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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

OS ACORRENTADOS


"Nihil noui sub sole" 

Nada de novo sob o sol

Sempre existe alguém que escancara a boca e expõe os dentes para falar do Livre Arbítrio. Eu tenho Livre Arbítrio "pero no mucho." Livre Arbítrio é uma expressão infeliz. Sempre parece que o tal do Livre Arbítrio é exercido diante de uma miríade de opções e que é fruto da razão pura. E não é assim que acontece. Quando eu nasci as coisas já estavam todas aqui. Já estava tudo pronto para me agrilhoar.
"Livre arbítrio é o poder que cada indivíduo tem de escolher suas ações, que caminho seguir. A expressão é utilizada por diversas religiões, como o catolicismo, espíritismo, budismo etc. Cada uma explica seu ponto de vista em relação ao livre arbítrio e se ele realmente existe."
Livre Arbítrio (De Libero Arbitrio) também é uma obra da autoria de Santo Agostinho. Este livro, que tem data de 395, foi escrito na forma de diálogo do autor com o seu amigo Evódio. Nesta obra, Santo Agostinho elabora algumas teses a respeito da liberdade humana e aborda a origem do mal moral. O santo é o campeão de Livre Arbítrio. Sabe tudo.
Eu tenho o Livre Arbítrio de escolher entre o Capitalismo e o Capitalismo, entre acordar às 7 da manhã ou acordar às 7 da manhã, entre pagar impostos injustos ou ser preso, entre entrar no teatrinho social ou ser excluído, entre me omitir pra ficar tudo lindo ou dizer a verdade na lata e ser execrado, entre o Facebook e o Facebook, entre comprar produtos Unilever ou produtos Unilever, entre beber cerveja da Ambev ou tomar cerveja da Ambev, entre engolir a seco as babaquices do meu chefe ou ficar desempregado, entre tolerar o Status Quo ou ser internado como louco, entre me submeter aos valores e injunções da sociedade ou me foder. Tenho muitas escolhas. Chego a ficar perdido com tantas opções. Porra! É muito Livre Arbítrio para uma pessoa só. Eu não aguento. E nem vou falar dos que estão enredados nas correntes  maciças e inquebráveis da testosterona e outros hormonitos mais.
Esse Livre Arbítrio Católico altamente questionável, nos leva a viver uma vida cheia de grilhões. Somos levados a tomar determinadas atitudes. Não as tomamos no exercício íntegro do nosso Livre Arbítrio. Estamos acorrentados e nem nos damos conta. Acorrentar é uma prática cultural automatizada. Quase ninguém nota e ainda dizem esta frase adorável: - Fazê o quê?! Que é uma pergunta e uma interjeição repleta de preguiça, comodismo e sedentarismo emocional.
O cara fica acorrentado à patroa porque não tem coragem de viver só. Vai empurrando com a barriga (que cresceu deveras durante a relação) um relacionamento  que de bom só tem um orgasmo Viagrado por mês. O cara é cheio do Livre Arbítrio. Chega a ficar inchado com tanto arbítrio.
E por aí vai. Para exercer o pouco Livre Arbítrio que lhe resta, o indivíduo tem que ter culhões. Há uma falta generalizada de culhões  assim como há uma grande orfandade de revoluções.
O cara fica acorrentado a qualquer merda que lhe dê um idéia(com acento) de segurança. E não desgruda. E é capaz de passar uma vida inteira todo acorrentado posando de alforriado.
Ninguém tem coragem de se livrar da escravatura. Sim, escravatura. Ou vocês acham que os escravocratas já morreram?
Quem tem coragem de usufruir de uma liberdade digna desse nome? Fala-se tanto em liberdade, mas quem é que é livre? Quem?





P.S.- E ainda há quem fale em "Opção Sexual". Caros amigos, opção sexual não existe. A palavra opção não se aplica no contexto. Existe uma determinada orientação sexual que se descobre em nós. Nunca se opta.

