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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Três frases célebres fora de contexto

As três citações mais populares e mal interpretadas da filosofia

Existem algumas citações do campo da filosofia que se tornaram muito pop's. É bom que a filosofia se torne famosa, entretanto, é ruim quando queremos entender a filosofia por frases soltas, na base do "ouvi falar". Pior ainda é quando citamos essas frases sem entendê-las. Aqui vão as três frases mais famosas e mal interpretadas da filosofia, seguidas de uma tentativa de esclarecimento e contextualização para que não fiquem tão soltas por aí.
“A religião é o ópio do povo” K. Marx – Essa citação de Marx, não raro, é interpretada de forma equivocada. Muitos a entendem com o sentido de que a religião manipula e ilude o povo, como a ilusão criada por se fumar ópio. Entretanto, essa não é uma interpretação coerente nem no contexto em que a frase foi posta, nem segundo o próprio pensamento de Marx. Para o Marxismo, tendo como base o materialismo histórico, não é a consciência que determina aquilo que é material, mas sim o que é material que determina a consciência. Aqui, o verbo determinar não deve ser entendido de forma rígida, determinista, afinal, apesar da predominância do material sobre a consciência, Marx concebe a relação entre o material e as ideias como dialética. Sendo assim, a religião, tida como ópio, faz parte do campo da consciência e não do campo material. Não é ela que cria a ilusão que determina a miséria do povo; ela, na realidade, é o resultado das miseráveis condições materiais pelas quais o povo sofre. Marx, aqui, talvez apontasse que a religião é antes uma consequência da exploração do trabalhador, do que sua causa. Oprimido materialmente, o povo busca dar conta de seu sofrimento através do alívio da consciência, com o ópio, ou seja, com a religião. Aqui vai a frase com um pouco mais de contexto:  “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo.”
“Deus está morto” F. Nietzsche – Essa talvez seja a frase mais mal interpretada de toda a filosofia. Isso porque ela, como a frase de Marx, cita algo que faz parte do campo da religião. Entretanto, de nada adianta querer entender frases soltas. Nietzsche era um grande crítico da metafísica, e consequentemente da metafísica de Platão e com essa frase, queria mais constatar que as justificativas e fundamentos que damos para nossa existência em um “além-mundo” estavam mortas, do que fazer propaganda do ateísmo. Nietzsche estava atestando, no final das contas, que a metafísica (Deus) morreu. E quem foi o assassino? O positivismo. Depois dele, não poderíamos mais julgar nosso mundo segundo preceitos metafísicos e no final das contas, sabendo disso, todos nós “matamos Deus”. “Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós!”
“O inferno são os outros” J. P. Sartre – Esta frase, sozinha, sem o devido contexto da filosofia Sartriana, dá brecha para se pensar que seria melhor se os “outros” não existissem para não me atrapalhar, para não atrapalhar o mundo ou qualquer coisa do tipo. Entretanto, isso não se encaixa na filosofia de Sartre. Ora, o existencialismo é a filosofia em que a existência precede a essência. Em outras palavras, antes existimos para que depois possamos ser e nossa essência não é pré-concebida. A essência de cada um de nós é o resultado da nossa existência, das nossas escolhas durante a vida. Ou seja, eu, como ser humano, sou as escolhas que faço durante a minha vida e no fim das contas, é isso que me difere das outras coisas: a liberdade. “O ser humano está condenado à liberdade”, segundo Sartre, porque não pode escapar à sua responsabilidade de decidir. Ao tomar uma decisão, o ser humano deve sofrer a angústia da escolha e ser responsável por si mesmo e por toda a humanidade. Se não for assim, não é verdadeiramente livre. E como o ser humano pode ter acesso e experimentar a sua própria essência? A partir do outro, da convivência. O inferno é esse. Além de estar condenado à liberdade, tendo que fazer escolhas sob minha responsabilidade, os outros me impedem de fazer tudo que quero, entretanto, é somente através dos outros que posso vislumbrar minha essência; somente através do “inferno” da convivência e da condenação à liberdade que os seres humanos podem ser.

