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sexta-feira, 27 de maio de 2016

A guerra dos egos

Eu que sou do tempo da guerra fria, começo concluindo que o ser humano não quer e não sabe viver em paz. É muito pouca coisa pra muitos vermes. 
Agora, tenho que me envolver na terceira  guerra mundial: a guerra dos egos. Vivo num mundo absolutamente gordo; almas infladas em corpos obesos.
Não queria me dar ao trabalho de encher a minha alma de ar só para poder entrar na guerra, mas a guerra está declarada. A continuarmos assim, também a alma vai fermentar e soltar flatulências. Não bastavam os flatos orgânicos, faltavam-nos os peidos anímicos. Como é deprimente viver numa sociedade que fede por todas as perspectivas e ainda destrói a camada de ozônio.
Hoje, falam em cibridismo, o preâmbulo da mais nova insanidade. Querem que eu viva na corda bamba entre o online e o offline. Eu não sou equilibrista e já não gosto mais de circos depois que tiraram os leões infelizes, angustiados e aos prantos.
O orgulho exacerbado e a vaidade extrema vão acabar com a espécie. Eu só quero cinco minutos antes do fim, para comemorar com Moët & Chandon, Épernay - France.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Entre dois mundos

O mundo esquizóide
No virtual, todos me amam e todos são felizes. Todos mostram o que lhes convem expôr. Todos me curtem e todos me marcam. No virtual, só palavras gentis - a gentileza é obrigatória. No virtual, se brigar com um, brigo com o grupo todo, brigo com o mundo inteiro. Tudo é público e escancarado e não há mais portas; há filtros. Todos empunham as mesmas bandeiras surradas e previsíveis. Todos perderam a timidez e se desnudam numa orgia existencial sem precedentes; o pudor já faleceu há décadas.
No real, nem um bom dia, nem um aceno de cabeça, nada. O real está ficando quieto e assustador. Quase todos debandaram para o virtual. O mundo fugiu para o Facebook e o meu mundo está deserto. 
Choro a morte do mundo e estou só nas ruínas do fim do mundo. Viver de mentirinha também é viver; esta é a nova ordem mundial. Falo com estranhos com  intimidade e  cerimônia. Os desconhecidos agora fazem parte do meu cotidiano. Amo e detesto gente que nunca vou ver na vida. Converti carência em arrogância e faço poses para a plateía. Vibro e  me regozijo quando a poderosa e sagrada internet nota a minha pobre presença.
Até há os que não sabem mais o que é carne e osso,  e têm uma ideia vaga da fisiologia. Projeto  imagens e pretendo ter relações humanas profundas com espectros. 
Comovo-me  e me enterneço com os rastros dos fantasmas cibernéticos. Resigno-me e me acovardo porque não tenho nenhum poder sobre as circunstâncias e  as tendências. Sinto que me tornei um produto e me dou ao sacrifício do consumo. Estou só num grande alvoroço e me empenho para me adaptar à esquizofrenia. Procuro gente e me contento com qualquer vestígio de humanidade.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Zoos humanos

A expressão zoo humano descreve uma prática cultural que prevaleceu nos impérios coloniais até a II Guerra Mundial. A expressão foi popularizada na França pela publicação em 2002 da obra Zoos humains, escrita por vários historiadores franceses especialistas nesse fenômeno cultural.
As exposições coloniais eram ocasiões onde o público da metrópole tinha contato com uma amostra de tribos expostas em situações forçadas num ambiente reconstituído.
No final do século XIX, não havia um único cidadão francês que não tivesse descoberto uma reconstituição "autêntica" desses ambientes selvagens, povoados de homens e de animais exóticos, entre uma exposição, a missa dominical e o passeio no lago.
Os zoológicos humanos, exposições etnológicas ou aldeias negras, continuam sendo assuntos complexos a serem abordados por países que exaltam a igualdade de todos os seres humanos.
De fato, esses "zoos", nos quais indivíduos "exóticos" misturados a animais selvagens eram mostrados atrás das grades ou em recintos delimitados a um público ávido de distração, constituem a prova mais evidente da defasagem que existe entre o discurso e a prática no tempo da construção dos impérios coloniais.
Hoje, em pleno século XXI, pode-nos parecer incrível e aberrante, mas ainda não há muito tempo, eram uma realidade nas principais cidades da Europa Ocidental. Em 1958, em Bruxelas, os Zoos Humanos eram uma atração para muitos visitantes que se consideravam oriundos de uma "raça superior".
Estas exposições geralmente enfatizavam as diferenças entre os europeus ocidentais e os povos não europeus ou com um estilo de vida considerado primitivo.
Aconselho o documentário Zoologicos Humanos.
https://youtu.be/IRYtkxMYogo

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Palavras não se guardam

Com a praga do P.C.( Politicamente Correto), como diz o Luis Filipe Pondé, há uma economia forçada da palavra adequada e certa. Palavras existem para serem ditas ou escritas. Para o bem e para o mal, escreva e diga. Fale de amor, de ódio e do que quiser. Não fale para não dizer nada, nem escreva para cansar e embromar.
Não gosto de quem escolhe palavras como se catasse feijão. Diga. Escreva. Eu decido se é bom ou mau, se dói ou não. Não seja um editor de textos nem um empilhador de palavras não ditas, seja gente. E se você pensa que selecionar palavras, é uma grande estratégia de convivência social, você só vai me dar razão quando as palavras te sufocarem e decretarem a tua morte por pura fraude.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Schadenfreude: quando a minha desgraça é a sua felicidade

Schadenfreude é uma palavra alemã, Schaden (dano) e Freude (alegria), utilizada para designar o prazer obtido com os problemas dos outros. É a palavra que dá significado ao sentimento descrito no dito popular "pimenta nos olhos dos outros é refresco".
Schadenfreude pode ser observado desde as risadas causadas pelo palhaço de circo que escorrega na casca de banana, ao prazer de algumas pessoas com os problemas de Britney Spears dois anos atrás (cujas fotos decadentes estiveram esparramadas por todos os tablóides em um grande exempo da palavra), ao prazer com o divórcio da amiga que parecia ter o casamento perfeito. Todos são exemplos deste sentimento nunca comentado mas generalizado na população.