OS MEUS CONCORRENTES

"Se continuarmos assim, um dia, chegaremos ao grunhido."
José SARAMAGO
O Profeta José Saramago acertou o vaticínio. Já chegamos ao GRUNHIDO. Na música Popular Brasileira grunhe-se como nunca antes na história deste país. As onomatopéias tomaram conta dos refrões das lindas canções poéticas bem ao gosto do povo. Tchá, Tchá,Tchuchu, Tchá, Tchá, etc. Muito bom. Muito bonito. Molto bene trovato.
Qualquer MC de araque tem 500 mil visualizações. Qualquer mulher do Pomar tem Um milhão visualizações. Existe até uma cachorra que tem um blog que já chegou a míseras 600 mil visualizações. É uma cachorra inteligentíssima, é claro. Q.I. elevadíssimo. Admirável.
Eu que ainda não cheguei ao nível quase inatingível dessa linda cachorra Yorkshire vestida de rosa, totalmente perfumada, possuidora de um BOUDOIR na casa de sua dona, continuo por aqui na internet, tendo o meu Blog "muito visualizado."
Não gostaria de ser cachorra, mas o que é que essa cachorra tem que eu não tenho? Onde foi que eu errrei? Ó Céus! Será que se eu postasse um vídeo latindo e tentando imitar o mavioso som que essa cachorra emite, faria algum sucesso? Essa cachorra é o meu ídolo feminino. Um dia ainda serei como ela. Esta é a minha maior esperança. Não preciso chegar a 600 mil visualizações. Satisfaço-me com 99 mil 324.
Serei o conhecidíssimo MC BLOG DA CACHORRA. Tenho verdadeiros frissons só de imaginar. A Glória retumbante de CACHORRA me aguarda nos caminhos sinuosos e surpreendentes da Web. Poderia também criar derivativos como o Blog "O CANIL TÁ NA MODA." ou o Blog "AU AU, VOU TE MORDER" ou " VEM DANÇÁ NO CANIL." ou " AU AU AU, A CACHORRA TÁ BOMBANDO." Tudo muito criativo óbviamente. Tudo em altíssimo nível.
Passo meus dias e minhas noites em devaneios frenéticos, transpirados e incoercíveis. Um dia também vou ser famoso e cover de cachorra.

O MEU FUTURO RADIANTE

sábado, 21 de setembro de 2013

OS ESTRANHOS NO NINHO

Pode ser que você já tenha se dado conta que o Modelito que está por aí não serve para você. Esse Modelito puído e surrado com promessas muito improváveis de felicidade é absurdo, despótico e autista.
Para os seguidores desse Maldito Modelito não há felicidade possível fora do casamento, da procriação, do sucesso profissional, da saúde perfeita, do milhão de amigos, do carro do ano, da excursão à Disney e da casa na praia. Esse Modelito de merda é o maior gerador de infelicidade do planeta. A pessoa que não se encaixa no paupérrimo modelo da grande maioria dominante sofre horrores. Eu mesmo lutei anos a fio para me enquadrar nessa bosta de modelo monolítico, hermético e estúpido. Até que criei o meu próprio modelo. Quem não tem PROJETO PRÓPRIO é levado a adotar o Modelito infame. Pertencer a uma família não pode ser a panacéia para todos os males; uma muleta ao alcance da mão. Pode ser bom ter uma família, mas não pode ser uma ligação incondicional.
Sem saír muito do regime hediondo do Capitalismo, adotando modelos existenciais próprios, é possível produzir muitas toneladas de felicidade pura.
Esse modelito de frango com macarrão e salada aos domingos na casa da Vóvó, do clã que briga pra caramba e sofre pra burro, mas continua grudado com Superbonder e modelado com Durepox, traz muitos malefícios à saúde mental. Este fato talvez explique o nível de desordem mental e desalinhamento dos juízos com que sempre nos deparamos. Meu amigo, fuja do convencional, faça  a calibragem, o balanceamento e a cambagem dos seus miolos e seja muito feliz.

O PARASITA INTELECTUAL DA INTERNET

O Homo Digitalis é o copista do século vinte um. Como dizem por aí, abunda a mesma opinião. Parece um macacódromo. Todo o mundo pensa e faz as mesmas coisas. É impressionante como a mesmice contagia.