sábado, 12 de setembro de 2015

Hitler se drogava

O livro Der totale Rausch (O delírio total, em tradução livre), de Norman Ohler, leva no título um jogo de palavras usando a referência da "guerra total", expressão que ganhou fama em 1943 durante discurso proferido por Josef Goebbels em Berlim.
Com ele, Ohler tenta descrever o apetite dos líderes nazistas por um "delírio total" – o uso compulsivo de drogas não só por soldados, mas também pelos mais altos nomes do Terceiro Reich, como o próprio Hitler.
"Os soldados alemães usavam Pervitin, um produto que contém metanfetamina, o que é hoje conhecido como crystal meth. Hitler aplicava esteroides na corrente sanguínea. E, mais tarde, usou Eukodal, produto farmacêutico que se aproxima da heroína", conta o jornalista e escritor à DW.
Deutsche Welle: Como nasceu a ideia do livro?
Norman Ohler: Um DJ berlinense me disse uma vez que os nazistas tomavam grandes quantidades de drogas. Eu nunca tinha ouvido falar sobre isso antes. Mas o fato despertou meu interesse, achei que tinha um fundo de verdade e passei a frequentar o Arquivo Federal da Alemanha e os Arquivos Nacionais americanos em Washington e no estado de Maryland.
A primeira coisa que quis ver foram as anotações pessoais do médico de Hitler, Theodor Morell. Para a minha surpresa, essas anotações eram bastante elaboradas, descrevendo como ele havia tratado Hitler ao longo dos anos, inclusive coisas como "injeção como sempre" e "Eudokal", que é um forte opioide.
Era a mesma droga tomada pelos soldados?
Não, os soldados usavam Pervitin, um produto alemão patenteado em 1937 e que contém metanfetamina, o que é hoje conhecido como crystal meth. Até 1939, esse produto esteve livremente disponível em forma de remédio. Em Berlim, ela se tornou uma das drogas preferidas, como beber café para despertar o ânimo. As pessoas tomavam grandes quantidades de Pervitin. A companhia queria que ela se tornasse rival da Coca-Cola. Assim, as pessoas a ingeriam e ficavam eufóricas – um estado de espírito que combinava com o humor geral da população antes da guerra.
E como a droga foi descoberta pela Wehrmacht?
As Forças Armadas alemãs perceberam que existia uma droga no mercado que poderia ser de interesse dos soldados, já que Pervitin mantém acordado por um longo período de tempo. Durante os primeiros dias, nem é preciso dormir. Foi usado pela primeira vez quando a Alemanha invadiu a região dos Sudetos e a Polônia, e em seguida quando a Alemanha atacou a França, em 1940, uma estratégia de guerra relâmpago. Antes do ataque, as forças nazistas encomendaram 35 milhões de comprimidos de Pervitin para os soldados na frente francesa.
Pervitin foi muito usado pelos nazistas. Hitler não o utilizava, ele aplicava esteroides na corrente sanguínea. E, mais tarde, usou Eukodal, produto farmacêutico que se aproxima da heroína. Hitler adorava Eukodal. Especialmente no outono de 1944, quando a situação militar deteriorou, ele usou essa droga forte para fazê-lo eufórico, mesmo que não parecesse estar nenhum pouco nesse estado de espírito.
Os generais lhe diziam: "Precisamos mudar nossa tática. Precisamos acabar com isso. Vamos perder a guerra." E ele não queria escutar nada disso. Ele tinha o seu médico, Dr. Morell, que lhe dava medicamentos que o faziam se sentir invulnerável e senhor da situação.
Isso era sabido na Alemanha?
Ninguém sabia o que o médico dava a Hitler. Ele não contou a ninguém, e Hitler, com certeza, também não. Mas muitas pessoas suspeitavam que estava acontecendo alguma coisa estranha. Houve algumas tentativas de fazer com que Morell revelasse o que estava dando a Hitler, mas ele recusou. Era um segredo entre dois homens.
Mas os soldados tomavam abertamente Pervitin?
Que os soldados estavam tomando Pervitin não era nenhum segredo. A princípio, a Wehrmacht não percebeu que se tratava de uma droga; pensavam que era como tomar café. Mas, em 1941, isso foi proibido e declarado uma droga ilegal. Nas Forças Armadas, no entanto, a distribuição continuou em segredo, mas os registros da campanha contra a Rússia não são tão claros como os da guerra contra a França, onde é possível ver quantas pílulas foram distribuídas. Falei com um oficial militar médico que esteve em Stalingrado, que disse que Pervitin ainda era distribuído ali, mas que, basicamente, não fez nenhuma diferença.
Outras Forças Armadas também tomaram drogas semelhantes?
Eles acabaram descobrindo sobre as drogas alemãs, e os britânicos usavam anfetaminas. Basicamente, os alemães usaram crystal meth, e os britânicos utilizaram speed. Muito dos soldados americanos que se juntaram ao esforço de guerra entraram naquele cenário belicoso através do Reino Unido, onde recebiam anfetamina.
Os americanos tomavam a droga para poder concorrer com aqueles soldados alemães enlouquecidos. Isso fez escola entre os militares americanos: se você olhar para a Guerra da Coreia, em 1950, ela foi marcada pela anfetamina, e todos os pilotos estavam dopados.
O LSD, por exemplo, foi inventado por um químico suíço, e o serviço de inteligência americano tentou usá-lo, também com base em experimentos alemães no campo de concentração de Dachau, onde um médico chamado pelo nome de Plötner usava mescalina para desenvolver novas técnicas de interrogatórios. Quando os americanos libertaram o campo de concentração, eles levaram esses estudos e os usaram no Projeto Alcachofra, utilizando-os na década de 1950 para descobrir quem era agente soviético ou não.
Qual foi para você a maior surpresa durante os muitos anos de pesquisa para esse livro?
Achei o abuso de drogas por parte de Hitler como a parte mais surpreendente.
Autor: Dagmar Breitenbach 
Fonte: MSN Brasil

