enquanto o dono sai ao encontro de alguém”. Antes de sucumbir à instalação de um programa espião ou fazer login no e-mail alheio, reflita se vale a pena invadir a privacidade do parceiro dessa forma. “Se você anda desconfiada ou se comentários recebidos ou feitos pelo marido na internet a incomodam, o diálogo franco ainda é a melhor saída."
Até porque, onde há fumaça, nem sempre há fogo. “Quem vigia os atos do amado geralmente age assim por causa de uma personalidade deprimida, insegurança e baixa autoestima, e é isso que precisa ser tratado”, lembra Cintia. Mas nem todos estão dispostos a essa autoanálise. “Muitas vezes, a obsessão preenche esses ciumentos, que não conseguem parar de procurar porque tiram algum gozo daquilo. Já tive pacientes que ocupavam o dia com isso e, quando descobriram a traição de fato, ficaram perdidos, sem saber o que fazer”, diz ela. O ciúme exagerado ainda traz sofrimento ao cônjuge. Que o diga Larissa Laviano, 28 anos, analista social, de São Paulo. “Ele mexia no meu celular enquanto eu dormia e desconfiava de tudo.” Várias vezes, Larissa chegou em casa e o encontrou mexendo no perfil dela no Facebook. “Então começava o interrogatório: ‘Essa postagem foi para quem? E esse comentário?’ Eu tentava acalmá-lo, mas não adiantava. Essa paranoia foi um dos principais motivos para o fim da relação.”
Assim, ao reconhecer um interesse fora do comum pela atividade online do parceiro (e vice-versa), vale propor uma conversa. Caso tudo esteja bem – ou se um dos dois, nas buscas que não resistiu a fazer, nunca encontrou nada de mais –, é saudável questionar qual a motivação para essa desconfiança. Entender o seu espaço e respeitar o do outro, tanto no modo online quanto no offline, são a base de uma relação madura.
Adaptado do MSN Brasil

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Felicidade obscena

Uma proposta indecente
Há exatos 3 anos e em cerca de 530 postagens, venho propondo o que quase ninguém quer escutar. Nem chega a se tratar de uma pregação no deserto porque eu não sou gurú nem profeta e transito no asfalto e na explosão demográfica. Portanto é muito pior que isso.
Eu afirmo a possibilidade de uma felicidade definitiva e isso soa com insanidade e absurdo. Pois não é.
O ser humano vive, para sempre parecer o que não é. Este é o corolário da existência. Tudo o que é projetado como FUGA da condição humana tem bilhões de seguidores. Eu tenho muito poucos leitores porque não os considero seguidores. Assusta-me a ideia de seguir ou ser seguido por alguém ou por alguma coisa. É uma questão muito pessoal.
O ser humano em qualquer latitude é um fugitivo de si mesmo por excelência. E tudo à sua volta conspira para facilitar a sua fuga. Desgraçamente não há nada que estimule a reflexão e a introspecção para coibir de alguma forma, essa fuga em massa de si próprio.
O que denominam felicidade, inscreve-se neste contexto de evasão. Pretende-se que só há felicidade  no caminho da fuga. Tudo favorece a fuga: a religião, o futebol, a procriação, o trabalho, a criação, as frivolidades, o sexo, as drogas lícitas e ilícitas, a política, o poder, as viagens compulsivas, os modismos, a publicidade, o casamento, etc, etc.
Para mim, fuga e felicidade são incompatíveis. O que se consegue com as fugas é outra coisa. Em geral, as pessoas ficam excitadas, contentes, alegres, motivadas, entusiasmadas, sentindo muito prazer, mas isso está muito aquém do meu conceito de felicidade. 
A minha felicidade se exerce nos limites estritos da condição humana e da metafísica. Eu sou feliz "apesar de" e nunca "porque".
A minha felicidade é fruto da minha lucidez  e não da minha alienação. Com muita frequência se associa alienação à felicidade. A felicidade que é fruto da alienação, da ignorância e da cegueira não é digna desse nome. Consultem os dicionários, por favor. 
Felicidade para mim, é concentração. Para a maioria, é dispersão. Nunca consegui ser feliz, disperso e fragmentado de mil maneiras. Nunca consegui ser feliz, diluído na massa e confundido com os outros. A minha felicidade está intrínsecamente ligada à minha identidade, à minha visão de mundo, ao reconhecimento  de quem verdadeiramente habita o meu âmago e à sintonia com esse antigo morador. 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Seria cômico se não fosse trágico