A cópia não se limita ao copiar/colar, a cópia é de comportamentos e posturas. O ser humano sempre foi um macaco de imitação. Hoje, com os comportamentos mais expostos e as posturas mais ao léu, copiar virou uma epidemia. A internet é uma copiadora célere de gestos, atitudes e posicionamentos. (Pesquisa conduzida pelo Laboratório de Estudos da Emoção e do Autocontrole  da Escola de Psicologia da Universidade de Michigan revela que  a Redes Sociais formam um ser humano triste, solitário, invejoso e radicalizado pelos guetos virtuais.) Esse é o lado melancólico da internet. Também existem muitos aspetos positivos, é claro.
Com a aversão à vida privada. Com essa necessidade mórbida de se mostrar sempre nos mínimos detalhes, a cópia ficou mais fácil. Há um convite insistente à cópia. E para quem tem uma Carência Afetiva grave como uma Fratura Exposta, a cópia é irresistível.
Todos já tiveram um fundo de poço. Mas a maioria foi ao fundo do poço a turismo. De lá não trouxe absolutamente nada. Admiro os que foram ao fundo do poço e conseguiram trazer alguma coisa para a superfície. Infelizmente o fundo de poço da maioria foi uma excursão trivial inútil porque ninguém se demarca; todos copiam.
Admiro também os que sonharam e se espatifaram. Estraçalhar-se também faz parte da beleza do sonho. Os  que aterrissaram suavemente não sonharam; deliraram, alucinaram. Quem conhece o seu fundo de poço e quem sonhou de fato, não copia, tem identidade própria a despeito do circo e dos palhaços.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A PROSTITUIÇÃO AFETIVA


MERCENÁRIOS DA CARÍCIA

A que ponto chegamos! Chegamos ao cúmulo da ruína emocional e ao cerne da decadência. Isto sim é chocante. E olha que não consigo mais ficar chocado há muitos anos. Odeio hipocrisias e falsos pudores.
Em alguns países como o Japão e os Estados Unidos, existe gente ganhando muito bem a vida vendendo carinho. E o pior é que há gente que compra. Eu acho que estou ficando velho mesmo. Em que planeta eu estou morando? Não reconheço mais esta Bola que roda. Primeiro, é o leilão do cabaço, agora é a venda de afeto. O que nos espera no porvir?
Na minha época, na época boa, carinho era um  dos substratos da alma, inegociável por excelência. Como é que as pessoas conseguiram capitalizar o afeto? Nunca poderia sequer imaginar que um dia existiriam neste planeta Mercenários da Carícia.
E há pessoas que não leem o meu blog porque eu sou horrível e obsceno. Em que mundo vivem certas criaturas infelizes? O que é obscenidade? O que é casto, decente, decoroso, digno, puro e fescenino? Obscena é com certeza absoluta a realidade desta civilização de merda. Não gostam que eu diga merda, então que todos parem de carregá-la.
Pier Paolo Pasolini era obsceno? Ou obscena é a HIPOCRISIA execrável e louca de certos indivíduos?
Sobre o artigo que transcrevo abaixo, disseram-me que cada um escolhe o seu caminho. Concordo pra caramba. Acontece que vender afeto não é um caminho; é um ATALHO esburacado, miserável, tortuoso e sem saída.

"Jackie Samuel, uma americana de 29 anos, achou um modo inusitado de ganhar a vida: ela é uma uma "Cuddler Professional" (numa tradução livre, "chamegadora profissional"). Resumindo: ela cobra para dormir de "conchinha" com pessoas que não têm com quem dormir junto.
Ela resolveu abraçar, dormir e acalentar pessoas por dinheiro para pagar seus estudos. Ela recebe em torno de R$ 500 por dia (cobra US$ 60 a hora), e "dorme" com até 30 pessoas por semana, incluindo mulheres, aposentados, veteranos de guerra, ou seja lá quem estiver precisando de carinho e afeto.
"Acho que nasci sabendo aconchegar. O aconchego é saudável, faz bem para o espírito e é divertido. Acredito que os clientes vêm a mim por várias razões. Os mais velhos são sozinhos, suas mulheres já morreram e eles precisam apenas de alguém para ficar com eles, passar algum tipo de contato humano", explica em entrevista ao jornal inglês Daily Mail.
De acordo com Jackie, quando ela é procurada  por pessoas mais jovens, são pessoas vivendo relacionamentos complicados. Ou então são pessoas curiosas sobre como funciona o trabalho de uma aconchegadora profissional. Ela costuma prestar os serviços na casa dos clientes e em cama de casal.
Existem algumas ressalvas: não é permitido tocar em partes do corpo de Jackie que estejam cobertas por roupas. Para deixar a delimitação bem clara, Jackie sempre atende aos clientes vestida com pijamas. A demanda é tanta que Jackie contratou uma assistente, uma jovem chamada Colleen."

