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sábado, 12 de maio de 2018

O advento do pavonismo

É com profundo e extremo pesar que constato a morte do narcisismo. Adeus narcisos, adeus ninfas, adeus mitologia.
Saímos da botânica e entramos na ornitologia. Habito o planeta dos pavões. Pavões tatuados, pavões musculosos, pavões de penas sintéticas, pavões de cativeiro, pavões sabichões, pavões voadores, pavões estressados, pavões senadores, pavões magistrados, revoadas de pavões, pavões...
Darwin estava errado. A involução chegou ao Homo Pavos.

sábado, 28 de abril de 2018

Em plena caquistocracia

O GOVERNO DOS PIORES
Para entender melhor a motivação que fez esta palavra nascer (seja lá quem tenha sido o seu criador), é necessário voltar, na Grécia antiga, à obra de Políbio que morreu no ano de 125 a.C. Assim como todas as coisas estão sujeitas à degeneração, dizia ele, também degeneram as formas de governo que podemos adotar. Assim como a ferrugem para o ferro ou o caruncho para a madeira, são enfermidades internas que podem destruir esses materiais, cada um dos regimes políticos conhecidos traz consigo o risco de uma enfermidade que pode desvirtuá-lo: a monarquia, com o rei bom, pode degenerar em tirania (ou despotismo). A aristocracia, em que mandam os mais sábios (de aristós, "o melhor" + cracia, "poder"), pode degenerar em oligarquia (de olígos, "pouco" + arquia, "autoridade"), o governo de poucos, ávidos predadores da sociedade. Finalmente, a democracia (de demos, "povo") pode descambar para a oclocracia (de óclos, "multidão"), o governo da ralé que, controlada por demagogos, usa a força bruta para se sobrepor à lei e às instituições.
Políbio preconizava, como preferível, um sistema político que misturasse as virtudes das três formas benignas (monarquia, aristocracia e democracia) para estabelecer um regime misto em que os melhores mandassem em nome do povo, mas nunca chegou a pensar, como fez Michelangelo Bovero, na possibilidade oposta - um regime em que viessem a se combinar as características das três formas degeneradas (tirania, oligarquia e oclocracia). 
Bovero que é nosso contemporâneo, acompanhou a dissolução política que caracterizou a Itália de Berlusconi e viu nascer esse sistema - hoje tão próximo do Brasil e de seus vizinhos - que mistura a cega violência da massa, a oligarquia dos ricos e o autoritarismo quase ditatorial dos líderes demagógicos. Pois foi justamente para nomear esta sinistra combinação dos vícios e defeitos de todos os sistemas que lhe ocorreu (como já tinha ocorrido a outros, antes dele) juntar a cracia o elemento kakistos, "pior" (superlativo de kakos, "mau, ruim" - o mesmo que usamos em cacófato e em cacofonia). É claro que nem ele, nem Venturini, nem ninguém antes deles pode ser considerado o "pai" desta palavra. Caquistocracia nada mais é que um vocábulo que já existia virtualmente no nosso estoque de palavras possíveis, à espera apenas, de que a vida real produzisse as condições necessárias para que alguém o empregasse. E o momento é agora.
Texto adaptado do site GAUCHAZH

sábado, 14 de abril de 2018

Os encantadores de demônios

Sempre tivemos encantadores de serpentes. Hoje, nesta época encantada, temos muito mais. Há encantadores de cães, de gatos, de idiotas, de narcisos e de demônios, entre outros.
A fusão do desespero com a ignorância é terra mais do que fértil para os encantadores de demônios. Desesperado, o indivíduo faz qualquer coisa. O desespero é a razão cremada. Desesperado e ignorante, o indivíduo faz muitíssimo mais que qualquer coisa.
Os encantadores de demônios, também conhecidos como pastores neo-pentecostais, institucionalizam o encantamento do diabo. Cadê o Ministério Público?

segunda-feira, 9 de abril de 2018

A maioria segundo Goethe

E este blog criado em 2013 é dedicado a todos os reféns da maioria. É provável que você também seja um refém anônimo e desamparado dessa massa amorfa e monstruosa.