Senadora francesa quer proibir hipersexualização de crianças
Projeto é contrário a concursos de misses mirins e propagandas com menores de 16 anos
Uma das polêmicas fotos da super produção da ‘Vogue’ francesa
- Reprodução/Vogue
Mais de um
ano após a edição francesa da revista “Vogue” dividir opiniões ao publicar um
ensaio sensual com crianças em poses provocantes, a senadora parisiense Chantal
Jouanno (do partido União por um Movimento Popular) reacendeu a questão da hipersexualização
infantil ao publicar nesta semana um denso relatório com sugestões de medidas
para frear o problema.
No relatório de
mais de 160 páginas, a ex-ministra dos Esportes da França recomenda o fim da
presença de crianças menores que 16 anos em propagandas de moda. Ela também
quer que os concursos de beleza para meninas sejam proibidos. O documento
elaborado pela senadora não tem valor legal. Contudo, uma articulação política
já começou a ser desenhada para transformar suas ideias em leis. Uma das
primeiras etapas é a elaboração de um texto por representantes dos setores
econômicos envolvidos, famílias, juristas, autoridades e representantes
educacionais, o que deve acontecer em breve.
Os pais dizem
que as filhas que participam dos concursos de mini miss querem brincar de ser
princesa por um dia. Eles não entendem que essa competição pode ser muito
prejudicial, levando a consequências como a anorexia, que aumenta cada vez mais
entre as meninas da França.
A senadora, aliada
do presidente Nicolas Sarkozy, argumenta que o abuso de roupas sensuais e
atitudes sexuais pode afetar as crianças de maneira irreversível, provocando
futuros danos psicológicos. Para ela, a grande vilã é a indústria da moda, que
bombardeia as crianças e as incentiva a se comportar como mini adultos. Os pais
que permitem esses hábitos também devem rever a maneira como lidam com as
filhas, principais alvos desse fenômeno, defende Chantal.
Os pais não
conhecem os efeitos psicológicos que esses eventos terão no futuro das crianças
e, por isso, não sabem porque dizer “não” é realmente importante quando suas
filhas querem usar maquiagem. As crianças têm que entender que todas as imagens
que elas veem em revistas, filmes, clipes de música são construídas e tratadas,
não são imagens reais — afirmou Chantal ao GLOBO, por telefone. — Os pais
precisam entender que as cicatrizes psicológicas de uma criança pequena querer
ser a mais bonita podem ser muito perigosas.
Para combater essa
vontade de se destacar cada vez mais, Chantal sugere também a implementação de
regras comuns para as roupas usadas nos colégios franceses.
Não se trata de
uniforme, mas sim de regras para todos. Muitos países têm uniformes e mesmo
assim têm problemas com a hiper sexualização. Os uniformes podem ser úteis
apenas para alguns aspectos, como, por exemplo, evitar que as crianças disputem
quem tem a roupa mais cara. Os professores também teriam que ensinar sobre as
fotos de publicidade: como são feitas, por que são falsas, além de melhorar a
educação sobre sexualidade e o respeito entre meninos e meninas.
A igualdade entre
gênero, aliás, é um dos pilares de seus argumentos na luta contra a
sexualização precoce. Ela acredita que o uso da sensualidade torna as meninas
objeto de desejo sexual, o que além de incentivar a pedofilia, retrocede quanto
às relações estabelecidas entre gêneros.
Acho que a
maneira de apresentar as meninas como apenas bonitas, ensinando como ser uma
estrela, como se vestir, como se maquiar, como agir, não passa a mensagem que
queremos sobre a igualdade. O mais importante é que as crianças se tornem
inteligentes, fortes e se tornem, como dizer, aventureiras. Não que se tornem
apenas garotas bonitas — disse Chantal Jouanno, defendendo que o crescimento
intelectual é o principal aspecto a ser trabalhado em crianças com menos de 12
anos.
Ensaio sensual
resultou na saída de diretora da ‘Vogue’
As fotos de três
meninas com cerca de 6 anos de idade na edição de dezembro de 2010 da “Vogue”
francesa causou rebuliço. Com roupas de marcas famosas, sapatos de saltos
altíssimos, penteados, muita maquiagem e fazendo cara de femme fatale,
as garotas deixaram a posição de crianças e posaram como mulherões.
Por causa da
repercussão negativa do ensaio, a diretora da “Vogue”, Carine Roitfeld, deixou
o cargo que ocupava há mais de uma década. Não houve tipo algum de punição à
publicação.
O pior castigo
para a “Vogue” foi a má repercussão que o ensaio gerou. Além disso, as maiores
vítimas são as modelos infantis que fizeram as fotos. Elas podem ter problemas
psicológicos graves, porque foram usadas por todos como exemplo da hiper
sexualização.
Novamente, Chantal
aponta a condescendência dos pais como um agravante da situação:
— É uma vergonha.
As mães estavam na sessão. Acho que os pais não se deram conta do problema na
hora, do quão chocante e provocador era, acharam que estava bonito. Só se
tocaram do que tinham feito com as filhas depois da repercussão.
Fonte: O Globo