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

OUTROLATRIA

POR UM SER HUMANO MAIS AUTÔNOMO

A dependência vem de longe. Começa no parto. Todos têm que cuidar de um ser extremamente frágil senão ele não sobrevive. Nasce sem absolutamente nenhuma autonomia. Depende tudo e de todos. Esse é o bebê humano. Começa muito cedo o vício e a delícia de depender.
Admiro os filhotes de girafa que despencam de uma altura considerável e logo se põe a caminhar bastando para isso um  simples olhar da mamãe. Por que não somos um pouquinho mais girafas?
Em contrapartida, o ser humano como animal de grupo, exagera na extrema dependência do grupo. Mesmo os que são rotulados de egoístas estão profundamente ligados aos ditames do grupo. Quase tudo é decidido pelo grupo à revelia dos seus membros insignificantes. E quem não se integrar à Ditadura do grupo sofre gravíssimas penalizações. Todos nós fazemos concessões DESCOMUNAIS ao grupo porque temos o temor fundado e comprovado de  que o grupo pode simplesmente nos excluír. E para um ser dependente como nós, ser excluído significa a morte psíquica. Por isso, damos muito bom dia pra cavalo, nos submetemos a muita humilhação só para termos a doce ilusão que pertencemos a alguma coisa. Essa ideia para nós é crucial e não passa de uma ideia. Na realidade, não pertencemos a nada nem a ninguém. Só pertencemos quando interessa ao grupo. Na verdade,  pertencemos apenas a nós mesmos.
Temos que reavaliar a solidão nas nossas vidas. A Solidão não é esse monstro que pintam por aí. Interessa ao grupo fazer a caveira da solidão porque ele não suporta gente autônoma. Gente autônoma não é auto-suficiente mas tem força, força para questionar os desmandos e estupidez do grupo.
A Monarquia Absolutista do grupo tem que ser denunciada. Denunciada sim, porque o grupo não é nem um pouco democrata. O grupo não pára nunca de impor. O grupo impõe pela publicidade, sempre mentirosa e pela moda. A publicidade é o vírus inteligente e mutante que propaga a doença da maioria chamada de NORMOSE. De Modismo em Modismo vamos nos VIOLENTANDO e adiando o ENCONTRO conosco.

sábado, 14 de setembro de 2013

AUTOMUTILAÇÃO

Eu não estou exagerando nas minhas críticas sociais. O planeta é doido por natureza e definição. Já disse e repito, nunca vi este planeta tão surtado. A nova moda macabra é a automutilação. Dois em cada doze jovens se automutilam na tentativa de aliviar dores psíquicas. Depois de todos os transtornos pós-modernos, como Bulimia, Anorexia, Ebriorexia, Vigorexia, Obesidade Mórbida, Transtorno Dismórfico Corporal, F.O.M.O,  etc, temos agora a AUTOMUTILAÇÃO.
Que Vincent Van Gogh se tenha mutilado, ainda admito. Vincent foi apenas um. Uma personalidade absolutamente genial obcecada pelo MITO DO AMOR ROMÂNTICO. Vincent, como gostaria de ser lembrado, não conseguia viver sem o amor de uma mulher. Quem matou Vincent foi esse mito que resiste aos séculos. Agora que adolescentes se automutilem porque não suportam as dores da alma, é estarrecedor. Não suportam porque o sentimento de desamparo e abandono é incomensurável. Um adolescente não tem estrutura emocional para aguentar sózinho todo o peso da Condição Humana. Precisa obrigatóriamente de ajuda. Onde estão nessas horas os 895 amigos do Facebook? Este mundo pós-moderno dá medo. A alma está doendo mais do que em qualquer outra época. Quando  a alma dói assim, a Sociedade está moribunda.