Além de criar uma série de palavras complicadas e oferecer indenizações milionárias para pessoas que se sentirem ofendidas, esse comportamento tornou-se muito "útil" para desenvolver redações, monografias ou qualquer outro trabalho acadêmico. O politicamente correto, troca palavras simples, claras e curtas por termos longos, rebuscados e obscuros.
Toda pessoa que usar uma linguagem politicamente correta pode passar por sábia diante dos amigos; muitos deles nem irão entender o que ela diz. O politicamente correto é excelente para pessoas que não querem se comunicar com as outras.
Vale lembrar que cada lugar possui seu próprio politicamente correto, por exemplo: em uma academia você pode falar mal dos fast-foods e dos gordos(ou não), mas em uma lanchonete não.
Trocando em miúdos, o politicamente correto nada mais é do que um meio de falar com os  que têm alguma forma de poder sem que eles se irritem muito com você. E em sociedade, todos pretendem ter e  têm alguma forma de poder sobre nós.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Crimes e fobias

Por usar palavras e expressões muito brandas, poucos se dão conta do horror do politicamente correto. Tenho a impressão que fui despejado na Idade Média sem direito a advogado. Cheguei ao futuro da época medieval. Senão vejamos.
O objetivo fundamental e subliminar é acabar com a individualidade, a diferença e a opinião. Não podemos mais dizer que não há mais crimes de opinião. Hoje, a opinião voltou a fazer parte da lista de crimes.
Se você não gosta de alguma coisa e isso me parece bastante legítimo, você é fóbico. E se for considerado fóbico, como a fobia passou do âmbito da psicologia para esfera criminal, você vai ser punido porque não gostar do que todo mundo diz gostar, é crime. No fundo, como a vida é um teatro e uma grande palhaçada, são poucos os que acreditam verdadeiramente no que dizem, mas para não ferir uma humanidade que de repente ficou  extremamente sensível a tudo, o cara mente desbragadamente e tem o apoio de todos.
Em outras palavras, somos estimulados pelo sistema vigente a mentir. Claro que a mentira sempre foi muito sexy e a sociedade só existe porque se mente demais. A diferença é  que a mentira nem sempre foi tão descaradamente admitida. Houve épocas em que a mentira era reprovada. Atualmente, quem pode ser politicamente correto se não for um grande mentiroso? Como todos podem gostar e apoiar as mesmas coisas? Como?
Trata-se de uma estratégia nojenta, urdida para controlar todo mundo sem grande esforço. 
Se você não gostar do seu porteiro e disser isso publicamente, podem acusá-lo de ser porteirofóbico e aí você está completamente ferrado. 
E ouvirá com certeza frases do tipo:
- Mas todo mundo gosta muito do José. Por que você não gosta do José? Ele é um excelente porteiro, fique você sabendo, etc, etc, etc.
As preferências pessoais passaram a ser classificadas como fobia. Se você não gostar muito do seu vizinho, podem rotulá-lo de propínquofóbico, limitrofóbico ou adjacentofóbico. Ao ouvir um palavrão deste quilate, você pode ser levado a crer que todos têm razão. Você é mesmo um propínquofóbico porque esta terminologia é científica, comprovada e procedente. Se não gostar de tatuagens, podem acusá-lo de ser um terrível tamborilofóbico. E aí, você passa a ser um temível monstro urbano e será apontado como grande incitador do ódio.
Cuidado! Vivemos uma das piores ditaduras de que se tem notícia. Somos vítimas ingênuas da mais insidiosa e sutil forma de dominação, embora  tudo pareça muito apropriado, correto, asséptico, saudável e maravilhoso.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Condenados ao silêncio