Desde os tempos bíblicos há menções de uma emoção semelhante na descrição ao schadenfreude: "Quando cair o teu inimigo, não te alegres, nem se regozije o teu coração quando ele tropeçar; Para que, vendo-o o Senhor, seja isso mau aos seus olhos, e desvie dele a sua ira" (Provérbios 24:17-18). Na Grécia clássica, Aristóteles usou o termo epikhairekakia na obra Ética a Nicômaco, que quer dizer "alguém que sente prazer com o infortúnio de outro"

Quando o conceito passou a ser incorporado no linguajar europeu, apenas sua menção causava horrores. Mesmo o lúgubre filósofo alemão do século 19 Arthur Schopenhauer considerava este prazer terrível demais para ser contemplado e embora ateu, Shopenhauer dizia que schadenfreude era obra do diabo. Teólogos protestantes e católicos posteriormente denunciaram schadenfreude como um grave pecado, embora poucos estejam livre dele.

 
Homer imagina a desgraça de Flanders com um   sorriso nos lábios no episódio "When Flanders Fails" (Quando Flanders Falha) da terceira temporada do desenho americano Os Simpsons
Schadenfreude atrai porque é uma vingança desempenhada sem qualquer esforço por parte do observador. A sensação é parecida com a conquista de um inimigo. E é justamente por esta razão que Friedrich Nietzsche argumentava que o sentimento é de fato perigoso. O prazer sentido é ilegítimo e desta forma culposo; o indivívuo nada fez para o receber. Uma vitória recebida sem qualquer competição não pode ser nada mais do que "vendeta imaginária", apenas uma satisfação virtual. Nietzsche chegou até mesmo a hipotetizar que sentimentos de inferioridade intensificam o schadenfreude.
O famoso filósofo alemão estava no caminho certo. R.H. Smith, um psicólogo da Universidade de Kentucky nos EUA, estudioso da inveja em psicologia social, escreveu diversos artigos que trazem evidências do que Nietzsche teorizou. Smith realizou um experimento no qual estudava reações a histórias aparentemente verdadeiras de dois estudantes de medicina que arruinaram suas carreiras ao roubar drogas do laboratório da universidade. Um deles era rico, bonito e bom aluno. O outro era o oposto. Os voluntários no experimento de Smith sentiram mais alegria ao ver o infortúnio do aluno que apresentava maior sucesso. Os achados de Leach et al., publicados em 2003 no Journal of Personality and Social Psychology reforçam estes achados. Os pesquisadores deste estudo, analisaram o sentimento de prazer com a perda alemã no futebol.
Os psicólogos que investigam a área baseiam seu trabalho no que é conhecido como Social Comparison Theory (Teoria da Comparação Social). O campo foi concebido na década de 1950 por Leon Festinger e é baseado na premissa de que os humanos avaliam-se não tanto por objetivos estandardizados mas por comparação aos outros em seu redor. Uma piadinha americana exemplifica isso:
Dois homens estão caminhando pela floresta quando encontram um urso. O primeiro abre sua mochila e pega seus tênis. "Porque você vai colocar tênis?'', pergunta o segundo. "É impossível correr mais que um urso". "Eu não tenho que correr mais que o urso", responde o homem, "só tenho que correr mais que você".
 