"Automutilação refere-se a comportamentos onde demonstráveis feridas são auto-infligidas. Uma crença comum diz que esse é um método de busca de atenção, entretanto, na maioria dos casos esse fato é equivocado. A maioria das pessoas que se automutilam estão bastante conscientes de suas feridas e cicatrizes e tomam atitudes extremas para escondê-las dos outros. Eles podem oferecer explicações alternativas para suas feridas, ou tapar suas cicatrizes com roupas. Automutilação, nesses indivíduos, não está associada ao suicídio ou para-suicídio. A pessoa que se automutila não está, usualmente, querendo interromper sua própria vida, mas sim usando esse comportamento como um modo de cooperação para aliviar dor emocional e desconforto."
As mentes pedem Socorro e os dias transcorrem como se tudo fosse um lindo conto de fadas. Quando a felicidade pode ser editada nas redes sociais é mau sinal. Não edite mais a sua felicidade no Facebook, passe sua vida a limpo.

 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O MERCADO DOS SEXOS

"Na China, consumimos ópio, no Marrocos, consomem haxixe e no Ocidente, consomem mulheres."
-André Malraux em a CONDIÇÃO HUMANA

Nesta Sociedade eminentemente MERCANTIL, as mulheres são consumidas como mercadorias. Na sua grande maioria, elas colaboram para este tipo de comportamento. Quem compra é quase sempre o homem. Elas enfeitam a mercadoria e por vezes se fazem de difíceis apenas para aumentar o valor do produto.
A mulher é a panacéia para todos os males. É uma espécie de droga lícita que o macho usa para lhe proporcionar relaxamento, conforto, saúde, calma e tranquilidade. Não é por acaso que a mulher em certos jornais vem associada a futebol e outros tóxicos. Passe por uma banca de jornais e veja quanta mulher à venda. Quem se apresenta como objeto sexual, objeto é. O verbo comer com conotação sexual é muito esclarecedor. O que não é elucidativo é o verbo dar ao referir-se ao ato sexual da mulher. Mulher nunca deu nada; mulher vende. E não estou moralizando nem me referindo à prostituição. O preço que se paga é emocional e abstrato. O homem, por vezes paga preços exorbitantes e nem sente. Faz parte do automatismo cultural. A mulher conhece como ninguém os truques do mercado. 
Mesmo com o abrandamento dos costumes, o homem  continua sendo o grande consumidor. Ele é que compra. Em certos países árabes, a mulher é  proibida de mostrar a mercadoria. Pelo menos no Ocidente, temos uma mercadoria bem visível e exuberante.

É deplorável que seres humanos se prestem a estes papéis. Para que a mulher deixe de ser consumida como mercadoria ela tem que se recusar terminantemente a esse papel. Gostaria que falassem de uma mulher elogiando o seu intelecto , o seu caráter, a sua correção, o seu talento, a sua habilidade, a sua sensibilidade, a sua competência, etc, etc. Gostaria também que a mulher soubesse valorizar este tipo de apreciação. Há mulheres que só valorizam os comentários relativos à beleza física e à capacidade sedutória. Ver mulheres sendo tratadas como coisas, me irrita. E me irrita muito mais ainda quando elas  estimulam esta postura.

sábado, 7 de setembro de 2013

OS GUARDIÕES DA NORMALIDADE

Normalidade é o comportamento da maioria.Tudo o que a maioria faz é considerado normal. Se você destoar de alguma forma da maioria, você é anormal. A anormalidade responde por vários nomes pomposos atribuídos por gente muito sábia e invulgar. A Sociedade que não é besta,(e porque nunca está segura dos seus usos e costumes) nomeou os GUARDIÕES da sua normalidade e outorgou-lhes poderes absolutos. Esses guardiões impertigados que inspecionam o que é tido como normal, são comumente chamados de psiquiatras.
O psiquiatra é capaz de discorrer horas a fio sobre o que é bom para todos nós. Ele sabe tudo. Ninguém ousa questioná-lo. Usa um palavreado difícil que quase ninguém entende. Memorizou meia dúzia de palavras doutas e com elas começa o seu ofício de rotular pessoas. O poder que lhe foi oferecido pela nossa linda sociedade dá medo e pavor. Se ele cismar por alguma sintomatologia que você é esquizofrênico, você está rigorosamente e totalmente  PHodido.
O psiquiatra é um dos maiores viajantes da verdadeira maionese. Aliás, todos os PSIS viajam pra burro. Viajam e cobram os tubos pela viagem de cujo itinerário são os únicos autores.
Para apoiá-los, contam com o desespero das famílias diante do comportamente incomum de um de seus membros. Ele reina em meio ao caos mental e como todos os médicos, diante da fragilidade do paciente. Aplica as injeções curativas e administra as palavras solenes e cabalísticas que são bebidas como a última coca-cola do deserto.
A história da psiquiatria é a própria história dos mil enganos. Quanta gente foi péssimamente diagnosticada e enlouqueceu sem ser louca. Quem conhece a verdadeira história de Camille Claudel sabe do que eu estou falando. E como ela há milhões de vítimas anônimas da psiquiatria que se diz moderna. Gostaria de me alongar sobre este assunto, mas vou parar por aqui.
Espero que a campanha antimanicomial aperfeiçoe esta especialidade perigosíssima da medicina que não pára de fazer merda.
P.S.- Leia o livro "O Canto dos Malditos" e veja o filme "Bicho de sete cabeças."