Muito provavelmente, a maioria de nós já foi enganada pelo politicamente correto. O termo é bonito, soa bem, parece polido, cheio de virtude, digno de ser aprendido e posto em prática. Com o tempo, no entanto, aprendemos que se trata de um embuste, mais uma daquelas novas expressões incluídas em nosso vocabulário para confundir e dar aparência de virtuoso àquilo que é vil, frívolo e indecoroso; roupagem fina para grosseria, ou um lobo em pele de cordeiro. Trata-se, na verdade, da pior ditadura que pode vir a existir: aquela em que os súditos se encarregam de subverter e subjugar os seus próprios comuns ao jugo de um poder tirano.
Essa é a realidade da sociedade contemporânea. Quando conversamos, dialogamos ou expressamos nossas ideias, fazemos o tempo todo como que pisando em ovos. As pessoas tornaram-se extremamente sensíveis a qualquer objeção ou ideia que venham a lhes desagradar. As palavras devem ser cuidadosamente escolhidas, e é preciso ter certeza que ninguém se sentirá ofendido com o que será dito.
O politicamente correto é a versão real da novilíngua, idealizada pelo governo autoritário do livro de ficção “1984”, de George Orwell.* A novilíngua não nascia naturalmente como expressão da cultura e acúmulo de conhecimento do povo, mas pela condensação e remoção dos vocábulos e de seus significados, a fim de limitar o pensamento. Simplesmente não pode estar no universo das pessoas algo que elas não têm palavras para dar sentido pleno. Controlando, portanto, a linguagem, os governantes controlavam os pensamentos e qualquer oposição que pudesse surgir de novas ideias. Logo, não era preciso se preocupar em proibir a menção de coisas, pessoas, ou situações. Bastava diminuir o escopo de construção racional sobre elas.
Da mesma maneira, o politicamente correto quer sugerir verbetes que nos imponham um pedido de autorização para falar sobre determinados assuntos, tornando imoral o uso de sinônimos diversos. Começa-se com coisas simples, aparentemente sem consequências importantes: o aleijado é deficiente físico; o cego é deficiente visual; o relacionamento homossexual é homoafetivo; o viciado é dependente químico, e assim por diante. Por mais que saibamos que existem maneiras discretas de se referir a determinadas situações, tornamo-nos mal educados e incorretos pelo simples fato de usar algumas palavras, que em si nada têm de ofensivas, são apenas descritivas.
No entanto, o mais grave ocorre quando da emissão de opiniões, de ideias ou da consciência. Expressar desacordo tornou-se discurso de ódio, e qualquer parecer contrário aos interesses de um determinado grupo vira “fobia”. Ou seja, opinião é criminalizada sem a necessidade de lei.
O uso constante do sufixo “fobia” é uma clara imposição da novílingua, a aceitação forçada do discurso oficial, bem como o de rotular oposição como discurso de ódio. Na era do politicamente correto, todos nos tornamos, de alguma maneira, fóbicos e odiosos. Se alguém não concorda como o modo de pensar ou de agir de outra pessoa, logo é acusado de ter fobia e odiar aquele a quem se opõe.
Uma demonstração bem clara dessa prática se dá no caso do programa Mais Médicos. Se você argumenta que o Brasil tem meios alternativos de resolver os problemas da saúde pública com seus próprios médicos, e, por isso, é contra a vinda de profissionais cubanos, vão lhe chamar de xenofóbico. Não interessa que você levante bons argumentos racionais, e que você não tenha nada contra os cubanos pelo fato de serem de outra nacionalidade. Você se tornou xenofóbico. Ponto final.
Igualmente, se você é contra determinada ideologia ou partido político, qualquer coisa que vier a falar contra eles, será denunciado como discurso de ódio.
É interessante também notar que isso cria uma armadilha para todos os lados envolvidos no momento que se exterioriza discordância. Veja só um exemplo que gera discussões acaloradas: quando o cristão defende princípios conservadores acerca da sexualidade, ele é rotulado de homofóbico. Ironicamente, a acusação retorna, e os homossexuais são chamados de cristofóbicos. Trata-se, claramente, de um coletivismo generalizado, que não expressa a realidade de nenhum dos grupos.
Note bem, basta acrescentar o sufixo fobia e pronto! Está aí a defesa de tuas ideias. Faça-o de acordo com tua preferência: o importante é dificultar que a outra pessoa construa argumentos, mesmo que para isso seja necessário transformar o diálogo em ataque pessoal, fora do campo da razão. Se alguém tentar argumentar contra uma prática ou uma ideia, não deixe de gritar aos quatro cantos que aquele discurso é cheio de ódio, e aos olhos de muitos, você sairá vencedor.
Quando o debate e a expressão são limitados, em vigia constante de uns sobre os outros acerca do que é certo dizer ou não, sobre quais palavras podem ser usadas e acerca do que se é permitido pensar, o diálogo, o confronto de ideias e a dialética tornam-se impossíveis. Instaura-se, assim, uma ditadura disfarçada e alimentada pelos próprios escravizados.
O que resta é o silêncio: vivemos a tirania do politicamente correto.
Warton Hertz