O jogador Ronaldo, vítima de Schadenfreude ao ter seu nome associado a uma orgia com travestis
Segundo esta teoria, nossos sucessos e insucessos na verdade são assim concebidos com base no que as pessoas ao nosso redor têm ou fazem - fazemos comparações sociais. Quando as pessoas à nossa volta sofrem perdas, isso faz com que nosso desempenho melhore.
Aaron Ben-Ze'ev, professor de filosofia na Universidade de Haifa, em Israel, teoriza que as pessoas que invejamos mais são as mais próximas em nosso círculo social. Em entrevista ao New York Times, ele disse: "Você inveja mais um colega que ganha mil dólares a mais por ano do que um presidente de empresa, que ganha milhões de dólares a mais". Ele continua: "Também invejamos mais pessoas famosas, elas são símbolos para nós".
No campo dos estudos de imagem, Takahashi et al, estudaram a neurologia deste sentimento proibido. Os autores utilizaram fMRI (Ressonância Magnética Funcional) para avaliar a ativação cerebral aos sentimentos de inveja e schadenfreude em 19 voluntários. Os resultados foram publicados na revista Science em 2009:
No experimento de inveja, os voluntários deveriam visualizar cenários nos quais eram protagonistas. No primeiro cenário, um estudante A foi bem nas provas da faculdade, mas o protagonista não foi. A é um atleta talentoso (ao contrário do protagonista), é popular com as garotas e tem uma bela e inteligente namorada (ao contrário do protagonista). A foi bem numa entrevista de emprego e está se dando muito bem no trabalho. Seu salário é bom e ele vive com estilo (ao contrário do protagonista).
No experimento de schadenfreude, o protagonista sai-se bem melhor do que A. As análises envolveram comparação da ativação em diferentes regiões cerebrais aos cenários de inveja, schadenfreude e neutro e os voluntários também graduaram seus próprios sentimentos de inveja e regozijo em cada cenário. Os resultados mostraram que o cenário de inveja levou a maior ativação do córtex cingulado anterior (CCA) e este achado foi correlacionado a maiores sentimentos relatados de inveja. O CCA é relacionado a detecção de erros ou conflitos - quando a resposta esperada não é a que acontece. O CCA também é ativado na dor, dor empática ou dor associada a exclusão social. A ativação do CCA só aconteceu quando o voluntário conseguia se relacionar com o objeto de sua inveja. Se o voluntário imaginasse que a pessoa alvo é irrelevante para comparação, os resultados mostravam indiferença (o que corrobora a hipótese de Ben-Ze'ev).
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Em Portugal o apresentador de TV Carlos Cruz teve seu nome arrastado na lama ao ser associado a um escândalo de pedofilia no Processo Casa Pia. Vítima de schadenfreude, a última reportagem que li dele foi dizendo que agora saía de férias em um trailer para parques de campismo ao invés de ficar em hotéis 5 estrelas.
Os cenários de schadenfreude causaram ativação no estriado ventral e esta ativação foi correlacionada a sentimentos auto-referidos de schadenfreude. Da mesma forma que no cenário de inveja, a correlação só foi positiva quando o exemplo alvo era relevante para comparação pessoal. A ativação do estriado ventral é tipicamente associada a estímulo de recompensa e os autores interpretaram sua ativação com sentimentos de prazer.
Os autores concluem com a proposta de um mecanismo neurológico para inveja e schadenfreude, que podem ser mediados de diversas formas. Uma delas é que a pessoa em questão, alvo dos sentimentos deve ser importante para um indivíduo. O quanto você empatiza com este indivíduo alvo determina a intensidade dos sentimentos de inveja e schadenfreude.
Fulford (2003) em sua coluna no National Post acredita que ocasionalmente o schadenfreude pode ser justificado e prazeroso. O autor descreve a história de Peter Gay, que relata em seu livro My German Question seu episódio de prazer com a desgraça alheia: Gay era um adolescente judeu perseguido na alemanha nazista. Ele se lembra do prazer que sentiu ao ver os atletas alemães perdendo medalhas para aqueles que tinham certeza que eram seus inferiores (especialmente para um negro americano no atletismo). Enquanto os fãs alemães agoniavam, Gay deliciava-se. Schadenfreude, segundo Gay, "pode ser um dos grandes prazeres da vida."
P.S. - Schadenfreude [/ˈʃɑː.dənˌfrɔɪ.də/], literalmente, alegria ao dano) é um empréstimo linguístico da língua alemã também usado em outras línguas do Ocidente para designar o sentimento de alegria ou satisfação perante o dano ou infortúnio de um terceiro. Em português o termo mais adequado para se traduzir schadenfreude é “escárnio” (não podendo, no entanto, ser tido como um sinónimo absoluto).
A palavra deriva do alemão Schaden “dano, prejuízo” e Freude “alegria, prazer”.
Existe uma distinção entre schadenfreude discreta, o sentimento íntimo pessoal e schadenfreude pública, que se expressa abertamente mostrando escárnio, ironia ou sarcasmo perante a desventura sofrida por um terceiro.
Na língua portuguesa o sentimento de satisfação pelo infortúnio de outro expressa-se na exclamação "bem feito a ele ou ela" (schadenfreude pública).
"Que coisa mais medonha de se imaginar que uma língua possa possuir uma palavra que expresse o prazer que o homem sente para com calamidades alheias; a própria existência da palavra presta testemunho da existência da coisa. E mesmo assim, em mais de um idiotal palavra existe ...
No grego epikhairekakia, no alemão Schadenfreude." 
Richard C. Trench


sábado, 30 de abril de 2016

Denunciar é muito feio

O outro lado do denuncismo
Quando a denúncia é institucionalizada é mau sinal. Quando todos denunciam todo mundo, há algo de  muito podre e patológico na sociedade em que vegetamos. 
O denuncismo sempre caracterizou regimes de exceção. A denúncia era oficial como é hoje, no Terceiro Reich Nazista, nos Expurgos de Stalin e na pseudo-revolução cultural de Mao Tse Tung. 
A sociedade globalizada fede a ditadura. O pós-modernismo líquido e neoliberal tem trejeitos e ademanes de despotismo. Resta saber quem é o ditador. Que vivemos uma ditadura não há menor sombra de dúvidas. Na pós-democracia, visto que não vivemos mais democracia nenhuma, os ditadores somos todos nós. Inaugura-se mais uma forma de tirania, a tirania institucional da maioria.
Quem já viveu um pouco, sabe que denunciar em outras épocas era uma atitude própria de quem não tinha caráter. O meu pai, por exemplo, punia o denunciante e o denunciado. 
Que a polícia cumpra o seu papel de investigar. Que sejam descobertos e punidos os infratores sem que para tanto tenhamos que recorrer a sordidez da denúncia. Se a polícia é incompetente, a denúncia não vai melhorar a polícia, a denúncia apenas vai tornar mais insuportável a vida em sociedade.
O denuncismo desenfreado como o que vivemos atualmente, promove e patrocina muitos erros, muitos enganos e muitíssimas injustiças. O caminho das aparentes facilidades, nem sempre é o melhor caminho.
Não podemos mais nos movimentar livremente nesta sociedade doente. A vigilância é feita em massa, sem nenhum critério, sob as alegações questionáveis do terrorismo onipresente.
Lamento, ter que contariar as certezas desta civilização completamente decadente. Sinto-me na obrigação de denunciar a denúncia. Denunciar é muito feio. Eu não denuncio ninguém.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Muitas estrelas para pouco firmamento

E de repente, o mundo se encheu de estrelas. Todos se dizem estrelas nisto que agora se transformou em uma narcisolândia.
Paradoxalmente, continuamos no escuro. A grande maioria das estrelas tem brilho falso. Narcisos não lapidados não brilham, apenas ocupam espaço e enfeiam a imensidão.
Estrelas em demasia não iluminam nada; poluem o horizonte e aniquilam os nossos mais preciosos valores de humanidade.
Narcisos incandescentes rasgam os céus do Facebook, assustam o Google+, povoam o Instagram e se desintegram no Twitter. Definitivamente, não há lugar para tantos espelhos. Resta-nos a ótica narcísica que tudo deturpa e nada vê. Na narcisocracia quem vê o outro, é considerado louco alucinado.
O futuro do futuro nos dirá quem nasceu para brilhar e quem é puro simulacro.