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Ser e pertencer

 
Este texto é dedicado a Gheramer.
Existe uma confusão generalizada e cruel entre identidade e pertencimento. A palavra adequada e menos esdrúxula, seria a palavra francesa appartenance, substantivo do verbo appartenir que significa pertencer.
Sempre que se fala em identidade, na realidade, trata-se de appartenance e não de identidade. O que as pessoas recitam mecanicamente para se definir, está muito longe de defini-las. Quem se diz brasileiro é porque pertence a um grupo de pessoas que mora num determinado espaço físico e que tem determinadas características. O Brasil nunca pode ser a identidade de um indivíduo, mas o seu pertencimento; identidade é outra coisa.
EU sou EU. Eu não sou o país em que eu nasci, nem a classe profissional a que pertenço, nem o meu estado civil, nem a minha religião, nem a minha falta de religião e muito menos a minha etnia.
Este equívoco da maioria é um campo fértil para a disseminação e expansão do preconceito. Se eu não me identificar com os estereótipos da minha nacionalidade, da minha profissão, do meu estado civil, da minha religião, da minha orientação sexual, eu estou sujeito a crassos erros de interpretação e a delitos muitíssimo graves como o racismo por exemplo.
O brasileiro gosta de samba, de carnaval e futebol. Se eu detestar samba, carnaval e futebol, está quebrada a minha falsa identidade e ameaçado o meu pertencimento.
Para quem ainda não aprendeu a ser, só lhe resta pertencer. Pertencer e sofrer de espúrias associações a grupos, etnias, religiões, partidos, agremiações, etc. Conheça e incorpore o seu compasso, o seu ritmo e as suas pausas.
Apresse-se, vasculhe-se e descubra urgentemente quem você é, para não ser vítima de estúpidos julgamentos e para não amargar uma infelicidade crônica e patológica.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O segredo é não perdoar