Os profetas

Poucos viram tão bem o que vivemos hoje: o pós-modernismo, líquido, neoliberal e tatuado.
Só uma palhinha.





sábado, 30 de janeiro de 2016

Lições imorais

Tomaram o mundo de assalto. Os canalhas se apoderaram do planeta.
Hoje, com uma certa frequência, sou convidado pelos sem caráter a ser como eles.
- Para com isso. Você não vai conseguir nada. Você é um masoquista que gosta de dar murro em ponta de faca. Vocé não é melhor do que ninguém. - dizem os filhos da puta.
Na minha época, a época boa, ouvíamos lições de moral. Atualmente, recebo sem pedir e sem querer, lições da mais vil e desprezível imoralidade. Um número crescente de pessoas acha que ter bons princípios  é uma estupidez sem tamanho.
- Por que você quer ser diferente? Você só se dá mal. Vive estressado, querendo ser o que ninguém é. Cai na real. Você não percebe que todo mundo mente, todo mundo é hipócrita, todo mundo finge. Você sabe, todo mundo tem um preço. A vida é assim mesmo. - dizem os filhos da puta
Pois então, no dia em que me for de todo impossível ser igual a mim mesmo, prefiro morrer. É isso mesmo: prefiro a morte. E eu não estou dramatizando porque não sou de fazer gênero.
De que vale viver num mundo em que os demônios com ar civilizado e politicamente correto, venceram de maneira acachapante e inquestionável?
Não se trata de maniqueísmo, é maniqueísmo mesmo, é maniqueísmo puro. Por que têm tanto medo de classificar as pessoas em boas e más? Não suporto as relativizações e o mais ou menos. Ou você tem valores que engrandecem e dignificam a espécie humana ou você é um filho da puta. 
Sei que ser crápula está na moda. Eu sempre fui contra modismos.  Nunca serei crápula, nunca serei cafajeste. A memória do meu pai não permite.
Postagens como esta, representam a perda de cerca de 3 a 4 seguidores. Estou disposto a não ter seguidor nenhum e ser fiel a mim mesmo. Não estou em busca de popularidade, nem estou em condições mentais e emocionais de acalentar as ilusões da maioria que só nos conduzem à confusão, à perdição e à infelicidade. 
Descobri uma maneira terrível e muito pessoal de me vingar do mundo cruel: ser feliz. 

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Mórbidas simbioses

Conheço criaturas que estão juntas há muito tempo, que têm um discurso extremamente desfavorável em relação ao outro e ainda assim permanecem juntas.
Ao ouvi-las falar do pretenso amigo ou namorado ou marido, parece que falam de um inimigo repulsivo e execrável.
Por que mantêm laços "afetivos" pessoas que não se prezam? É simples, para esses seres nefastos e nebulosos, é melhor mal acompanhados do que sós. Esse é o pessoal que por horror absoluto a si próprio, teme a solidão e faz qualquer negócio para nunca estar só.
Desprezo profundamente indivíduos desta estirpe. É nojento estar com alguém por não aceitar o que há de mais elementar na condição humana: a solidão. 
Em muitos outros casos, homens e mulheres continuam juntos por pura dependência sexual; é a penitência, o martírio e o suplício dos escravos jubilosos da testosterona.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