sábado, 16 de abril de 2016

Educação para covardes

      A FAVOR DO ESTRESSE
Eu fui educado para ser um covarde e você também. A nossa educação sempre gira em torno da autopreservação física e psicológica. Somos educados para gerir apenas nossos sensíveis e sacralizados umbigos. E não falta quem diga que fora dessa fórmula não há salvação social, econômica, espiritual ou humana.
Ao contrário do Mcdonalds, eu odeio tudo isso.
Conhecemos muito bem a cartilha da covardia:
1- Deixa p'ra lá!
2- Não esquenta a cabeça!
3- Isso não adianta!
4- Isso não dá em nada.
5- Cuidado! Você vai infartar.
6- Mais vale um covarde vivo que um herói morto.
7- Muita calma nessa hora!
8- Se você se estressar, você vai ficar doente. Você vai somatizar.
9- É inútil.
10- Você não vai mudar o mundo
11- Olha a pressão! Olha a pressão.
12- É......Não vou me chatear. 
13- Relaxa! Fica frio!
13- Etc, etc, etc.
Eu não vou mudar o mundo. Já pensei em poder mudá-lo quando era mais jovem, mas o mundo é um caso perdido. Agora mudo e sempre vou mudar o meu micro-mundo. Tenho mudado o meu condomínio, as minhas condições de trabalho, a minha rua, o supermercado que frequento, a minha agência bancária, a minha linha de ônibus, o meu bairro e na medida do possível a minha entourage. 
A maior arrogância, pretensão e insanidade humanas  é querer alterar alguma coisa sem se estressar. Eu não tenho nada contra o estresse. O estresse não é tão deletério como dizem. A medicina que para mim é sempre muito suspeita pelos seus conchavos com o status quo, estigmatizou o estresse como a origem de todos os males e patologias.
Temos que alterar a programação cultural e científica que é insidiosa e espúria. Se a medicina começar a propalar que o estresse é bom, ninguém nunca mais terá tanto medo de reivindicar. O poder da medicina tem que ser questionado. As certezas da medicina e dos laboratórios variam conforme os interesses econômicos e políticos do Sistema. Somos levados a pensar que o estresse é mortal para não nos rebelarmos e vivermos uma vida indigna, para vegetarmos e nos contentarmos com a fotossíntese como o máximo da realização humana na terra.
Querem melhorar o mundo, então permitam que um pouco de adrenalina, indignação, inconformismo e revolta corram nas vossas veias.
Quem foi que vos disse que aqui neste planetinha era só para sentir prazer, conforto e ter comodidade. Quem foi?
Façam as pazes com o vosso estresse porque o melhor vem depois do estresse. Sem estresse, tudo permanecerá como sempre foi.
É muito mais estressante viver neste mundo injusto, arbitrário, impiedoso, abusivo, bárbaro e atroz  do que  propriamente se estressar para tentar melhorá-lo.

sábado, 9 de abril de 2016

Como se chama o ditador?

Hoje, o respeito tem que ser na marra. Negros, crianças, mulheres, homosexuais, transexuais, nordestinos, pobres, deficientes físicos e mentais, etc, têm que ser compulsóriamente respeitados e poucas vezes se viu tanto desrespeito e indiferença.
O respeito é um dever, com certeza absoluta, mas definitivamente não começa pela linguagem. A linguagem existe básicamente para mentir ou representar o percurso da "persona". O buraco é muito mais embaixo; o buraco fica no subsolo recôndito da consciência humana.
Nesta ditadura difusa e anônima em vigor, respeita mais quem consegue ser mais hipócrita. Respeita mais, quem conhece o jargão falacioso desta época da qual nos envergonharemos um dia. 
A banalização do respeito segue o caminho do modernismo radical e tardio, onde quase tudo é frívolo, barato,  pueril, básico e superficial.
Para respeitar verdadeiramente um deficiente físico, não basta chamá-lo de portador de necessidades especiais. A mudança de nomenclatura é um remédio fácil e inócuo. É preciso muito mais que isso. É preciso que sejamos capazes de nos colocar no lugar dele e avaliar as suas dificuldades para viver num mundo feito para não deficientes. É preciso olhá-lo e vê-lo como protagonista de um drama. E em último grau, é preciso ter o dom de sentir compaixão ( cum patire- sofrer com) e de se comover.
Como pude comprovar, blá blá blá não é respeito; blá blá blá é blá blá blá.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A diversidade monolítica

Temos toda a liberdade do mundo para sermos todos muito parecidos.
Joaquim Esteves

Não vou me alongar. 
Fala-se tanto em diversidade e no direito à diferença que eu, no essencial, no fundamental, não vejo  lá tanta diferença assim. 
Continuamos a ter que pedir permissão para pensar e como dizia Bertold Brecht, "o fascismo é uma cadela que sempre está no cio". As produções e as criações humanas tendem à padronização. Senão, prestem atenção nos carros: modelos quase todos iguais e quase da mesma cor. A cor predominante nas coisas e nos objetos é o preto - estamos de luto. A tão propalada diversidade sexual apenas revela e enfatiza uma obsessão generalizada e  quase Romana pelo sexo e pelo corpo. Haveria diversidade se também se dedicassem aos misteres da alma com a mesma tenacidade. Diversidade? A falsa diversidade leva-nos diretamente para o domínio da patologia e da decadência. Com a obsessão quase Romana pela comida (Masterchef) desaguamos no pântano da diversidade dos assim chamados, transtornos alimentares.
Não consigo ver essa diversidade toda. No máximo, o mundo continua maniqueísta e em dicotomia permanente. 