Quando está em meio a uma DR do casal, boa parte dos seus amigos recomenda perdoar as falhas da parceira, esquecer o ocorrido e bola pra frente. Apesar da mágoa, você aceita os conselhos e pensa que essa é a atitude mais correta para um relacionamento feliz.
Apesar de parecer que sim, os pesquisadores da Universidade do Tennesse descobriram que não perdoar e ficar com raiva  pode ser a melhor maneira de resolver os problemas do seu envolvimento.
Até chegar à conclusão para o segredo do casamento feliz, o professor de psicologia da universidade, James McNulty, entrevistou 72 casais que estavam no primeiro matrimônio e juntos há pelo menos seis meses. "O desconforto a curto prazo de uma conversa com raiva, mas honesta, pode beneficiar a saúde de um relacionamento a longo prazo".
Segundo ele, toda relação passa por momentos em que um parceiro faz algum tipo de transgressão contra o outro. Entre as causas: infidelidade, impaciência, falta de companheirismo ou irresponsabilidade financeira. “Quando isso acontece, nós temos que decidir se vamos ficar nervosos e alimentar a raiva ou perdoar”, assume McNulty.
Sua pesquisa mostrou que uma variedade de fatores pode complicar a eficácia do perdão, incluindo o nível de temperamento do parceiro (afável ou intransigente) e a severidade e frequência da transgressão.  "Acreditando que o parceiro que perdoa leva pessoas afáveis  a serem menos propensas a ofender, mas no caso de pessoas intransigentes, elas estão mais susceptíveis a ofender o parceiro", disse ele.
Além disso, ele aponta que a raiva pode desempenhar um papel importante na sinalização para o parceiro que transgrediu e que o comportamento ofensivo não é aceitável. Dessa forma, em outra situação semelhante, o transgressor vai pensar nas consequências duas vezes antes de cometer a mesma falha.
Então, da próxima vez que encarar uma DR, ao invés de relevar tudo que a parceira faz, tenha uma discussão dos pontos que te deixaram chateado, pois essa é a melhor forma de fazer com que a relação tenha duradouros anos e você tenha um casamento feliz.
Fonte: MSN. Com a correção de inúmeros erros crassos de português.

O pecado como estratégia de dominação e poder

Por definição, pecado é a desobediência à vontade de Deus. Quem foi o cara ou os caras que conseguiram a façanha de ter acesso à vontade de Deus? Tamanho absurdo não deveria caber na cabeça de ninguém e cabe.
Para quem tiver se beneficiado minimamente da oftalmologia, as relações humanas sempre foram e serão relações de poder. São muito mais relações de poder do que relações humanas própriamente ditas.
No teatro social, a medição de forças está sempre na ordem do dia. A medição pode ser feita de maneira explícita, mas na maioria da vezes é subliminar e dissimulada. A medição de forças em qualquer circunstância, nunca deixa de ser realizada.
A história da humanidade a despeito das falsas democracias, é a história de dominadores e dominados. E a equação é cansativa e é sempre a mesma: poucos dominadores para muitos dominados.
Para mim, é excessivamente óbvio, é agressivamente óbvio que quem inventou o pecado queria trapacear na medição de forças, inventando para isso uma força atemporal e enigmática. 
Medição de forças, a gente entende e admite. É assim na savana e na selva de pedra. Tudo bem.
Criar uma força extra e superior para intimidar e sair vencedor no campeonato de medição de forças, é pura trapaça. 
Se juntarmos à noção de pecado, a confissão que também é uma forma espúria de poder, temos o poder absoluto sobre a comunidade crédula e ingênua. 
Fico triste quando me deparo com a trapaça institucionalizada, mas logo me encho de alegria porque eu ainda não estou cego.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Concessão e submissão