62 pessoas têm a mesma riqueza que metade da população mundial

Winnie Byanima
As 62 pessoas mais ricas do mundo têm agora o mesmo dinheiro que a soma de metade da população mundial, o equivalente a cerca de 3,5 bilhões de pessoas, à medida que os super-ricos têm ficado cada vez mais ricos e os pobres mais pobres, disse uma instituição de caridade internacional nesta segunda-feira.
A riqueza dos 62 mais ricos aumentou 44 por cento desde 2010, enquanto a riqueza dos 3,5 bilhões mais pobres caiu 41 por cento, afirmou a Oxfam em um relatório divulgado antes da reunião anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
Quase metade dos indivíduos super-ricos são dos Estados Unidos, enquanto 17 são da Europa e o restante de países como China, Brasil, México, Japão e Arábia Saudita.
"A preocupação dos líderes mundiais sobre a crescente crise da desigualdade até agora não se traduziu em ações concretas - o mundo se tornou um lugar muito mais desigual e a tendência está se acelerando", disse a diretora-executiva da Oxfam International, Winnie Byanima, em um comunicado que acompanha o estudo.
"Não podemos continuar a permitir que centenas de milhões de pessoas passem fome enquanto os recursos que poderiam ser usados ​​para ajudá-las são sugados por aqueles no topo", acrescentou Byanima.
Winnie Byanyima é diretora-executiva da Oxfam International, em Davos.
Cerca de 7,6 trilhões de dólares dos indivíduos mais ricos estão em paraísos fiscais offshore, e se fosse pago imposto sobre a renda que essa riqueza gera um adicional de 190 bilhões de dólares estaria disponível para os governos a cada ano, segundo Gabriel Zucman, professor assistente da Universidade da Califórnia em Berkeley.
Cerca de 30 por cento de toda a riqueza financeira da África é mantida no exterior, o que representa perdas de 14 bilhões de dólares em receitas fiscais todos os anos, disse a Oxfam, se referindo ao trabalho de Zucman.
Esse dinheiro é o suficiente para pagar pelos cuidados de saúde que poderiam salvar 4 milhões de vidas de crianças por ano e empregar professores suficientes para colocar todas as crianças africanas na escola, de acordo com a Oxfam.
Reuters
Por Alex Whiting

A perversa lógica humana

"Quando você perceber que para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada."
Ayn Rand 
Não sei se você já conseguiu observar o que eu vou lhe dizer. Quando eu era mais jovem não percebia nada. Louvo o meu envelhecimento com maturidade. Não há muitas vantagens em envelhecer a não ser, olhar e ver.
Eu não só vejo como fico indignado, muito indignado, porque eu consegui envelhecer com uma criança no meu coração. O meu coração gesta o meu menino.
O que eu vejo todo mundo vê; é uma evidência revoltante. O que eu vejo, vê-se muito nos ditos locais de trabalho. Nos locais de trabalho, os sem -caráter, os trapaceiros, os hipócritas e os puxa-sacos são premiados com viagens e outros agrados, ao passo que os trabalhadores, sérios, dedicados e corretos, são punidos. Essa é a pervertida lógica humana. É a perversa lógica de quem tem poder político e/ou econômico. 
Os detentores do poder, qualquer que ela seja, querem um poder com séquito, querem um poder monárquico, dinástico e folclórico. Querem pajens, bobos da corte e damas de honra. Qualquer chefinho de merda tem a sua corte.
Tenho vergonha de viver numa sociedade em que para se receber as migalhas dormidas do capital, temos que nos submeter às piores humilhações e vexames. Mas nem a vergonha é mais um sentimento ocidental. No Ocidente, a vergonha é um sentimento ultrapassado e ridículo. Os orientais dão-nos exemplos diários das relações profundas que mantêm com a vergonha e o pudor.
São poucos os judaico-cristãos que ainda sentem alguma vergonha ou têm algum resto de pudor. Vivemos um mundo sem vergonha nenhuma e completamente despudorado. 
Hoje, estou com vontade de sumir desta merda de vida idiota que nos impuseram. Mas logo serei  contaminado pelo torpor geral e pelo conformismo estúpido da maioria.

sábado, 16 de janeiro de 2016

O colapso das relações humanas

Quando cumprimento uma pessoa e ela não responde porque está conectada. Quando tento dar um sonoro bom dia e não consigo porque a pessoa está há uma hora ao celular. Quando as pessaos preferem escrever meia dúzia de palavras fúteis e banais a conversar. Quando as pessoas me cumprimentam (e é cada vez mais raro) e economizam a saudação, fazendo apenas um ligeiro e quase imperceptível meneio de cabeça, tenho a certeza absoluta que de fato ocorreu uma revolução. 
Aconteceu uma revolução infeliz, a revolução do ego doente. Aproveitando a carona de outra revolução infeliz, a revolução do invólucro, a revolução das palavras, a involução do politicamente correto, não chamemos mais de relações sociais o que nada tem de social. 
Hoje, existem relações automáticas, mecânicas e tecnológicas que estão muito longe de ser verdadeiras relações humanas. 
Definitivamente, caímos no precipício da fricção dos egos e não vamos muito além da queda. Estamos todos encurralados no abismo do ego, achando que  nos relacionamos quando na realidade, apenas fazemos movimentos estranhos nos limites da ruína.