sábado, 26 de março de 2016

Nas tuas mãos


Não estou aconselhando ou sugerindo nada. Escrevo porque transbordo. Não busco convencer. Procuro as palavras como companheiras e nelas encontro o conforto que preciso e que mereço. O meu pensamento não é pedagógico. Nunca fundarei uma associação para difundir o que ilumina o meu cérebro.
Eu fui afastado de mim pela cultura que me deu origem. Essa cultura mudou muito, embora continue estimulando as pessoas a se distanciarem de si próprias. Eu sustento o contrário e sob pena de me tornar chato e repetitivo, acho que vale a pena pagar o preço exorbitante de ter consciência de si próprio e afirmar quem somos.
Sei que sofremos quando não temos vínculos com os demais, mas insisto na necessidade imperiosa e primordial de trazer as nossas vidas para as nossas mãos. 
Durante muitos anos por imaturidade e ingenuidade, valorizei demais os outros, exagerando nas expectativas, colocando grande parte da minha vida nas mãos deles. O resultado foi uma profunda infelicidade duradoura
Ao fazer a transferência das mãos deles para as minhas com todos os riscos e temores, tornei-me uma pessoa feliz. A minha concepção de felicidade é Aristotélica. Eu não estou feliz; eu sou feliz.
Não preconizo o isolamento. Defendo a solidão com interlocução. O que é inadmissível é permitir que o grupo determine o ritmo da minha vida. Grande parte das experiências de intimidade são sujas pela trapaça, competição e rivalidade que reina nesse intercâmbio muitas vezes falso.
Sei que o meu corpo tem prazo de validade e com a idade todos nós nos tornamos menos interessantes sob o ponto de vista do desejo. Acho isso bom. Mais uma razão para eu mudar de estratégia e cultivar a minha alma. Sei que sou muito menos importante para a humanidade que um urso panda. Também acho isso bom. Uma razão a mais para achar êxtases na minha grande insignificância.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Negociantes do desejo

Negócios dos instintos
Se você discordar de mim, não me odeie. Isto é apenas mais uma opinião.
É impressionante o fascínio que o sentimento do amor exerce sobre todos nós. E paradoxalmente, é a coisa mais rara neste planeta. Apressamo-nos em chamar de amor qualquer sentimento por mais reles que seja. Temos ânsia de ser amados ou de amar. Deleitamos-nos com a ideia do amor. A história do homem na terra é a testemunha irrefutável da nossa diminuta capacidade de amar.
Quantos já deliraram com o amor? Poetas e companhia. O amor é o maior delírio da espécie humana, dentre outros. Se nada embaça a sua lucidez, será fácil constatar que quase não há amor. 
Tenho pelo amor uma grande reverência e por isso sou um pouco exigente. Tenho vocabulário vasto e por este simples fato, não denomino amor qualquer sentimentozinho de merda. Qualquer sentimento contaminado pela química dos hormônios, não é digno de se chamar amor. Que se retire a palavra amor de relacionamentos movidos a hormônios.
Amor é um bem querer sem medidas que nada exige em troca. Esta é a minha definição. Quem passa no crivo da minha definição?
O que observamos e o que sempre me indignou são os mecanismos que levam ao engodo do falso amor. No caso específico de homens e mulheres, de forma geral e salvaguardadas algumas raras exceções, trata-se de um mega negócio do desejo. Ora, ao contrário de Platão, para mim, desejo e amor não têm nada a ver. Hoje, sou um homem de sonhos moderados. Não consigo mais chegar ao delírio.
O que me é dado a constatar são homens e mulheres negociando acintosamente o seu desejo sexual e chamando isso de amor. Que falta de respeito e de léxico. É a avacalhação do amor.
As mulheres são exímias negociadoras, ao ponto de deixaram os homens loucos e coléricos com tanta negociação. Isso deve ser possível, suponho, porque produzem no máximo 63 nanogramas de testosterona por decilitro de sangue. Imagino que seja um desejo com direito a regulador. Ou então é estratégia pura. Ou são mais seletivas, selecionando na negociação os melhores genes. Não sei ao certo.
Os homens negociam menos ou simplesmente nem negociam o seu desejo e também o confundem bem menos com amor. Aliás, desejo se coaduna com paixão e nunca com amor. 
Estou dizendo o óbvio, ainda que isso possa melindrar certas e determinadas mulheres. Nestes tempos obscuros, gostaria de esclarecer que não quero ofender ninguém.
Então é isso, sugiro que não se construam castelos suntuosos sobre a geografia do desejo.

