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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O QUE EU VI E OUVI

O CORPO ELOQUENTE


E foi assim que eu ouvi a voz do corpo. Sentada à minha frente no fúnebre vagão chinês entre a Cinelândia e Botafogo, estava uma pessoa de óculos imensos e olhos pequenos falando para mim e para quantos quisessem escutar a canção do seu corpo.
Por detrás dos óculos, os olhos brilhavam tímidos e no volume máximo cantavam uma belíssima canção. Era suave como o piano de Chopin ou Débussy. A melodia era azul claro e ecoava ondulante sobre o cume de montanhas enevoadas.
O corpo era frágil e suave. Cobria-o uma indumentária fina e  bege arrematada por um echarpe azul marinho. O corpo falava-me com classe e afabilidade.
A letra da canção era de criança. Tratava da  perplexidade e da vulnerabilidade diante do mundo. O refrão era: como é que eu faço? como é que eu faço? Era uma música linda que já estava composta e se recompunha quando ela olhava para mim.
Poucos corpos cantavam como aquele. Eu não me apaixono mais com facilidade, mas adorei o recital.
Estação Botafogo. Estava na hora de sair. Acabou o espetáculo.

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