Conceder, tudo bem. Todo mundo concede para viver nesta sociedade maravilhosa. A nossa vida é um rosário de concessões.
O acaso e cronos me desmonstraram que não querem apenas a nossa concessão, também querem a nossa submissão.
Submissão, jamais. Prefiro me submeter à morte.

sábado, 29 de agosto de 2015

As redes sociais e a caça às bruxas

Em tempos de delação premiada, nas Redes Sociais, rola a denúncia gratuita, infundada e difamatória. Eu já fui vítima dessa atitude no Google+.
É elementar. Considerando as características intrínsecas e inexoráveis do miserável comportamento humano, simplesmente, você é denunciado porque o bípede, bímano, irracional, não vai com as tuas postagens. Já não posso dizer "com a tua cara" porque está muito fora de moda. 
As expressões idiomáticas têm que ser urgentemente revistas. As expressões do meu vocabulário pessoal fazem parte de um mundo que não existe mais. Para mim, o meu mundo acabou no ano 2000.  Eu sou um zumbi que paira na atmosfera tóxica da pós-modernidade líquida.
Voltando às denúncias. Na grande maioria das vezes, os responsáveis pelas Redes Sociais não procedem à necessária e obrigatória averiguação dos fatos e muita gente inocente é punida injustamente. Eu já fui punido e continuo sendo punido pelo Google+. Os mentores do politicamente correto são os novos inquisidores devidamente atualizados nas atualizações automáticas made in U.S.A.
O virtual reproduz e piora o real. No virtual, as pessoas ainda conseguem ser mais "cara de pau" por estarem ocultas no seu avatar. ("Cara de pau" também não  se usa mais neste mundo sofisticado e cruel.) Para substituir esta caduca expressão proponho "cara de monitor".  
E é isso, compatriotas virtuais. Neste mundo de denúncias e mais denúncias fica muito difícil cultivar as boas amizades. Neste sentido, as Redes Sociais perdem a sua função precípua e só servem para espantar o tédio de quem ainda se assusta demais com a banal,  corriqueira e ancestral angústia da condição humana. 
Apêndice
A caça às bruxas foi uma perseguição política e social que começou no século XV e atingiu seu apogeu nos séculos XVI e XVII principalmente em Portugal, na Espanha, França, Inglaterra (chamada de Normandia), na Alemanha, e na Suíça em menor escala. As antigas seitas pagãs e matriarcais , de fundo e objetivo Político, eram tidas como satânicas, de domínio popular com objeto diferente do religioso, sendo organizações diferentes do que costumam pregar a Bíblia, Alcorão e outros livros santos, tendo uma conotação de domínio político de Poder. O mais famoso manual de caça às bruxas é o Malleus Maleficarum ("Martelo das Feiticeiras"), de 1486.
No século XX a expressão "caça-às-bruxas" ganhou conotação bem ampla, sua verdadeira conotação se auto-revelou se referindo a qualquer movimento político ou popular de perseguição política-arbitrária, com o objetivo de Poder, muitas vezes calcadas no medo e no preconceito submetiam a maioria, no que hoje poderíamos chamar de Terrorismo, como ocorreu, por exemplo, durante a guerra fria, em que os EUA perseguiam toda e qualquer pessoa que julgassem ser comunista, seja por causa fundamentada e comprovada e/ou não, por medo do Terrorismo. Dessa forma, teve lugar a caça às bruxas comunista dos EUA, como também ao sul do Brasil aos chamados Nazi-comunista por Getúlio Vargas, antes da Segunda Guerra Mundial, de 1922 a 1942 quando entrou na Guerra efetivamente ao lado dos aliados, em que esses elementos sabotavam as organizações militares e governamentais de forma geral, principalmente aos Bancos, para angariarem fundos, se infiltrando nelas.