domingo, 13 de março de 2016

As redes sociais e o ciúme

UMA  LEGIÃO DE DESCONFIADOS 
Érica Assis, 27 anos, turismóloga, de Belo Horizonte, estava com o namorado havia seis anos quando começou a achá-lo distante. Indagado se algo estava acontecendo, ele negava. “Resolvi baixar um programa espião para descobrir sua senha do Facebook. Li conversas antigas e nada. Então entrei na página com ele online. Dito e feito: no trabalho, ele comentou com uma colega que ela estava bonita, a moça seguiu descrevendo os carinhos que faria nele e ele disse que estava excitado.” A história de Roberta Lordelo, 36 anos, auxiliar administrativa de Cruz das Almas (BA), também não teve final feliz. Na cama, logo após fazer sexo com o agora ex, deu uma olhada no que ele tanto digitava no WhatsApp. A mensagem: “Oi, tô com saudade”. “Ele confessou que conhecera uma mulher no site Badoo e que acabaram transando.”
Infidelidade sempre existiu, mas as redes e os aplicativos facilitaram a comunicação e os encontros – oficiais ou extraconjugais. Mensagens de WhatsApp chegam a ser usadas como prova de traição – o que aconteceu em 40% dos divórcios de 2014, na Itália, segundo a Associação de Advogados Matrimoniais do país. Felipe Lacerda, detetive particular em São Paulo, já perdeu a conta de quantos homens e mulheres o procuram desconfiados do que o parceiro faz na web: “Muitos me pedem para grampear o WhatsApp, o que é impossível”.
Os antigos flertes no escritório ou em qualquer ambiente que fugisse ao alcance de um dos parceiros hoje acontecem à vista de todos. Basta um follow (seguir), posts curtidos com insistência, comentários de interpretação dúbia. Quanto mais tempo o parceiro passa na rede social, mais inseguro o outro se sente. Compreensível. Diante da tela, as pessoas tendem a ficar mais desinibidas. Cara a cara é mais difícil, por exemplo, elogiar o usuário do aparelho de musculação ao lado. Já comentar a foto do corpão no Instagram... “Alguns pesquisadores afirmam que a internet cria um cenário sem equivalente no mundo offline (desconectado)”, diz o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Grupo de Dependência de Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. “Fala-se em psicologia cibernética. Nossa personalidade digital tende a ser mais intensa e sexualizada, e as relações ganham intimidade bem mais rápido do que fora daquele ambiente.”
Além disso, pessoas do círculo social atual e antigo estão sempre presentes. “Antes, se o namoro acabava, você não tinha mais notícias do ex”, exemplifica o psicanalista Christian Dunker. “Agora, até seu primeiro amor está no seu Face, ao alcance de um clique.” O mesmo ocorre com o colega de trabalho, a vizinha simpática, a antiga cliente...
“O boom das redes mudou a dinâmica das relações”, afirma Cintia Cristina Sanches, psicóloga e colaboradora do Programa de Amor e Ciúme Patológicos do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Mensagens postadas e o comportamento do parceiro em relação ao celular são os primeiros motivos apresentados por pacientes com queixa de ciúme.” Muitos buscam a terapia porque não aguentam a própria angústia. “Tive uma paciente que ia ao banheiro com o marido para se certificar de que elenão iria escrever para alguém e apagar depois”, conta Cintia. Segundo um estudo da Universidade de Guelph, no Canadá, as mulheres são as mais ciumentas nesse tipo de situação.
Flertes modernos
Nesse conturbado cenário online, nem todas as respostas para a pergunta “Estou sendo traída?” se resumem a “sim” ou “não”. As novas configurações trouxeram outros jeitos de se comunicar – inadmissíveis, na visão de alguns; e perdoáveis, para outros. São situações que pedem um exercício de interpretação. “Trocar uma intimidade erótica por meio de mensagens privadas e não ir além disso é ou não infidelidade?”, pergunta Dunker.
Nem todos que flertam digitando levam o romance para a vida desplugada. Há quem se satisfaça com o sexting – a conversa picante, ou sexo virtual. De acordo com um estudo feito em 2015 pela Universidade Drexel, nos Estados Unidos, com 870 participantes entre 18 e 82 anos, 88% afirmaram ter praticado sexting pelo menos uma vez – e, entre os comprometidos, 12% admitiram ter trocado esse tipo de mensagem fora do relacionamento.
Luana M., 29 anos, publicitária, de São Paulo, pegou uma conversa do então namorado no Skype com uma mulher. “Ela mandava fotos insinuantes e ele dizia coisas como ‘Queria encher esse pescocinho de beijos’ ”, conta. Como ele falou que aquelas conversas eram apenas diversão e que nunca passaram daquilo, ela relevou. “Só anos depois, quando uma traição se concretizou, terminei.” Ao ser surpreendida pelas conversas eróticas, Luana não achava que traições reais e virtuais tinham o mesmo peso. “Para mim, se excitar dessa forma era como ver um filme pornô. Mas não penso mais assim, porque, se me deixava triste, era tão desrespeitoso quanto se fosse físico.” Só nos Estados Unidos, quase 80% dos divórcios entre 2013 e 2014 foram motivados por cyber affair, relacionamentos comprometedores na internet que foram para a realidade ou não.
Cabe ao casal estabelecer as regras para o que considera infidelidade virtual. “Cada um vai definir seus limites e seu código moral”, diz Nabuco. Renata Maransaldi, psicóloga e coach, de São Paulo, costuma perguntar aos pacientes que tipo de relacionamento e de companheiro querem. “Tudo bem se ele paquera na internet ou deve ser alguém que não cultive esse hábito?” Saber as senhas um do outro ou mantê-las secretas também é algo a ser combinado.
Novos detetives
Stalkear é a palavra em inglês para investigar o que alguém anda fazendo na web. Para Renata, acreditar que é possível controlar os passos do outro é uma ilusão: “Mensagens são apagadas, históricos são deletados. O celular rastreado pode ter sido deixado na gaveta enquanto o dono sai ao encontro de alguém”. Antes de sucumbir à instalação de um programa espião ou fazer login no e-mail alheio, reflita se vale a pena invadir a privacidade do parceiro dessa forma. “Se você anda desconfiada ou se comentários recebidos ou feitos pelo marido na internet a incomodam, o diálogo franco ainda é a melhor saída."
Até porque, onde há fumaça, nem sempre há fogo. “Quem vigia os atos do amado geralmente age assim por causa de uma personalidade deprimida, insegurança e baixa autoestima, e é isso que precisa ser tratado”, lembra Cintia. Mas nem todos estão dispostos a essa autoanálise. “Muitas vezes, a obsessão preenche esses ciumentos, que não conseguem parar de procurar porque tiram algum gozo daquilo. Já tive pacientes que ocupavam o dia com isso e, quando descobriram a traição de fato, ficaram perdidos, sem saber o que fazer”, diz ela. O ciúme exagerado ainda traz sofrimento ao cônjuge. Que o diga Larissa Laviano, 28 anos, analista social, de São Paulo. “Ele mexia no meu celular enquanto eu dormia e desconfiava de tudo.” Várias vezes, Larissa chegou em casa e o encontrou mexendo no perfil dela no Facebook. “Então começava o interrogatório: ‘Essa postagem foi para quem? E esse comentário?’ Eu tentava acalmá-lo, mas não adiantava. Essa paranoia foi um dos principais motivos para o fim da relação.”
Assim, ao reconhecer um interesse fora do comum pela atividade online do parceiro (e vice-versa), vale propor uma conversa. Caso tudo esteja bem – ou se um dos dois, nas buscas que não resistiu a fazer, nunca encontrou nada de mais –, é saudável questionar qual a motivação para essa desconfiança. Entender o seu espaço e respeitar o do outro, tanto no modo online quanto no offline, são a base de uma relação madura.
Adaptado do MSN Brasil

