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sábado, 22 de julho de 2017

Pascal e as novas tecnologias

Primeiro, vamos entender o que é "Divertissement", "Divertimento" segundo Blaise Pascal. Divertir-se, hoje é distrair-se, espairecer, deleitar-se, desentediar-se, etc.
Antes do século XVII, a palavra conforme a sua etimologia latina, (divertere) significava "ação de desviar de" por exemplo desviar um bem de um inventário. Pascal constrói a partir da etimologia uma categoria moral. O "Divertimento" é uma prática de esquiva, típica da existência humana. Trata-se  de não pensar em nada que nos aflija e que nos desvie da realidade desagradável. Esta realidade desagradável não é um mal circunstancial, por exemplo um luto ou um fracasso sentimental ou profissional; é uma infelicidade constitutiva de nossa existência. Nossa condição é a de um ser fraco, mortal, exposto à doença, à solidão e ainda por cima privado do único ser capaz de solucionar todo este imbróglio:deus.
Considerando que os homens não podem curar a morte, a miséria e a ignorância, não pensar nesta situação é a solução da grande maioria.
Nada é mais insuportável ao homem que ficar em pleno estado  de repouso, sem paixões, sem atividades, sem divertimento. Em repouso, (en repos) ele sente o seu  nada, o seu abandono, a sua insuficiência, a sua impotência e o seu vazio. 
É neste contexto, que as novas tecnologias se prestam a tornar a fuga muito mais possível e muito bem sucedida. Acho que as novas tecnologias não foram apenas criadas para facilitar relações, difundir informações e fomentar intercâmbios. A principal função das redes sociais, internet e etc, é promover de maneira muito eficaz a fuga de si próprio e  a não-reflexão. Aliás, nunca se viveu uma época tão alienante, superficial e anti-introspectiva.  

A Miséria do Divertimento

Se o homem fosse feliz, sê-lo-ia tanto mais quanto menos divertido, como os Santos e Deus. - Sim; mas não sendo feliz pode animar-se pelo divertimento? - Não; porque vem doutro sítio e de fora; e assim é dependente e, portanto, sujeito a ser perturbado por mil acidentes que tornam as aflições inevitáveis.
(...) A única coisa que nos consola das nossas misérias é o divertimento, e contudo é a maior das nossas misérias. Porque é isto que nos impede principalmente de pensar em nós, e que nos faz perder insensivelmente. Sem isso, estaríamos no tédio, e este tédio levava-nos a procurar um meio mais sólido de sair dele. Mas o divertimento distrai-nos e faz-nos chegar insensivelmente à morte.
Blaise Pascal, in "Pensamentos"

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