A PARÁBOLA DA AVENIDA BRASIL

Chovia torrencialmente no Rio de Janeiro. Rios caudalosos se formaram em cerca uma hora. Ônibus cheios de pobres atravessavam os rios fazendo ondas e humilhando os carros de passeio. Estou usando a palavra ônibus porque sou muito bonzinho. Na realidade, a cidade do Rio de Janeiro nunca teve um só  ônibus; são todos Caminhões para pobres tratados como carga. Eta cidade maravilhosa!
E é neste dilúvio vespertino que encontramos o nosso querido Aristides Kelson de Souza. Andava devagar no seu Gol Caixinha um ponto oito que um dia já tinha sido vermelho. Agora ostentava uma cor indefinida. Era um carro pintado pelo sol e a chuva que o castigaram durante décadas. Isso para não falar dos riscos feitos pelos vândalos filhos da puta. A chuva não cedia e ele tinha que chegar a Bonsucesso.
Na Avenida Brasil onde transitava, muitos carros já tinham pifado. Que chatice! O seu Golzinho resistia bravamente.
A visibilidade era quase nula em alguns momentos. E foi num desses momentos que Aristides se viu completamente perdido em meio ao temporal. Tinha errado uma "agulha". Andava, andava e não sabia mais onde estava. Prestava atenção no volante e ao mesmo tempo procura uma placa ou alguém que o ajudasse a saír daquele pandemônio.
Aristides quando ficava nervoso passava a mão várias vezes no cabelo como se o tirasse a testa. E a chuva não parava. Sentiu que do lado do carona havia água no assoalho. Reconheceu que aquele carro que tanto adorava estava mesmo ficando podre.
Súbitamente surgiu da penumbra um senhor de terno bege ou branco. Aristides ia muito devagar. O homem se dirigiu a ele e lhe perguntou:
- O senhor está perdido?
- Estou completamente perdido. Não sei mais onde estou.-respondeu
- Mas para onde vai?
- Eu estava indo para casa em Bonsucesso.
- Então, pegue a primeira à direita, faça o contorno, suba o viaduto e depois é sempre em frente.
- Muito obrigado. O senhor salvou a minha vida.
- Boa sorte.
Aristides cumpriu à risca o que o homem misterioso lhe tinha dito. Depois de muito andar, notou que a chuva tinha abrandado. Entretanto não reconhecia o lugar em que estava. Que lugar era aquele? Ali não era Bonsucesso.
Do nada, apareceu-lhe o homem misterioso da Avenida Brasil que exclamou satisfeito:
- Viu?! Conseguiu chegar em segurança. A chuva já parou e o senhor está salvo.
- Mas..... este lugar não é Bonsucesso. Que lugar é este?
- Que importância tem isso? Todos os lugares são iguais.
- O senhor vai me desculpar, mas eu não moro aqui. Não conheço este lugar.
- Prefere voltar para a Avenida Brasil? Aqui é bem melhor. Ou não é?
- É, né! Mas como se chama este lugar.
- Aqui é o famoso bairro de Cordovil.
- Cordovil? Mas eu moro em Bonsucesso.
- E daí? Você saiu do temporal e está a salvo. Isso é que interessa. Aqui você vai conhecer muita gente boa. Você vai ser amado pelo pessoal. Aqui é o seu lugar. Nunca mais você vai se perder. Esteja certo.
- É.....Legal!
- Ah, já ia me esquecendo. O senhor pode ficar aqui à vontade. Sinta-se em casa. Cobramos apenas dez por cento do seu salário. Apenas isso.
- Dez por cento? Do meu salário?

