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domingo, 23 de agosto de 2015

Parem de falar mal da solidão

O indivíduo é expulso de si próprio desde a mais tenra infância. Todo o investimento educacional é feito no sentido de nos tornar um sucesso de convivência social. Alega-se que só quem tem bom relacionamento social pode ser feliz. Nunca vi estupidez mais crua e revoltante em toda a  minha vida.
Muito ao contrário, quem é um sucesso de convivência social é mais propenso à infelicidade. Para que sejamos populares e bem quistos somos obrigados a mentir e ser hipócritas. Mentira e hipocrisia, a despeito das vozes dissonantes, não combina com felicidade. Está  quase todo mundo muito enganado.
A educação estimula a mentira, a dissimulação e o ardil como armas de defesa na guerra social. A educação tradicional é uma bomba atômica lançada sobre a possibilidade de ser feliz. A felicidade não é um encontro com os outros; a felicidade é um encontro consigo próprio.
A premissa e a perspectiva geográfica estão dramáticamente erradas. Não é lá fora. Não é com o  Google Earth que encontramos a ambicionada felicidade. Não é mesmo. Não é viajando o tempo todo  como fugitivos de nós próprios que alcançaremos esse bem-estar geral chamado felicidade. 
A criança deve ser encorajada pelos pais e educadores a um contato com ela mesma e não exclusivamente com os outros. Muito poucos são estimulados à introspecção e à reflexão. A sociedade abomina a solidão em favor da improbabilíssima festa social. O que mais há no grupo humano são conflitos expostos ou inconfessos.
Não estou propondo viver nos limbos do pacífico, nem a imitação de Robinson Crusoe; defendo a solidão contra a injúria da maioria pois sei muito bem que a vida social como único e grande objetivo, é fonte inesgotável de stress, aumento da pressão arterial e morte precoce.
A sociedade difama a solidão porque quase tudo é feito em nome do grupo. Essa onda ridícula de auto-estima não me convence. Fala-se em auto-estima como um mais um meio de agradar à maioria. Hoje, ter auto-estima significa ter uma bela estampa, investir em cirurgias plásticas e artíficios de beleza exterior. Confunde-se amor próprio com a sedução do outro porque todos são induzidos a acreditar que a felicidade vem de fora.
Parem de caluniar a solidão. A solidão é o estado mais adequado e conveniente para a espécie humana. O bando é apenas uma intercorrência compulsória que oferece resultados muito duvidosos.
Faça uma viagem heterodoxa e volte para onde você nunca deveria ter saído; volte pra si mesmo.


4 comentários:

  1. Epicuro e os epicuristas falavam em um desvio, chamado clinamen, como o real sentido da liberdade. Essa viagem heterodoxa é um desvio. A Natureza seria determinada por infinitos átomos. Repentinamente um átomo se desvia do seu trajeto original... é um átomo livre. Somos muitos. Há populações inumanas dentro de nós: o homem também é inumano. Assim como a fuga do social fortalece, a fuga da forma-homem engrandece porque diferencia. Quero dizer: não nos deixemos reduzir por nossa humanidade; pela sociedade, pelo trabalho, pelo dinheiro etc. Nietzsche afirmava a necessidade de transvalorar os valores, ou seja, uma vida independente, senhora de si mesma, criadora.

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  2. Ótimo texto ! A solidão muitas das vezes , torna-se necessária para que possamos refletir sobre o mosso modo de agir , pensar e ser .

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