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Felicidade obscena

Uma proposta indecente
Há exatos 3 anos e em cerca de 530 postagens, venho propondo o que quase ninguém quer escutar. Nem chega a se tratar de uma pregação no deserto porque eu não sou gurú nem profeta e transito no asfalto e na explosão demográfica. Portanto é muito pior que isso.
Eu afirmo a possibilidade de uma felicidade definitiva e isso soa com insanidade e absurdo. Pois não é.
O ser humano vive, para sempre parecer o que não é. Este é o corolário da existência. Tudo o que é projetado como FUGA da condição humana tem bilhões de seguidores. Eu tenho muito poucos leitores porque não os considero seguidores. Assusta-me a ideia de seguir ou ser seguido por alguém ou por alguma coisa. É uma questão muito pessoal.
O ser humano em qualquer latitude é um fugitivo de si mesmo por excelência. E tudo à sua volta conspira para facilitar a sua fuga. Desgraçamente não há nada que estimule a reflexão e a introspecção para coibir de alguma forma, essa fuga em massa de si próprio.
O que denominam felicidade, inscreve-se neste contexto de evasão. Pretende-se que só há felicidade  no caminho da fuga. Tudo favorece a fuga: a religião, o futebol, a procriação, o trabalho, a criação, as frivolidades, o sexo, as drogas lícitas e ilícitas, a política, o poder, as viagens compulsivas, os modismos, a publicidade, o casamento, etc, etc.
Para mim, fuga e felicidade são incompatíveis. O que se consegue com as fugas é outra coisa. Em geral, as pessoas ficam excitadas, contentes, alegres, motivadas, entusiasmadas, sentindo muito prazer, mas isso está muito aquém do meu conceito de felicidade. 
A minha felicidade se exerce nos limites estritos da condição humana e da metafísica. Eu sou feliz "apesar de" e nunca "porque".
A minha felicidade é fruto da minha lucidez  e não da minha alienação. Com muita frequência se associa alienação à felicidade. A felicidade que é fruto da alienação, da ignorância e da cegueira não é digna desse nome. Consultem os dicionários, por favor. 
Felicidade para mim, é concentração. Para a maioria, é dispersão. Nunca consegui ser feliz, disperso e fragmentado de mil maneiras. Nunca consegui ser feliz, diluído na massa e confundido com os outros. A minha felicidade está intrínsecamente ligada à minha identidade, à minha visão de mundo, ao reconhecimento  de quem verdadeiramente habita o meu âmago e à sintonia com esse antigo morador. 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Seria cômico se não fosse trágico

Além de criar uma série de palavras complicadas e oferecer indenizações milionárias para pessoas que se sentirem ofendidas, esse comportamento tornou-se muito "útil" para desenvolver redações, monografias ou qualquer outro trabalho acadêmico. O politicamente correto, troca palavras simples, claras e curtas por termos longos, rebuscados e obscuros.
Toda pessoa que usar uma linguagem politicamente correta pode passar por sábia diante dos amigos; muitos deles nem irão entender o que ela diz. O politicamente correto é excelente para pessoas que não querem se comunicar com as outras.
Vale lembrar que cada lugar possui seu próprio politicamente correto, por exemplo: em uma academia você pode falar mal dos fast-foods e dos gordos(ou não), mas em uma lanchonete não.
Trocando em miúdos, o politicamente correto nada mais é do que um meio de falar com os  que têm alguma forma de poder sem que eles se irritem muito com você. E em sociedade, todos pretendem ter e  têm alguma forma de poder sobre nós.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Crimes e fobias

Por usar palavras e expressões muito brandas, poucos se dão conta do horror do politicamente correto. Tenho a impressão que fui despejado na Idade Média sem direito a advogado. Cheguei ao futuro da época medieval. Senão vejamos.
O objetivo fundamental e subliminar é acabar com a individualidade, a diferença e a opinião. Não podemos mais dizer que não há mais crimes de opinião. Hoje, a opinião voltou a fazer parte da lista de crimes.
Se você não gosta de alguma coisa e isso me parece bastante legítimo, você é fóbico. E se for considerado fóbico, como a fobia passou do âmbito da psicologia para esfera criminal, você vai ser punido porque não gostar do que todo mundo diz gostar, é crime. No fundo, como a vida é um teatro e uma grande palhaçada, são poucos os que acreditam verdadeiramente no que dizem, mas para não ferir uma humanidade que de repente ficou  extremamente sensível a tudo, o cara mente desbragadamente e tem o apoio de todos.
Em outras palavras, somos estimulados pelo sistema vigente a mentir. Claro que a mentira sempre foi muito sexy e a sociedade só existe porque se mente demais. A diferença é  que a mentira nem sempre foi tão descaradamente admitida. Houve épocas em que a mentira era reprovada. Atualmente, quem pode ser politicamente correto se não for um grande mentiroso? Como todos podem gostar e apoiar as mesmas coisas? Como?
Trata-se de uma estratégia nojenta, urdida para controlar todo mundo sem grande esforço. 
Se você não gostar do seu porteiro e disser isso publicamente, podem acusá-lo de ser porteirofóbico e aí você está completamente ferrado. 
E ouvirá com certeza frases do tipo:
- Mas todo mundo gosta muito do José. Por que você não gosta do José? Ele é um excelente porteiro, fique você sabendo, etc, etc, etc.
As preferências pessoais passaram a ser classificadas como fobia. Se você não gostar muito do seu vizinho, podem rotulá-lo de propínquofóbico, limitrofóbico ou adjacentofóbico. Ao ouvir um palavrão deste quilate, você pode ser levado a crer que todos têm razão. Você é mesmo um propínquofóbico porque esta terminologia é científica, comprovada e procedente. Se não gostar de tatuagens, podem acusá-lo de ser um terrível tamborilofóbico. E aí, você passa a ser um temível monstro urbano e será apontado como grande incitador do ódio.
Cuidado! Vivemos uma das piores ditaduras de que se tem notícia. Somos vítimas ingênuas da mais insidiosa e sutil forma de dominação, embora  tudo pareça muito apropriado, correto, asséptico, saudável e maravilhoso.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Condenados ao silêncio


