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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A doença boa

 A doença mental epidêmica
O trabalho cuja etimologia está ligada a um instrumento de tortura medieval chamado "Tripalium", hoje é guindado à categoria de melhor atividade para o ser humano normal.
Sou dono de uma das imaginações mais férteis de que se tem notícia, não obstante,  jamais poderia supor que alguém um dia se viciaria em trabalhar. Isto ultrapassou sobejamente todos os limites da minha capacidade de devanear.
Todos os viciados em trabalho, acham sem exceções que são as pessoas mais saudáveis do mundo porque trabalhar é bom, é digno, enobrece, engrandece e outras baboseiras culturais repetidas à exaustão.
Se um determinado indivíduo não consegue viver e ser feliz sem trabalhar, se até aos domingos trabalha, se também trabalha nas férias e se apenas o trabalho lhe faculta bem-estar, esse cara está enfermo. E o pior desta patologia esdrúxula é que esses doentes por exercerem na grande maioria das vezes, cargos de mando, condenam toda a instituição à enfermidade. Em outras palavras, se o chefe é maluco, todo mundo tem que se tornar maluco urgentemente para agradar ao chefinho doidão. É um círculo vicioso e uma bola de neve. Parece que o Aedes aegypti do trabalho picou todo mundo.
Atualmente, só se fala em corpo. Como alimentar o corpo, como cuidar do corpo, como embelezar o corpo, como usufruir do corpo e como ser um corpo que tem um sistema nervoso central. Fala-se também, exagerada e obsessivamente em trabalhar porque o neoliberalismo nos roubou o tempo livre, o tempo de viver. Há uma relação óbvia entre o capitalismo cruel e desalmado e o trabalho-doença. E no meio desta relação está sentada a dona ganância.
As pessoas fazem uma confusão enorme entre trabalhar e viver porque estão doentes. Trabalhar  também passou a fazer parte da vida, mas viver não é trabalhar. Há milhões de coisas muito mais interessantes e saudáveis a fazer e com pouco dinheiro. Só um doente muitíssimo grave pode extraír do trabalho que estressa, desgasta, extenua, humilha, maltratada e violenta, a única e maior fonte de prazer. 

Um comentário:

  1. Muito bem colocado, meu bom amigo Joaquim: "...trabalhar porque o neoliberalismo nos roubou o tempo livre, o tempo de viver. Há uma relação óbvia entre o capitalismo cruel e desalmado e o trabalho-doença. E no meio desta relação está sentada a dona ganância."

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