Hoje Aristides Kelson paga para achar que se achou. Afinal qualquer coisa é muito melhor que a consciência e o sofrimento da perdição.

O TREM PARA JAPERI

"Há um eterno ir e vir, despedidas e um quase sempre nunca encontrar."
Franz Kafka
A vida é uma  longa Estação estreita. Idas e vindas, encontros, conflitos e muitos desencontros. Estão todos na Estação. Enquanto há vida, há Estação. Muita maledicência, muitos mal entendidos e algum bom senso. O problema e o pior é na hora de pegar o trem. Que trem pegar? Para onde vai o trem?
Os trens da vida são cronológicos. Na época boa, na minha época, aos vinte e poucos anos era quase obrigatório pegar o trem para Japeri. Era um frenesi na Estação, um alarido ensurdecedor para pegar o trem de Japeri. As malas se amontoavam pelos cantos. Muitos beijos na boca e profusas carícias. Só não havia crianças para aperfeiçoar o burburinho.
Japeri era práticamente um Shangri La. Tudo era lindo em Japeri. Tudo era bom e transformador em Japeri. Japeri era uma tentação irresistível sobretudo porque todos iam para Japeri. Nessa ocasião, apesar da pressão social e da publicidade massiva e torturante fiquei na Estação. Nunca gostei de multidões alucinadas. Para ficar na Estação, era preciso muita coragem.
Resisti bravamente aos encantos de Japeri. Era um promessa de felicidade na qual nunca acreditei. Sou incrédulo por convicção. Foi duro ficar anos e anos na Estação. Passavam muitos trens para Japeri. Mas Japeri definitivamente não era o meu destino. Vaguei décadas como um espectro na Estação. Ninguém entendia a minha renitência. Era terrívelmente adjetivado. Chamavam-me de maluco, de esquisito, de pirado, etc. 
Passavam muitos trens, mas todos para Japeri. Era penoso viver na Estação. Contentava-me em conversar com alguns Anti-Japerianos que dormitavam nos bancos e povoavam a Estação. A maioria estava em Japeri. Nós, os da Estação, tinhamos um certo desprezo pelos festivos e delirantes moradores de Japeri.
Esperei pelo MEU TREM anos a fio e ele não chegava. Lá pelas tantas, começaram a chegar os Dissidentes de Japeri dizendo que Japeri não era  nada daquilo que propalavam. Os dissidentes eram o conforto da minha escolha. Os que ficaram em Japeri, só ficaram porque primavam por salvar as aparências. Os dissidentes vinham carregados de filhos e decepções. Os casais já não se amavam tanto. Era um pessoal angustiado e muito mal humorado. Muitos edílios foram desfeitos. Aos poucos a Estação foi ficando cheia de gente. Eram os infelizes dissidentes de Japeri.
E eu continuei na Estação.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