domingo, 23 de agosto de 2015

Parem de falar mal da solidão

O indivíduo é expulso de si próprio desde a mais tenra infância. Todo o investimento educacional é feito no sentido de nos tornar um sucesso de convivência social. Alega-se que só quem tem bom relacionamento social pode ser feliz. Nunca vi estupidez mais crua e revoltante em toda a  minha vida.
Muito ao contrário, quem é um sucesso de convivência social é mais propenso à infelicidade. Para que sejamos populares e bem quistos somos obrigados a mentir e ser hipócritas. Mentira e hipocrisia, a despeito das vozes dissonantes, não combina com felicidade. Está  quase todo mundo muito enganado.
A educação estimula a mentira, a dissimulação e o ardil como armas de defesa na guerra social. A educação tradicional é uma bomba atômica lançada sobre a possibilidade de ser feliz. A felicidade não é um encontro com os outros; a felicidade é um encontro consigo próprio.
A premissa e a perspectiva geográfica estão dramáticamente erradas. Não é lá fora. Não é com o  Google Earth que encontramos a ambicionada felicidade. Não é mesmo. Não é viajando o tempo todo  como fugitivos de nós próprios que alcançaremos esse bem-estar geral chamado felicidade. 
A criança deve ser encorajada pelos pais e educadores a um contato com ela mesma e não exclusivamente com os outros. Muito poucos são estimulados à introspecção e à reflexão. A sociedade abomina a solidão em favor da improbabilíssima festa social. O que mais há no grupo humano são conflitos expostos ou inconfessos.
Não estou propondo viver nos limbos do pacífico, nem a imitação de Robinson Crusoe; defendo a solidão contra a injúria da maioria pois sei muito bem que a vida social como único e grande objetivo, é fonte inesgotável de stress, aumento da pressão arterial e morte precoce.
A sociedade difama a solidão porque quase tudo é feito em nome do grupo. Essa onda ridícula de auto-estima não me convence. Fala-se em auto-estima como um mais um meio de agradar à maioria. Hoje, ter auto-estima significa ter uma bela estampa, investir em cirurgias plásticas e artíficios de beleza exterior. Confunde-se amor próprio com a sedução do outro porque todos são induzidos a acreditar que a felicidade vem de fora.
Parem de caluniar a solidão. A solidão é o estado mais adequado e conveniente para a espécie humana. O bando é apenas uma intercorrência compulsória que oferece resultados muito duvidosos.
Faça uma viagem heterodoxa e volte para onde você nunca deveria ter saído; volte pra si mesmo.


quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Sobre estar sózinho

Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo e assim por diante. Uma ideia prática de sobrevivência e pouco romântica por sinal.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficarem sozinhas e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
O ser humano é um animal que vai mudando o mundo e depois tem de ir se reciclando para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.
A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.
Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.