Bypass

Bypass é um termo da língua inglesa que significa contornar, desviar ou dar a volta. Esta é a melhor decisão e a melhor estratégia para um bom caminho.
Leva-se décadas para ter a coragem de aprender a contornar, desviar e evitar os lugares comuns que só foram feitos para pisar e não para conduzir.
Gosto do novo,(sem a paranóia de descartar) do original, (até onde isso é possível) do incomum, do singular, do invulgar, do inusual, do optativo, do eletivo, do opcional, do voluntário, do livre e do facultativo.
Quem já aprendeu a contornar sabe que os outros não servem para nos fazer felizes. Servem para outras coisas, servem para tornar a vida mais divertida, menos monótona, mais confusa, mais emocionante, mais agitada e com bastante stress.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O focinho do mal

Muitas vezes tenho a impressão clara que as pessoas andam de olhos vendados. Quem anda de olhos vendados tem os seus movimentos orientados pelos outros. É uma situação sedutora e confortável. Os videntes que se recusam a ver não querem exercitar as suas retinas. Preferem viver pelas córneas dos outros; às custas do olhar alheio.
Sócrates, já se ferrou há 2.500 anos ao propor à juventude ateniense a autonomia da visão. Eu não sou Sócrates, eu não sou nada, mas pelo menos faço jus aos meus olhos físicos e metafóricos que a natureza e a vida me deram. E por isso sei que quem propõe autonomia, independência e poder pessoal, um dia vai se ferrar. Tudo é feito e previsto para o bando. Não correm riscos os que discursam para a boiada pacificada pela mentira.
Está todo mundo muito protegido por Papai Noel e outras entidades oníricas do encontro direto com o mal. Até parece, neste  velho e surrado faz-de-conta que o mal não existe. Até parece que gostam de você. Até parece. Até parece que você tem alguma importância. Até parece que os bons venceram finalmente. Até parece.
Adorei ter envelhecido e ter desenvolvido a capacidade de desmascarar o mal nas primeiras e balbuciantes hipocrisias. O mal não me assusta mais. Por saber que o bem é raro e que o mal é onipresente, estou familiarizado com os odores do mal. 
A minha maior ambição é poder permanecer imóvel e impávido diante dos horrores do mal. Confesso que ainda não cheguei a esse ponto. Mas hoje, já consigo identificar ao longe o monóxido tóxico que exalam os focinhos do mal.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Sucesso é o que a gente sente

Eu não sou de acalentar ilusões alheias; tenho tendência a destruí-las. Não vivo mais de ilusões. Nutro algumas esperanças vagas e talvez vãs, mas tenho todas as esperanças possíveis em mim.
Os fugitivos da luta, acabam por não saber fazer nada. Só confrontando os problemas do cotidiano com coragem é que aprendemos tudo, inclusive a trocar uma carrapeta.
Quem foge à luta porque não quer se estressar, porque não quer se incomodar, com o tempo torna-se uma pessoa inútil. Inútil para resolver coisas exteriores e inútil para promover o seu próprio bem-estar. Aos preguiçosos emocionais, não resta quase nada.
Quem não gosta de lutar porque incutiu ou incutiram-lhe que a vida é bela por si só e que este é um lugar de felicidade quase gratuita, prefere seguir e respeitar receitas estúpidas de comportamento.
Pois então, sucesso não é nada disso o que dizem por aí os mantenedores do status quo. Não tenho medo de achar que a civilização é patológica porque é mesmo.
É muito perigoso dizer-se que sucesso é aquilo que a gente sente porque poucos serão os bem sucedidos. 
Ninguém fala disso. Pra que falar de coisas importantes? Neste planeta, cerca de um milhão e 200 mil pessoas cometem o suicídio a cada ano. Há mais de 350 milhões de pessoas com depressão, etc,etc. Poupo-vos da ladainha de desgraças.
É preferível pensar que o sucesso só pode vir de fora e de preferência dos outros. Isso entretem, mantem-nos ocupados e até diverte a maioria, mas não significa coisa nenhuma.
Todos sabem como se sentem, mas poucos são os que têm a honestidade de dizer a verdade. E neste " me engana que eu gosto" coletivo, tudo tem os trajes e os trejeitos da verdade.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Criatividade e doença mental


