Desconheço o autor
No início, os procrastinadores parecem pessoas como as outras. Quem convive bem com a diferença, não lhes atribui maiores adjetivos. Talvez sejamos levados a pensar que são pessoas desligadas, esquecidas, com algum problema de memória.
Infelizmente, não é nada disso. É bem pior do que parece. Conheço uma procrastinadora que levou dois anos para comprar um rádio para o seu carro do qual muito necessitava, segundo ela. Do momento em que disse que precisava muito comprar um auto rádio até o momento em que efetivamente o comprou, passaram-se DOIS ANOS (24 meses).
Por este exemplo, dá para perceber que o negócio é brabo. Toda a vez que eu lhe perguntava se já tinha comprado o auto rádio, criava uma dificuldade para comprá-lo. Não tinha tido tempo, não achou o modelo que queria, tinha esquecido, etc.
Com o passar do tempo, você vai se dando conta que a pessoa mente desbragadamente para si mesma porque não tem coragem de se mexer.(Quando você identifica um Procrastinador, ele começa a inventar menos desculpas porque sabe que você não acredita mais em tanta bobagem.) No caso do auto rádio, não era em absoluto uma questão de dinheiro. Sobrava dinheiro para a referida compra. Era pura piração.

O que aconteceu com o rádio, acontece com muitas outras coisas. Por exemplo, a pessoa precisa ir urgentemente ao médico porque se sente mal. Após muitas desculpas deslavadas e depois de muito tempo, finalmente vai ao médico. Descobre entre outras coisas que tem colesterol elevadíssimo. O médico prescreve-lhe Sinvastatinas. Pois então, a pessoa não consegue ir à farmácia para comprar o remédio e sempre inventa uma série de desculpas que dão raiva quando você descobre que essas desculpas fazem parte da patologia. A pessoa pode até morrer, mas ela nunca se sentirá a responsável. Primeiro, porque já está morta, depois, se outro mundo houver, ela vai inventar uma desculpa para convencer todo mundo e a ela mesmo que ela nada teve a ver com o seu óbito.

O curioso é que a pessoa gasta toda a sua energia mental e até física para dizer que não pode fazer. Poder, ela pode, mas em função da doença, não faz nada. As desculpas que inventa, muitas delas muito bem elaboradas, são uma maneira de fugir de um eventual sentimento de culpa.
Em relação à arrumação e limpeza da casa, é a mesmíssima coisa. Só quando a casa fica intransitável é que a pessoa dá um jeitinho. Um jeitinho, eu disse.
Não sei como a psiquiatria e a psicologia tratam esta doença. Aliás, é muito pouco difundida. Eu já a tinha diagnosticado antes de ouvir falar dela. Ouvi falar dela vagamente no Programa Sem Censura.
O Procrastinador(a) precisa que se apresentem as condições ideais para agir. Resultado, não age nunca porque as condições ideais nunca se proporcionam. A procrastinação é um pacto com o imobilismo e com a esperança vã e estúpida de que as coisas se resolvem por si próprias. É inacreditável. Enquanto um Não Procrastinador já fez uma série incontável de coisas, o Procrastinador perde todo o seu tempo a pensar no melhor momento de agir e não age NUNCA. É difícil conviver com uma pessoa assim.
Existem diversos níveis de procrastinação. O Procrastinador grave, é um sorridente suicida em potencial.
Parece uma brincadeira, mas é uma doença. Como as pessoas nem sabem que é uma doença, pensam que se trata de um delicioso temperamento.
O Procrastinador(a) não se atreve a brincar com o trabalho. Ele(a) sabe que se não for trabalhar ninguém vai achar isso uma brincadeira excêntrica. Mas, em todas as circunstância menos peremptórias em que ele(a) pode trapacear, ele(a) não faz absolutamente NADA.
APÊNDICE
Psicologia
As causas psicológicas da procrastinação variam muito, mas geralmente tendem a fatores como ansiedade, baixa autoestima e uma mentalidade auto-destrutiva. Pensa-se que procrastinadores têm um nível de consciência abaixo do normal, mais baseado em "sonhos e desejos" de perfeição ou
realização, em vez de apreciação realista de suas obrigações e
potenciais.
O autor David Allen
traz à tona duas grandes causas psicológicas de procrastinação no
trabalho e no dia a dia que estão relacionadas à ansiedade, e
diretamente ligada à preguiça emocional. A primeira categoria engloba
coisas muito pequenas para se preocupar, tarefas que são uma interrupção
irritante no fluxo das coisas, e que tem soluções de baixo impacto; um
exemplo seria, organizar uma sala desarrumada. A segunda categoria
contém coisas muito grandes para serem controladas, tarefas que uma
pessoa pode temer, ou cujas implicações podem ter um impacto grande na
vida da pessoa; um exemplo seria, um estudante de vestibular adiar
indefinidamente o preparo para a prova, por causa da pressão recebida
por seus familiares e o medo de não conseguir ser aprovado.
É de apontar que uma pessoa pode inconscientemente sobrestimar ou
subestimar o tamanho de uma tarefa, se a procrastinação se tornar um
hábito.
Fisiológica
Pesquisas sobre as raízes fisiológicas da procrastinação, na sua grande maioria, focam-se no envolvimento do córtex pré-frontal.
Essa área do cérebro é responsável por funções de execução cerebral
como planejamento, controle de impulsos, atenção, e age como um filtro
diminuindo estímulos que causam distração, que vêm de outras regiões do
cérebro. Lesões ou baixa utilização dessa área podem reduzir a
capacidade de uma pessoa de filtrar estímulos que causam distração,
resultando em má organização, perda de atenção e aumento de
procrastinação. Isso é similar ao papel do lobo pré-frontal no
Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), onde é comum a sua subutilização.