Fonte: FLÁVIO GIKOVATE

Solidão também é bom


O pavor da solidão é algo presente em muitos de nós por razões que nem sempre são muito consistentes. Em primeiro lugar, ela costuma estar associada à dor que sentimos nos primeiros tempos depois de uma separação amorosa. É claro que nos habituamos ao aconchego que deriva de uma união, mesmo que problemática.
A dor derivada da ruptura não corresponde à solidão e sim a uma tristeza que deriva da transição de uma condição para a outra. A solidão corresponde ao estágio posterior, ou seja, ao modo como vivemos depois de ultrapassar essa turbulência, por vezes bem dolorosa, típica de uma transição que, num primeiro momento, nos parece ser para pior.
O outro motivo para que as pessoas sintam arrepios só de pensar na ideia de ficar só deriva do que isso significava até há algumas décadas, quando estar só era indício de incompetência, de não ter despertado o interesse de ninguém com o objetivo de estabelecer um elo conjugal. As mulheres eram chamadas de “solteironas” e os homens eram objeto de dúvidas acerca de sua virilidade. Esses, entre outros, eram estigmas próprios dos que ficavam sozinhos. É fato que eram poucos os que optavam voluntariamente por esse estado; e eles mesmos achavam que o fato de não ter um parceiro era indício de alguma incompetência.
De umas poucas décadas para cá, tudo mudou. O número de pessoas que se casa e se divorcia é muito grande e em muitas das grandes cidades do mundo, o número de pessoas que vivem sozinhas chega a 50% da população. Em São Paulo esse número é de mais de 15% e todos sabem que o tipo de habitação que mais se constrói e vende hoje são imóveis pequenos e centrais, próprios para quem quer viver só.
Hoje não existem estigmas que marcam os que estão sós, apesar da maior parte das mulheres ainda prefere ser divorciada do que solteira (ao menos houve alguém que as quis como esposa!). As pessoas frequentam as festas desacompanhadas sem constrangimento, viajam em companhia de amigos ou sozinhas sem ressentimentos, vão ao cinema e se entretêm com facilidade em casa com os múltiplos equipamentos eletrônicos que fomos capazes de inventar.
Os homens, antigamente muito pouco competentes para viverem sozinhos, hoje sabem se virar muito bem na cozinha – é fato que o microondas mudou totalmente a qualidade de vida de muita gente – e não se sentem mal por ir ao supermercado ou cuidar da própria roupa. As mudanças são dramáticas e aconteceram ao longo de muito poucas décadas, de modo que não espanta que muita gente ainda não consiga ver a condição de solidão como algo alegre e eventualmente muito mais gratificante do que o convívio, um tanto forçado, com criaturas com as quais não temos muita afinidade.
A grande questão é: dada a extraordinária melhora da qualidade de vida das pessoas solteiras, livres inclusive para terem prazeres eróticos sem as limitações próprias dos elos sentimentais, o casamento tenderá a desaparecer? Poderá essa instituição milenar competir em termos de geração de felicidade com a adorável vida que levam os solteiros?
Penso que o casamento, na versão que tem ocorrido ao longo dos últimos 100 anos, está com os dias contados. Acho que a ideia de complementos, de que um terá que ser a tampa e o outro a panela, de que um terá que ter as propriedades que faltam ao outro, é algo que não resiste ao crescente prazer que a vida individual vem nos proporcionando. Ou seja, a quantidade de concessões que as pessoas estão dispostas a fazer está diminuindo não só por força de um amadurecimento emocional maior como principalmente porque elas se deleitam cada vez mais facilmente com a vida sozinhas. Quem vive bem sozinho não se dispõe a fazer grandes concessões para viver a dois.
Vivemos uma transição, substanciada pelos ditos populares: deixamos de lado a metáfora da “tampa e a panela” e agora falamos em “almas gêmeas”. Isso pressupõe maiores afinidades, semelhanças de caráter, gostos e interesses. Afinidades maiores tornam o convívio mais fácil, com menos concessões e de certa forma, determinam um estilo de vida quase igual ao que se obtém vivendo sozinho. Ou seja, o convívio entre pessoas afins determina a possibilidade de uma síntese, de uma aproximação entre a qualidade de vida dos casais e dos que vivem sozinhos.
Assim, acho que chegaremos a um mundo novo, onde os casamentos existirão sim, mas serão muito mais respeitosos da individualidade das pessoas. É como se a qualidade de vida das pessoas solteiras se transformasse em nota de corte: os casamentos que forem de qualidade inferior à vida dos solitários tenderá a desaparecer; sobreviverão os que produzirem uma qualidade de vida melhor ainda!
Fonte: FLÁVIO GIKOVATE 
Obs: - Acho que o corte que Gikovate faz entre o passado e o presente é muito estreito e excludente. Ainda existem muitos elementos desse passado ao qual ele se refere no presente. No mais, é isso aí.