PROJETO ROBINSON

Pode ser que o passar dos anos te ofereça a dádiva de encontrar caminhos próprios. Envelhecer só vale a pena se você conseguir ser mais feliz. Pode ser que o percurso dos outros não sirva para você. Não insista. Nem sempre as trilhas da maioria foram feitas para você. (A "língua" brasileira é tão confusa e rebelde que não sei se te trato por tu ou por você.)
Quando você tiver certeza absoluta que nada nem ninguém te livrará da morte e da solidão, você vai desencadear o seu PROJETO ROBINSON.
Digo para poucos, mas falo para o mundo inteiro. Todos fogem da solidão e da morte. Eu também já fui um fugitivo exemplar. Tudo nos incita a fugir. Ninguém fica parado diante do horror. As artes nos ajudam a fugir. Só falam de amor. O amor romântico é a solução para os que não aguentam as agruras de estar só na Via Láctea. Experimente usufruir da  liberdade e da delícia de estar só na Galáxia.
Fugi tanto que desisti de fugir para me encarar. Tudo o que fazemos é para negar a solidão e a morte. Ernest Becker em "A Negação da Morte" já escreveu exaustivamente sobre o assunto. Tudo nos leva a crer que escapamos da Condição Humana. Imagine você casado com meia dúzia de filhos, é óbvio que você não está só e que os filhos vão te suceder. As evidências da maioria são muito enganosas. Mesmo na fuga do Matrimônio e da Procriação, você está SÓ. É  simples e inelutável, mas exige muita coragem. E você cercado de "amigos" é óbvio que parece você não está só, mas você está completamente Só. MUITÍSSIMA GENTE GANHA RIOS DE DINHEIRO SÓ PORQUE VOCÊ NÃO ACEITA QUE É SÓ.
Quando finalmente você tiver a coragem suficiente para assumir a sua finitude e a sua solidão, você vai fincar os pés nos chão e jogar fora todas a muletas. É neste momento que você executa o seu PROJETO  ROBINSON. Não aceites que te culpabilizem. Tu não tens culpa de nada. Essa estratégia da maioria pode te fragilizar. Não aceites que te culpabilizem.
Claro que você não vai ficar isolado numa ilha, todavia vai preferir viver numa PENÍNSULA. É uma furada viver no Continente. Como você fica em pé sem muletas, você vai poder escolher os seus ISTMOS com calma e critério e não ficar vulnerável à multidão. Para o desavisados qualquer telefonema é um sinal de  que acabou a solidão. Ledíssimo engano. Dela você não escapa.
Atribuimos muito poder aos outros porque o nosso instinto gregário nos trai. Os outros não têm esse poder todo. Só têm o poder de nos iludir que a solidão acabou. A religião também não tem esse poder todo. Só nos proporciona a ilusão que a morte será mais suave porque somos amigos do "dono da vida e da morte. "
Aceite docemente a sua difícil situação. Faça as pazes com os enigmas dos Universos e não dependa de nada nem de ninguém para sorrir  do absurdo de existir nestas condições.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

UM ENCONTRO NO LABIRINTO


"Não é facil encontrar a felicidade em nós mesmos, mas é impossível encontrá-la em outro lugar."
Agnes Repplier - The treasure Chest
Dia desses vi um homem muito concentrado lendo a bíblia. No final da judiciosa  prospecção beijou a bíblia com o desespero de quem deseja encarniçadamente se encontar. Não me parecia um Ser encontrado. Não me pareceu que ele tivesse celebrado um contrato tácito e solene consigo mesmo. A bíblia, a meu ver, não é um bom lugar para um encontro pessoal.
Surpreendi-me perplexo com mil interrogações na cachimônia. Como alguém ousa tentar encontrar-se num livro como a bíblia? A bíblia é um compêndio de contradições, equívocos e traduções incorretas. Além disso, que credibilidade podemos atribuir à tradição oral? Conhecemos perfeitamente os malentendidos da tradição oral. Apesar da minha deformação católica, sempre me surpreendeu o fato de utilizarem a bíblia como fonte de entendimento e felicidade. É muito bizarro.
Não vejo nenhum entendimento nessa coleção de livros absolutamente suspeita, manipulada e tendenciosa.
A bíblia e os seus textos enigmáticos, metafóricos e herméticos já promoveram e ainda promovem muito derramamento de sangue. Matar em nome de um deus confuso é uma prova indisputável de patologia mental crônica. Como é que alguém se encontra num livro assim? É contraproducente e beira a loucura. A loucura religiosa não só é admitida como estimulada. Diz-se que não se pode viver sem religião. Será? Vejo muita gente atormentada recitando frases que não significam nada. A bíblia é um código a que sempre recorrem como Carta Magna da Metafisica. Ninguém pode contestar a "profundidade" dos capítulos e versículos. Como é que palavras ditas na poeira dos séculos e dos desertos por personagens anacrônicos podem tornar-se Lei inarredável? Se você não tem coragem de se assumir só, não apele tanto para o irracional. Não admiro quem está sempre de muletas. Quero pegadas, não rastros de muletas.
O encontro pessoal que todos com certeza ambicionam, passa por uma folha de papel em branco, auto-concentração, introspecção, ensimesmamento e pela descoberta do que está dentro de nós. Dentro de nós há uma coisa e essa coisa somos nós.  
A minha felicidade não está em Nova York e muito menos em Paris. Ela só pode estar aqui no meu quarto onde agora escrevo esta postagem. Se você se amarra num labirinto, caminhe no seu. Se no seu já é difícil se encontrar, imagine no labirinto que os outros inventaram. 
P.S.- E eu nem me referi à Exegese e à Hermenêutica Bíblicas.