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segunda-feira, 17 de março de 2014

DO PERECÍVEL AO DESCARTÁVEL


Os mais lúcidos já estão mais ou menos acostumados com o perecível. O efêmero nos persegue e nos caracteriza desde tempos imemoriais. A convivência cotidiana com o tansitório é muito penosa. A grande maioria foge e finge que as coisas são eternas. O "para sempre" é irresístivel. É agradável supor que é para sempre. Adoro os "Para Sempre" Outra palavra que me seduz é "nunca." "Sempre e nunca", duas paixões adolescentes.
Como se pode deduzir, sou um ser feito para durar e amante do que dura. Por vezes, até o sofrimento deve durar. Não sou masoquista, mas acredito no poder transformador do sofrimento duradouro. Note-se que sofrimento só é válido para quem é bom aluno e por isso tem capacidade de aprender . Para os outros, sofrimento é a coisa mais cruel e inútil que existe. A vida é ótima professora. Quanto aos alunos, a grande maioria é relapsa e negligente. Não aprende porra nenhuma.
Há muito tempo que passamos também a conviver com o descartável. O descartável é muito pior que o perecível. Sou da geração do perecível e agora vejo-me um tanto atrapalhado com a massificação do descartável. Primeiro, descartavam-se coisas, hoje descartam-se coisas e pessoas. É uma delícia jogar fora e pegar um novo em folha... Com o advento da insana vida virtual e suas consequências lógicas, o deletar, o bloquear, o denunciar, o excluir, a coisificação das pessoas ficou muito mais óbvia. A coisificação virtual é a escravidão pós-moderna. Os escravos tecnológicos atualizam a doença mental.
Com a explosão demográfica e a péssima distribuição populacional, o ser humano perdeu muito do seu valor intrínseco. Se você não quiser, há milhões que querem. Com a hiper-concentração da riqueza, a coisificação hedionda ficou obscena.
Diante da saturação das opções, a qualquer momento você pode dançar. Esteja preparado. Se você não servir a certos interesses e às vezes são apenas interesses emocionais, súbitamente, você tá fora.
Neste ponto, eu alcanço o meu velho e puído discurso. Não espere ser coisificado. Faça as pazes consigo mesmo, vacine-se contra as mazelas do grupo, insista em continuar humano e exija ser tratado com dignidade. Viva o presencial e foda-se o virtual.

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Não diga besteira