Fama e fortuna não fazem muita diferença, a criatividade é que faz com que atores, músicos e escritores sejam mais propensos à depressão e vícios do que a média das pessoas comuns, de acordo com especialistas entrevistados pela AFP.
Foi a depressão que levou o criativo ator Robin Williams a supostamente cometer o suícidio, o mais recente caso de uma significativa e triste lista. Artistas como Jim Carrey, Catherine Zeta-Jones, Mel Gibson ou Poelvoorde já falaram abertamente sobre sua depressão, associada ou não ao consumo de álcool ou drogas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 350 milhões de pessoas de todas as idades sofrem de depressão em todo o mundo. “Na sua forma mais grave, pode levar ao suicídio”, ressalta a OMS, que se refere a uma estimativa de “1 milhão de mortes a cada ano.”
A assessora de imprensa de Robin Williams, Mara Buxbaum, explicou que o herói de “Bom-dia, Vietnã”, “Uma babá quase perfeita”, “Gênio Indomável” e “A Sociedade dos Poetas Mortos” lutava contra uma depressão profunda. Segundo a polícia, a causa provável de sua morte foi “suicídio por asfixia”.
Para o professor Michel Reynaud, chefe do departamento de psiquiatria e dependência no hotel Paul Brousse em Villejuif, Paris, existe uma ligação entre talento criativo, depressão e dependência.
“Os artistas são muitas vezes pessoas mais sensíveis, sentem mais intensamente as emoções. Isso acontece geralmente com escritores, poetas, músicos, atores, de muita qualidade, mas por trás de seres muitas vezes ansiosos, deprimidos, bipolares”, observa.
Além disso, produtos com o álcool e as drogas, geralmente disponíveis em seu ambiente – “meio de divertimento, festivo, de dinheiro” – são vistos como facilitadores da expressão artística.
Deve-se ainda acrescentar, segundo ele, a pressão pelo sucesso e atores que vivem “numa espécie de exaltação narcisista”. “Eles dizem que representam bem a sua vida e narcisismo em cada filme ou cada peça”.
Sem razão claramente identificável
“Existem alguns estudos que ligam o talento criativo à saúde mental, embora o mecanismo exato ainda seja um mistério”, observa o professor Vikram Patel, diretor do Centro Britânico para a Saúde Mental Mundial (Global Mental Health).
“Os circuitos cerebrais que são a fonte da criatividade são os mesmos que os das doenças mentais, então, ser criativo pode aumentar o risco de doença mental”, diz.
A ligação entre depressão, transtorno bipolar e dependência também pode ocorrer, porque, segundo o professor Reynaud, “entre um terço e 50% dos viciados são deprimidos e a metade dos bipolares têm problemas de dependência”.
“E o vício por si só provoca síndromes depressivas, muitas vezes graves, durante as quais as pessoas podem cometer suicídio”, acrescenta.
Um estudo do Journal of Phenomenological Psychology em 2009 garantia que, ao mesmo tempo em que a celebridade pode trazer riqueza, privilégio e “imortalidade simbólica”, há um preço a pagar para o estado mental que isola as pessoas, os torna desconfiados em relação a outros, e que pode levar a uma divisão entre “celebridade” e “pessoa privada”.
Para Jeffrey Borenstein, presidente da Brain and Behaviour Research de Nova York, “as pessoas estão lutando para entender por que alguém que parece ter tudo pode estar deprimido”.
“Muitas vezes pensamos que a depressão ocorre durante uma vida difícil, e às vezes isso acontece, mas muitas vezes a depressão ocorre sem causa claramente identificada”, diz ele.
Os meios artísticos não são os únicos suscetíveis, revela ainda Reynaud, citando os comerciantes. ”Algumas profissões são mais vulneráveis que outras quando o modo de vida é desregrado, a pressão é grande e o acesso a produtos químicos é fácil”, resume.
Dominique Ageorges e Mariette Le Roux