Muito provavelmente, a maioria de nós já foi enganada pelo politicamente correto. O termo é bonito, soa bem, parece polido, cheio de virtude, digno de ser aprendido e posto em prática. Com o tempo, no entanto, aprendemos que se trata de um embuste, mais uma daquelas novas expressões incluídas em nosso vocabulário para confundir e dar aparência de virtuoso àquilo que é vil, frívolo e indecoroso; roupagem fina para grosseria, ou um lobo em pele de cordeiro. Trata-se, na verdade, da pior ditadura que pode vir a existir: aquela em que os súditos se encarregam de subverter e subjugar os seus próprios comuns ao jugo de um poder tirano.
Essa é a realidade da sociedade contemporânea. Quando conversamos, dialogamos ou expressamos nossas ideias, fazemos o tempo todo como que pisando em ovos. As pessoas tornaram-se extremamente sensíveis a qualquer objeção ou ideia que venham a lhes desagradar. As palavras devem ser cuidadosamente escolhidas, e é preciso ter certeza que ninguém se sentirá ofendido com o que será dito.
O politicamente correto é a versão real da novilíngua, idealizada pelo governo autoritário do livro de ficção “1984”, de George Orwell.* A novilíngua não nascia naturalmente como expressão da cultura e acúmulo de conhecimento do povo, mas pela condensação e remoção dos vocábulos e de seus significados, a fim de limitar o pensamento. Simplesmente não pode estar no universo das pessoas algo que elas não têm palavras para dar sentido pleno. Controlando, portanto, a linguagem, os governantes controlavam os pensamentos e qualquer oposição que pudesse surgir de novas ideias. Logo, não era preciso se preocupar em proibir a menção de coisas, pessoas, ou situações. Bastava diminuir o escopo de construção racional sobre elas.
Da mesma maneira, o politicamente correto quer sugerir verbetes que nos imponham um pedido de autorização para falar sobre determinados assuntos, tornando imoral o uso de sinônimos diversos. Começa-se com coisas simples, aparentemente sem consequências importantes: o aleijado é deficiente físico; o cego é deficiente visual; o relacionamento homossexual é homoafetivo; o viciado é dependente químico, e assim por diante. Por mais que saibamos que existem maneiras discretas de se referir a determinadas situações, tornamo-nos mal educados e incorretos pelo simples fato de usar algumas palavras, que em si nada têm de ofensivas, são apenas descritivas.
No entanto, o mais grave ocorre quando da emissão de opiniões, de ideias ou da consciência. Expressar desacordo tornou-se discurso de ódio, e qualquer parecer contrário aos interesses de um determinado grupo vira “fobia”. Ou seja, opinião é criminalizada sem a necessidade de lei.
O uso constante do sufixo “fobia” é uma clara imposição da novílingua, a aceitação forçada do discurso oficial, bem como o de rotular oposição como discurso de ódio. Na era do politicamente correto, todos nos tornamos, de alguma maneira, fóbicos e odiosos. Se alguém não concorda como o modo de pensar ou de agir de outra pessoa, logo é acusado de ter fobia e odiar aquele a quem se opõe.
Uma demonstração bem clara dessa prática se dá no caso do programa Mais Médicos. Se você argumenta que o Brasil tem meios alternativos de resolver os problemas da saúde pública com seus próprios médicos, e, por isso, é contra a vinda de profissionais cubanos, vão lhe chamar de xenofóbico. Não interessa que você levante bons argumentos racionais, e que você não tenha nada contra os cubanos pelo fato de serem de outra nacionalidade. Você se tornou xenofóbico. Ponto final.
Igualmente, se você é contra determinada ideologia ou partido político, qualquer coisa que vier a falar contra eles, será denunciado como discurso de ódio.
É interessante também notar que isso cria uma armadilha para todos os lados envolvidos no momento que se exterioriza discordância. Veja só um exemplo que gera discussões acaloradas: quando o cristão defende princípios conservadores acerca da sexualidade, ele é rotulado de homofóbico. Ironicamente, a acusação retorna, e os homossexuais são chamados de cristofóbicos. Trata-se, claramente, de um coletivismo generalizado, que não expressa a realidade de nenhum dos grupos.
Note bem, basta acrescentar o sufixo fobia e pronto! Está aí a defesa de tuas ideias. Faça-o de acordo com tua preferência: o importante é dificultar que a outra pessoa construa argumentos, mesmo que para isso seja necessário transformar o diálogo em ataque pessoal, fora do campo da razão. Se alguém tentar argumentar contra uma prática ou uma ideia, não deixe de gritar aos quatro cantos que aquele discurso é cheio de ódio, e aos olhos de muitos, você sairá vencedor.
Quando o debate e a expressão são limitados, em vigia constante de uns sobre os outros acerca do que é certo dizer ou não, sobre quais palavras podem ser usadas e acerca do que se é permitido pensar, o diálogo, o confronto de ideias e a dialética tornam-se impossíveis. Instaura-se, assim, uma ditadura disfarçada e alimentada pelos próprios escravizados.
O que resta é o silêncio: vivemos a tirania do politicamente correto.
Warton Hertz