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sábado, 7 de março de 2015

A CRIAÇÃO DE MONSTROS

TEENAGER POWER
"Enfant Gâté" - Criança mimada. Tradução ao pé da letra: Criança estragada.
Vivo tempos bicudos. A geração X da qual eu faço parte, cansada das repressões, das proibições e da escala de valores tradicionais, desgraçadamente tornou-se uma criadora de monstros em larga escala.
A transmissão dos princípios e valores quase sagrados da minha geração foi feita de maneira irresponsável e frouxa. Valores se transmitem com veemência, convicção e firmeza como se fora uma profissão de fé.
As consequências dessa negligência educacional grave, estão por aí escancaradas para quem tiver condições de ver, ouvir e sentir. Passamos de um extremo ao outro; muito rigor para rigor nenhum. Os adolescentes do mundo tomaram o planeta de assalto. O fenômeno não é brasileiro; é global.
Já fui vítima de adolescentes completamente loucos que quiseram me dar lições  de moral e me ensinar a viver. Ora, eu sou um senhor radicado compulsoriamente neste planetinha há mais de meio século. Como se tornou possível a um fedelho recém saído da amamentação e cheirando a talco, tentar doutrinar um senhor absolutamente respeitável como eu? É simples, o respeito morreu com os avós dessas estranhas criaturas. E dos valores que eu tanto venero, não sobrou quase nada.
Primeiro cria-se o narciso. Para tanto cumula-se o candidato a monstro de elogios sucessivos e extenuantes. Você é lindo! Você é muito inteligente! Você é maravilhoso, meu filho! Você é um gênio, etc, etc. O pirralho, o rapazote, o muchacho, passa a acreditar nisso piamente pois tais exclamações emanam das grandes referências que ele tem no mundo: papai e mamãe. Neste ponto, acho por razões óbvias que as mamães são as grandes responsáveis por mais esta calamidade.
Criado o narciso que é uma espécie de pré-monstro, fica fácil. Basta que se execre e se elimine peremptoriamente do meio familiar a palavra NÃO. Um narciso perfeito que quase nunca escuta não, começa a reinar. Com o passar célere dos anos, os narcisos que só têm ouvidos para os aplausos e para o sim, edificam nos seus ambientes familiares feudos de poder e tirania. Os petizes não temem perder o amor dos pais. Eles estão acima disso e conhecem exatamente as fraquezas de todos os babacas que resolveram procriar para dar sentido às próprias vidas. Para os procriadores contumazes, os filhos são a maior e talvez a única razão de suas vidas. A criançola já assimilou totalmente essa característica e faz uma coleção de chantagens em torno dessa desesperada escolha existencial.
É um regalo ouvir um rapazola falar. Ele sabe de tudo porque viu no Google. Está sempre conectado porque já nasceu doente e velho. Queimou a etapa mais interessante e enriquecedora da sua vida que é fase poética das descobertas. Quando nasceu, já estava tudo descoberto. E para quem descobre logo tudo, sobra velhice, violência e tédio; falta um pouquinho de inocência. E tudo isto embalado e empacotado com o hipócrita papel de presente do politicamente correto. Sem falar do Estatuto da Criança e do Adolescente, o famosíssimo E.C.A que reprime com a letra e a forma da lei qualquer tentativa educacional não padronizada.
O guri conhece como ninguém o valor do dinheiro. Afinal, todos eles nasceram no shopping. E aí, realizam a maior proeza de todos os tempos: no regime capitalista, sem dinheiro nenhum conseguem ter todo o poder familiar nas mãos. Isso é prodigioso. Sem dinheiro, eles decidem que carro papai vai comprar. Sem dinheiro, eles é que traçam o itinerário da viagem do papai e da mamãe para os States. 
O mundo se encaminha a passos muito largos para que o dinheiro seja o único valor da sociedade humana. E quando este dia chegar e parece que está bem próximo, está na hora de ir embora deste planeta nefasto e diabólico. E numa boa!
P.S.- Ressalvo todas as exceções a esta deplorável regra geral. 

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