A maioria decidiu, tá decidido. A isto chamam democracia, a ditadura da maioria. Tudo
o que é feito por milhões de pessoas tem valor e credibilidade. Tudo o
que é feito por meia dúzia de indivíduos se destoar do padrão-maioria, é
suspeito.
E
aqui estou eu mais uma vez, refém do comportamento geral. Eu não tenho
culpa se as pessoas não têm vida interior. Eu não sou o culpado da
maioria só conseguir bem-estar transitório em coisas exteriores. Eu não
tenho que pagar o preço porque a maioria gosta de barulho e adora
ensurdecer. Eu não sou o responsável pelo fato da maioria só aguentar a
vida com uma cerveja na mão e um sexo na outra. Eu não tenho nada a ver
com isso. E no entanto, me obrigam a participar desta insanidade
institucionalizada e oficial.

Ninguém
nem ousa dizer que não tem time de futebol e não gosta de carnaval.
"Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça....."Ou
seja quem não comunga da loucura coletiva é o maluco eleito pela
maioria. Quem não se parece com a maioria é doido, no mínimo. Quem a
maioria pensa que é? Esqueci. A maioria não pensa.
O
desejável é diluir-se na massa e perder a nossa identidade. O ideal
para o Sistema é virar número de estatística. Afinal, o que é que eu e
você significamos? Num planeta que banaliza e vulgariza a vida humana
através da explosão demográfica, nós não representamos nada. Há sete
bilhões de seres muito parecidos conosco. Procriar assim, diminue a qualidade.

Nunca esteve na moda, (e sempre tudo é uma questão de imitação, publicidade e modismo) defender as minorias heterodoxas. Não gosta de carnaval, foda-se. Vai
ter que aturar essa batucada sem sentido, essa euforia com hora
marcada, essa alegria manufaturada, essa aglomeração tribal e
primitiva, esse remelexo compulsivo, essa comemoração sem motivo.
A única coisa boa que a maioria me proporciona são estes dias ma ra vi lho sos
de ócio criativo. Sou favorável à interrupção do trabalho. Preferia
interrompê-lo por ideologia e não porque o pessoal tem que pular. Pular
não chega a ser uma ideologia. Ou será que já é?
Gostaria
de sair de casa. Mas está tudo bloqueado. As ruas estão fechadas. Está
tudo muito confuso. E se ousar sair de casa, ainda aparece alguém que
me obrigue a ser quem eu não sou, com spray, confetes, ovos podres e
outras indecências.
Poderia
ter ido para Petrópolis, poderia ter ido para Nova York, poderia ter
ido para Marte, mas eu adoro a minha casa. Será que eu não tenho mais o
direito de ficar em casa?
Desejo a todos um feliz carnaval alternativo.
P.S.-
A palavra folia tem a sua origem etimológica ligada à palavra francesa
"folie" que significa loucura. Deixem a sanidade passar.